São Paulo, segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

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Fim da CPMF eleva ganho de curto prazo

Sem a contribuição, também ficam mais atrativas as aplicações em Bolsa que tenham expectativa de retorno inferior a 1%

Incidência do tributo levava 20 dias do rendimento da caderneta de poupança e metade dos ganhos de fundos DI e CDBs em 30 dias

TONI SCIARRETTA
FABRICIO VIEIRA

DA REPORTAGEM LOCAL

Com o fim da cobrança da CPMF, os investidores brasileiros ganharão a partir de janeiro um estímulo extra para aplicarem e movimentarem com mais liberdade seus recursos. Mesmo que o 0,38% cobrado de CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) não pareça muita coisa, essa alíquota acabava por engolir uma parcela da rentabilidade oferecida pelas diferentes aplicações, especialmente se o investidor fizesse saques no curto prazo.
A CPMF, por exemplo, chega a levar 20 dias do rendimento mensal da caderneta de poupança e mais da metade do retorno dos fundos DI e dos CDBs em 30 dias.
A pedido da Folha, Ricardo Humberto Rocha, do Laboratório de Finanças da FIA, fez uma simulação de investimento por um mês de R$ 1.000 com e sem a CPMF, com base no rendimento conferido pela poupança, CDB (Certificado de Depósito Bancário) e os fundos DI no mês de novembro.
Sem a CPMF, os R$ 1.000 colocados na poupança teriam rendido R$ 5,60 líquidos -mais de três vezes os R$ 1,70 obtidos com a contribuição. No caso dos fundos DI e do CDB, o rendimento de R$ 1.000 sem a CPMF teria pulado de R$ 2,54 para R$ 6,20 e de R$ 2,45 para R$ 6,35, respectivamente.
"Você vê que a CPMF comeu quase todo o rendimento. Esse impacto é sempre no primeiro investimento. Nos demais, a conta investimento já não tinha a CPMF. A mudança é muito em razão do prazo. Em prazos mais curtos, o impacto é maior", disse Rocha.

Ações
Sem a CPMF, passam a ficar interessantes as operações na Bolsa com expectativa de retorno de menos de 1%. Com a cobrança da contribuição, só compensava trazer dinheiro novo para as ações se o rendimento auferido cobrisse CPMF, mais corretagem e emolumentos, que somam pelo menos 0,7% da transação.
Para Gilberto Biojone, da Ancor (Associação Nacional das Corretoras), a CPMF custa mais para o investidor do que a maioria das taxas de corretagem e emolumentos envolvidos na negociação de ações.
"[O fim da] CPMF é uma boa notícia para todo mundo. Quem tem dinheiro fora da conta investimento, vai poder trazer sem restrição alguma. É mais um estímulo que ajuda a destravar o dinheiro", disse.
O diretor-geral do INI (Instituto Nacional de Investidores), Théo Rodrigues, afirma que o maior impacto será para o "especulador", que pensa o investimento em curto prazo.
"Não é verdade que o investidor entrará ganhando 0,38% [a partir de janeiro]. Ele deixará de perder 0,38%. Se for um investidor de longo prazo, 0,38% não vai impactar. Se for de curto prazo, tem de fazer conta. Faz mais sentido na economia macro, para quem vai comprar um carro ou fazer uma grande operação financeira. Ninguém vai tomar decisão de investimento com base na CPMF", afirma Rodrigues.

Conta investimento
"A queda da CPMF traz vantagens ao investidor, mas apenas para o dinheiro novo. De fato é um custo menor, mas não o suficiente para animar o mercado", diz o administrador de investimentos Fábio Colombo.
Quem tinha aberto uma conta investimento nos últimos anos estava isento de pagamento de CPMF -ao menos para os recursos que já tinha aplicado. E essa derrota do governo acabou deixando a sensação de que a conta investimento perdeu sua razão de existir. "Se isso [o fim da CPMF] vier para ficar, a conta investimento não terá mais sentido", diz Colombo.
A conta investimento foi criada pelo governo em 2004 com a intenção de permitir que os investidores trocassem de aplicações sem ter de pagar a CPMF. O tributo passou a ser cobrado apenas para novos recursos que chegavam à conta investimento. O que já estava aplicado podia ser movimentado, entre fundos e instituições financeiras diferentes, sem a cobrança da contribuição.


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