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Indústrias de países ricos reaprendem a competir
Japão, EUA e Europa ocidental concentram 75% da produção mundial deste ano
Unidades de nações que
têm salários mais altos
concentram tecnologia e
usam produtos feitos com
custo menor como insumo
Thierry Roge - 2.dez.06/Reuters
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Trabalhadores da Volkswagen da Bélgica durante protesto |
PETER MARSH
DO "FINANCIAL TIMES"
Se as previsões dos pessimistas merecem crédito, virtualmente toda a produção do
mundo está se transferindo para países de baixo custo como a
China, em um processo que
tornará as fábricas nos países
ricos tão raras quanto gramofones ou casacas.
Mas a realidade é diferente. É
certo que, ao longo dos últimos
dez anos, muitas empresas
transferiram parcela considerável de sua produção para países menos desenvolvidos, mas
a Europa Ocidental, a América
do Norte e o Japão continuarão
respondendo neste ano por
cerca de 75% da produção industrial do planeta.
A fatia da China no bolo da
manufatura é de cerca de 9%, se
bem que isso represente considerável crescimento ante os 4%
de participação que o país detinha uma década atrás.
Além disso, uma extensa série de entrevistas conduzidas
pelo "Financial Times" constatou que os principais executivos de muitas empresas do setor industrial demonstram notável otimismo quanto à sua capacidade de operar fábricas de
maneira econômica nos países
de custos mais elevados, muitas
vezes em arranjos que incluem
também operações de produção em regiões de menor custo.
Está se tornando cada vez
mais claro que ampla gama de
fábricas dos países de salários
mais altos está aproveitando os
fatores positivos que eles oferecem a fim de compensar a carga
de custos mais elevada. Entre
os fatores estão a capacidade de
desenvolver produtos usando
tecnologias sofisticadas e a de
fabricar bens altamente "configurados", adaptados de maneira precisa às necessidades dos
consumidores locais.
"Cada vez mais empresas do
setor industrial estão começando a perceber que transferir
toda a produção para a China
não representa uma panacéia",
diz Bob Sternfels, especialista
em produção industrial da consultoria McKinsey.
Um panorama econômico
em termos gerais benigno como resultado das melhoras na
economia da Europa e do Japão, bem como do firme crescimento de nações emergentes
como China e Índia, oferece
uma plataforma firme para reforçar o papel da indústria nos
países ricos.
"Minha impressão é que
muitas empresas sediadas em
regiões de custos elevados mais
ou menos chegaram ao limite
que pretendiam atingir em termos de transferência, em razão
dos custos, de empregos à China e outras economias emergentes", diz David Hensley, diretor de coordenação econômica mundial do banco de investimento JP Morgan.
"O bolo a ser dividido [em
termos de demanda por bens
manufaturados] cresceu, o que
deixa espaço para produção
tanto em países de alto custo
como nos de baixo", afirma.
Depois de uma recessão no
setor industrial em 2001, quando a produção das fábricas
mundiais caiu 2,5%, o crescimento médio da produção industrial mundial vem sendo de 3,6% ao ano desde 2002.
Como parte desse processo,
muitas empresas industriais
operando em regiões de salários elevados começam a demonstrar claros sinais de vida, ainda que os lucros de muitas
delas continuem relativamente
baixos. Existe também uma
sensação entre as empresas
dessas regiões do mundo de
que investir no mercado de origem pode representar desgaste
para sua posição financeira.
Mas recentemente os grupos
industriais começaram a explorar uma via intermediária. No
setor siderúrgico, por exemplo,
a corrida que domina o mercado atualmente não envolve adquirir capacidade de produção em países em desenvolvimento
que ofereçam baixos custos,
mas sim um esforço dos produtores de baixo custo para adquirir usinas sofisticadas na Europa e nos EUA, capazes de fazer
produtos especializados e de alto valor agregado.
A tendência começou a se
afirmar de maneira mais vigorosa com a tomada de controle
da Arcelor, que tem sede em
Luxemburgo, pela indiana Mittal Steel, em uma transação
avaliada em US$ 35,5 bilhões.
No mês passado, o grupo Evraz,
segundo maior do setor siderúrgico russo, pagou US$ 2,3
bilhões pela americana Oregon
Steel, que atende a um nicho
específico de mercado com
produtos dirigidos a setores como ferrovias e construção civil.
A disputa entre a também indiana Tata Steel e a CSN, do
Brasil, pelo controle do grupo
siderúrgico anglo-holandês
Corus se enquadra na mesma
categoria. A oferta de US$ 9,6
bilhões apresentada na semana
passada pela companhia brasileira conquistou o apoio do
conselho da Corus, que só tem
usinas instaladas em países de
alto custo e se orgulha das conexões que mantêm com os setores automobilístico e de construção civil.
No caso da Mittal, o aço barato e semiprocessado feito em
países de baixo custo é enviado
a usinas mais sofisticadas para
conversão em produtos de ponta como aço para revestimento
resistente à corrosão, usado pela indústria automobilística.
Uma variação do tema é que
uma fábrica instalada em país
de alto custo empregue unidades de produção instaladas em
outros locais, quer geridas pela
empresa, quer por fornecedores terceirizados, como fonte
de componentes. Dessa maneira, os preços dos componentes
ocasionalmente podem ser reduzidos em entre 30% e 50%
em relação ao seu custo caso
casso fossem produzidos no
país de origem da empresa.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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