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Fim da CPMF eleva ganho de curto prazo
Sem a contribuição, também ficam mais atrativas as aplicações em Bolsa que tenham expectativa de retorno inferior a 1%
Incidência do tributo levava 20 dias do rendimento da caderneta de poupança e metade dos ganhos de fundos DI e CDBs em 30 dias
TONI SCIARRETTA
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Com o fim da cobrança da
CPMF, os investidores brasileiros ganharão a partir de janeiro
um estímulo extra para aplicarem e movimentarem com
mais liberdade seus recursos.
Mesmo que o 0,38% cobrado de
CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) não pareça muita
coisa, essa alíquota acabava por
engolir uma parcela da rentabilidade oferecida pelas diferentes aplicações, especialmente
se o investidor fizesse saques
no curto prazo.
A CPMF, por exemplo, chega
a levar 20 dias do rendimento
mensal da caderneta de poupança e mais da metade do retorno dos fundos DI e dos
CDBs em 30 dias.
A pedido da Folha, Ricardo
Humberto Rocha, do Laboratório de Finanças da FIA, fez
uma simulação de investimento por um mês de R$ 1.000 com
e sem a CPMF, com base no
rendimento conferido pela
poupança, CDB (Certificado de
Depósito Bancário) e os fundos
DI no mês de novembro.
Sem a CPMF, os R$ 1.000 colocados na poupança teriam
rendido R$ 5,60 líquidos
-mais de três vezes os R$ 1,70
obtidos com a contribuição. No
caso dos fundos DI e do CDB, o
rendimento de R$ 1.000 sem a
CPMF teria pulado de R$ 2,54
para R$ 6,20 e de R$ 2,45 para
R$ 6,35, respectivamente.
"Você vê que a CPMF comeu
quase todo o rendimento. Esse
impacto é sempre no primeiro
investimento. Nos demais, a
conta investimento já não tinha a CPMF. A mudança é
muito em razão do prazo. Em
prazos mais curtos, o impacto é
maior", disse Rocha.
Ações
Sem a CPMF, passam a ficar
interessantes as operações na
Bolsa com expectativa de retorno de menos de 1%. Com a cobrança da contribuição, só
compensava trazer dinheiro
novo para as ações se o rendimento auferido cobrisse
CPMF, mais corretagem e
emolumentos, que somam pelo
menos 0,7% da transação.
Para Gilberto Biojone, da Ancor (Associação Nacional das
Corretoras), a CPMF custa
mais para o investidor do que a
maioria das taxas de corretagem e emolumentos envolvidos na negociação de ações.
"[O fim da] CPMF é uma boa
notícia para todo mundo.
Quem tem dinheiro fora da
conta investimento, vai poder
trazer sem restrição alguma. É
mais um estímulo que ajuda a
destravar o dinheiro", disse.
O diretor-geral do INI (Instituto Nacional de Investidores),
Théo Rodrigues, afirma que o
maior impacto será para o "especulador", que pensa o investimento em curto prazo.
"Não é verdade que o investidor entrará ganhando 0,38% [a
partir de janeiro]. Ele deixará
de perder 0,38%. Se for um investidor de longo prazo, 0,38%
não vai impactar. Se for de curto prazo, tem de fazer conta.
Faz mais sentido na economia
macro, para quem vai comprar
um carro ou fazer uma grande
operação financeira. Ninguém
vai tomar decisão de investimento com base na CPMF",
afirma Rodrigues.
Conta investimento
"A queda da CPMF traz vantagens ao investidor, mas apenas para o dinheiro novo. De fato é um custo menor, mas não o
suficiente para animar o mercado", diz o administrador de
investimentos Fábio Colombo.
Quem tinha aberto uma conta investimento nos últimos
anos estava isento de pagamento de CPMF -ao menos para os
recursos que já tinha aplicado.
E essa derrota do governo acabou deixando a sensação de que
a conta investimento perdeu
sua razão de existir. "Se isso [o
fim da CPMF] vier para ficar, a
conta investimento não terá
mais sentido", diz Colombo.
A conta investimento foi
criada pelo governo em 2004
com a intenção de permitir que
os investidores trocassem de
aplicações sem ter de pagar a
CPMF. O tributo passou a ser
cobrado apenas para novos recursos que chegavam à conta
investimento. O que já estava
aplicado podia ser movimentado, entre fundos e instituições
financeiras diferentes, sem a
cobrança da contribuição.
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