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VINICIUS TORRES FREIRE
Não vai dar para todo mundo
Semana da boquinha pública revela paixão nacional pelo Estado, que vai acabar por sufocar trabalho e produção
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A CULTURA brasileira brilhou
nesta semana. A cultura da
boquinha estatal. Fazia tempo que a gente não ouvia, em tão
pouco tempo, tanto cantar de gafanhoto, tanto cricri de corporações
ávidas de dentadas adicionais no dinheirinho público.
Não foi tanto o tamanho do desfalque que impressionou, o qual não foi
pequeno, porém: digamos quase
meio Bolsa Família, se consideradas
as mordidas de deputado, senador e
efeitos "cascata", de promotor, juiz,
do "pessoal da cultura" e dos "amigos do esporte" de levar o doce do
povaréu. Mais contagiante foi o torpor de repulsa entediada causado
pela exibição caricata e concentrada
de cara-de-pau, todo mundo rasgando os trapos da fantasia "republicana" para meter a mão no cofre.
Diante de despesas como salários
de servidores, INSS e juros, as avançadas de juízes, promotores, parlamentares, culturistas, esportistas
etc, parecem café pequeno. Mas
imagine a miríade de corporações
que agem em surdina, de subsídios
empresariais indevidos e inúteis que
virão no pacotão do Lula, de empresas de publicidade que mamam a
marquetagem do governo, as redes
de ONGs a sugar milhares de caraminguás mal explicados. Imagine
então que o PMDB ainda nem desembarcou no governo.
"Não vai dar para todo mundo" ou
"tem, mas acabou". Como nas piadas, o mesmo pode-se dizer de fundos públicos e da capacidade social
de criar riqueza -de produzir.
Aos subsídios para ricos somam-se os gastos agora insustentáveis
com o salário mínimo (e, por tabela,
com a Previdência e com os salários
nos governos). O mínimo e similares
ao menos acabam na mão de pobres,
mas cada vez mais se tornam mero
método de redistribuir pobreza.
Não há boas medidas da participação do trabalho no produto do país,
tão preocupados que ficamos com
estatísticas financeiras. Mas é significativo que a renda do trabalho tenha caído 13% nos últimos dez anos.
O PIB per capita subiu, embora míseros 7%, no período. A renda dos
aposentados no INSS subiu 100%.
Nessa década, o estoque de ativos
de fundos de investimento e de pensão passou de 20% do PIB para 60%,
a maior parte aplicada em juros da
dívida do governo, que foi de 30%
para 50% do PIB. São rendas que engordam a conta de ricos. O mundo
do trabalho fica para trás.
A elite ávida ou saqueadora, o subsídio para ricos, o gasto insustentável, a falta de investimento, a política
econômica manca, pensa para a estabilização, tudo parece conspirar
para fazer do Brasil uma baleia encalhada. Para piorar, chegamos à democracia com a pior desigualdade
de renda do mundo (ignore-se a
África). Assim, o distributivismo das
"Bolsas", em parte inevitável, tornou-se traço estrutural da política.
Governo e sociedade inflam o Estado, que tenderá a sufocar a sociedade. Os pobres primeiro.
vinit@uol.com.br
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