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China e Brasil se preparam para disputar preço do ferro
Asiáticos desejam queda de até 10% na cotação do minério de ferro para o próximo ano; Vale quer aumento de pelo menos 20%
KEVIN MORRISON
DO "FINANCIAL TIMES"
As siderúrgicas mundiais terão de enfrentar algumas semanas de ansiedade enquanto esperam o resultado das negociações anuais de preços, que determinarão quanto vai custar o
minério de ferro que as abastecerá a partir de abril de 2007.
Este ano marcou a primeira
ocasião em que a China assumiu a liderança das negociações em nome do setor siderúrgico, um papel anteriormente
exercido pelo Japão.
Trata-se de uma transição
natural, já que a China agora
superou o Japão e se tornou a
maior produtora mundial de
aço e a maior importadora
mundial de minério de ferro.
A China pressionou pela liderança nas negociações referentes ao ano contratual que acaba em março de 2007 -mas as táticas que adotou foram consideradas muito agressivas.
Ela iniciou o processo insistindo em que suas siderúrgicas
não pagariam mais pelo minério de ferro. Mas terminou por
capitular e acompanhou o resto
do setor, acatando um acordo
que previa aumento de 19% no
preço da matéria-prima.
Executivos do setor siderúrgico chinês afirmaram durante
a conferência sobre matéria-prima siderúrgica, realizada
em Pequim há duas semanas,
que as negociações seriam diferentes neste ano. Para começar, as posições iniciais das duas partes não estão tão distantes como em 2005.
Liderados pela Baosteel, a
maior siderúrgica do país, e pelas "traders" de metais Sinosteel e Minmetals, os chineses desejam uma queda de preço de
entre 5% e 10%. Já a brasileira
Companhia Vale do Rio Doce,
maior produtora mundial de
minério de ferro, quer aumento
de entre 20% e 25%.
Um ano atrás, a China almejava um corte de 20% nos preços do minério de ferro, enquanto a Vale propunha aumento de 40%.
Mas a distância entre as posições de negociação de ambas as
partes continua a ser significativa, e é improvável que as negociações sejam concluídas antes do final do ano.
Qualquer que seja o acordo
sobre preços que venha a ser alcançado, a tendência é de que o
setor o aceite, quer se trate de
siderúrgicas japonesas e européias ou de produtores australianos de minério de ferro.
Para Wiktor Bielski, diretor-executivo de mineração no
Morgan Stanley, a estimativa
quanto à demanda por aço era o
fator crucial para a determinação dos preços.
Mas a oferta de minério de
ferro também influencia a
equação. "As indicações são de
que os mercados de minério de
ferro continuarão pouco elásticos no ano que vem", o que conduzirá a um novo aumento no preço, segundo Bielski.
Jim Lennon, diretor-executivo de pesquisa de commodities no Macquarie Bank, disse que os preços atuais do minério
de ferro no mercado spot -e
uma nova elevação vigorosa na
produção chinesa de aço no ano
que vem- sugeriam que os preços do minério de ferro devem
subir uma vez mais. "Acredito
que haverá aperto no mercado
de minério de ferro até 2010",
acrescentou.
Os analistas prevêem alta de
preços de cerca de 10% em
2007/8, abaixo da elevação deste ano e bem abaixo do aumento de 71,5% obtido em 2004/5.
Se os preços aumentarem da
maneira esperada, será o quinto ano consecutivo de alta para
o minério de ferro, uma seqüência positiva que não acontece há mais de três décadas.
Bielski disse que o crescimento na produção chinesa de
aço deve cair dos 27% de 2005
para 20% neste ano e para 10%
em 2007, quando ela chegaria a
470 milhões de toneladas.
Com o crescimento da produção, a China passou a ser, nos
últimos dois anos, a maior exportadora mundial do produto.
Neste ano, a projeção é que a
China exportará mais de 40 milhões de toneladas de aço. Porém, o total pode cair a 30 milhões de toneladas em 2007, segundo executivos do setor siderúrgico local, porque a demanda interna superará o ritmo de
crescimento da produção.
Uma produção maior de aço
significa uma demanda maior
por minério de ferro importado, ainda que a produção interna da matéria-prima tenha crescido significativamente na
China. O país deve produzir
560 milhões de toneladas de
minério de ferro este ano. Para
2007, deverão ser produzidas
680 milhões de toneladas.
A previsão é que a China importará 400 milhões de toneladas de minério de ferro em 2007, ante 330 milhões de toneladas em 2006. A maior parte do minério adicional deve vir
do Brasil.
Isso terá efeitos colaterais
sobre os mercados de fretes,
porque os navios terão tempos
de viagem mais longos, o que
reduzirá a disponibilidade de
embarcações em outras partes
do mundo, em um mercado que
já enfrenta certo aperto.
Com isso, as siderúrgicas chinesas não só enfrentarão preços mais altos para o minério de ferro mas preços mais altos
de transporte.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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