São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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China e Brasil se preparam para disputar preço do ferro

Asiáticos desejam queda de até 10% na cotação do minério de ferro para o próximo ano; Vale quer aumento de pelo menos 20%

KEVIN MORRISON
DO "FINANCIAL TIMES"

As siderúrgicas mundiais terão de enfrentar algumas semanas de ansiedade enquanto esperam o resultado das negociações anuais de preços, que determinarão quanto vai custar o minério de ferro que as abastecerá a partir de abril de 2007. Este ano marcou a primeira ocasião em que a China assumiu a liderança das negociações em nome do setor siderúrgico, um papel anteriormente exercido pelo Japão. Trata-se de uma transição natural, já que a China agora superou o Japão e se tornou a maior produtora mundial de aço e a maior importadora mundial de minério de ferro.
A China pressionou pela liderança nas negociações referentes ao ano contratual que acaba em março de 2007 -mas as táticas que adotou foram consideradas muito agressivas.
Ela iniciou o processo insistindo em que suas siderúrgicas não pagariam mais pelo minério de ferro. Mas terminou por capitular e acompanhou o resto do setor, acatando um acordo que previa aumento de 19% no preço da matéria-prima.
Executivos do setor siderúrgico chinês afirmaram durante a conferência sobre matéria-prima siderúrgica, realizada em Pequim há duas semanas, que as negociações seriam diferentes neste ano. Para começar, as posições iniciais das duas partes não estão tão distantes como em 2005.
Liderados pela Baosteel, a maior siderúrgica do país, e pelas "traders" de metais Sinosteel e Minmetals, os chineses desejam uma queda de preço de entre 5% e 10%. Já a brasileira Companhia Vale do Rio Doce, maior produtora mundial de minério de ferro, quer aumento de entre 20% e 25%.
Um ano atrás, a China almejava um corte de 20% nos preços do minério de ferro, enquanto a Vale propunha aumento de 40%. Mas a distância entre as posições de negociação de ambas as partes continua a ser significativa, e é improvável que as negociações sejam concluídas antes do final do ano.
Qualquer que seja o acordo sobre preços que venha a ser alcançado, a tendência é de que o setor o aceite, quer se trate de siderúrgicas japonesas e européias ou de produtores australianos de minério de ferro.
Para Wiktor Bielski, diretor-executivo de mineração no Morgan Stanley, a estimativa quanto à demanda por aço era o fator crucial para a determinação dos preços.
Mas a oferta de minério de ferro também influencia a equação. "As indicações são de que os mercados de minério de ferro continuarão pouco elásticos no ano que vem", o que conduzirá a um novo aumento no preço, segundo Bielski.
Jim Lennon, diretor-executivo de pesquisa de commodities no Macquarie Bank, disse que os preços atuais do minério de ferro no mercado spot -e uma nova elevação vigorosa na produção chinesa de aço no ano que vem- sugeriam que os preços do minério de ferro devem subir uma vez mais. "Acredito que haverá aperto no mercado de minério de ferro até 2010", acrescentou.
Os analistas prevêem alta de preços de cerca de 10% em 2007/8, abaixo da elevação deste ano e bem abaixo do aumento de 71,5% obtido em 2004/5.
Se os preços aumentarem da maneira esperada, será o quinto ano consecutivo de alta para o minério de ferro, uma seqüência positiva que não acontece há mais de três décadas.
Bielski disse que o crescimento na produção chinesa de aço deve cair dos 27% de 2005 para 20% neste ano e para 10% em 2007, quando ela chegaria a 470 milhões de toneladas.
Com o crescimento da produção, a China passou a ser, nos últimos dois anos, a maior exportadora mundial do produto.
Neste ano, a projeção é que a China exportará mais de 40 milhões de toneladas de aço. Porém, o total pode cair a 30 milhões de toneladas em 2007, segundo executivos do setor siderúrgico local, porque a demanda interna superará o ritmo de crescimento da produção.
Uma produção maior de aço significa uma demanda maior por minério de ferro importado, ainda que a produção interna da matéria-prima tenha crescido significativamente na China. O país deve produzir 560 milhões de toneladas de minério de ferro este ano. Para 2007, deverão ser produzidas 680 milhões de toneladas.
A previsão é que a China importará 400 milhões de toneladas de minério de ferro em 2007, ante 330 milhões de toneladas em 2006. A maior parte do minério adicional deve vir do Brasil.
Isso terá efeitos colaterais sobre os mercados de fretes, porque os navios terão tempos de viagem mais longos, o que reduzirá a disponibilidade de embarcações em outras partes do mundo, em um mercado que já enfrenta certo aperto.
Com isso, as siderúrgicas chinesas não só enfrentarão preços mais altos para o minério de ferro mas preços mais altos de transporte.


Tradução de PAULO MIGLIACCI

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