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Crescem denúncias de assédio moral no país
As 337 investigações abertas neste ano são mais do que o dobro das instauradas em 2005; empresas acusadas negam
Há casos -48 neste ano-
em que Ministério Público
do Trabalho firma acordo
com a empresa para que a
conduta errada seja sanada
CLAUDIA ROLLI
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A pressão das empresas para
superar metas e ser competitivas transforma cada vez mais o
local de trabalho em ambiente
de "terror psicológico". Com
mais consciência de seus direitos, cresce o número de trabalhadores que denunciam serem
vítimas de assédio moral.
Situações antes consideradas
"normais" pelos chefes e até
mesmo pelos funcionários
-gritos, humilhações e constrangimentos (como as revistas
íntimas)- se transformam em
processos trabalhistas.
Só neste ano o Ministério Público do Trabalho abriu 337 investigações (mais do que o dobro das instauradas em 2005)
para apurar casos de assédio
denunciados em empresas dos
setores têxtil, cosmético, farmacêutico, químico, metalúrgico, financeiro e estatal.
Em 15 regionais do MPT no
país, 48 empresas firmaram
termos de ajustamento de conduta com o compromisso de
corrigir atitudes que se caracterizaram como assédio moral.
No ano passado, 32 termos foram assinados pelas empresas.
Nos últimos 11 meses, dez
ações civis públicas foram encaminhadas pelos procuradores do Trabalho à Justiça trabalhista de São Paulo, Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do
Sul para pedir reparação por
danos causados a trabalhadores assediados moralmente. As
empresas acusadas recorrem.
A mais recente delas é contra
o banco Bradesco. Após dois
anos de investigação, em que
foram recolhidos depoimentos
de 50 funcionários de agências
de São Paulo, quatro procuradores concluíram que os portadores de LER (Lesões por Esforços Repetitivos) foram discriminados, submetidos a situações de constrangimento e
pressionados a pedir demissão.
O MPT de São Paulo ingressou com ação na 82ª Vara do
Trabalho no final de novembro
para pedir indenização de R$
31,32 milhões pelos danos aos
direitos coletivos dos empregados -o valor equivale a 1% do
lucro líquido da instituição no
primeiro semestre deste ano. O
dinheiro irá para o FAT (Fundo
de Amparo ao Trabalhador).
"O assédio se caracteriza na
medida em que houve condutas
abusivas repetitivas, manifestadas por comportamentos,
gestos, palavras e atos que ferem a dignidade do trabalhador. As testemunhas que nos
prestaram depoimento estão
doentes, com atestados médicos e em tratamento psicológico", diz a procuradora Adélia
Augusto Domingues, uma das
autoras da ação contra o banco.
Levantamento feito pela ministra Maria Cristina Goyen
Peduzzi, do Tribunal Superior
do Trabalho, mostra que 600
recursos referentes a processos
de assédio moral foram julgados no ano passado pelos Tribunais Regionais do Trabalho
no país. Em 2004, foram 300.
"Há um aumento de recursos
que chegam ao TST. O número
é maior porque o trabalhador
está mais consciente e reage a
situações de violência psicológica a que é submetido."
A AmBev, grupo dono das
marcas Skol, Brahma e Antarctica, recorreu ao TST após ser
condenada em agosto pelo TRT
do Rio Grande do Norte a pagar
R$ 1 milhão de indenização por
assédio moral coletivo. A empresa é acusada de assediar moralmente empregados que não
atingiam cotas de vendas exigidas pelos supervisores em Natal. "Como não cumpri as metas, amarraram um bode em
minha mesa. "Toma que é teu
presente", disse o supervisor",
diz F.L., 28, ex-vendedor.
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