|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Grampo e protestos marcam privatizações
Processo de vendas de empresas públicas continuará sob o governo Lula com os leilões de bancos estaduais previstos para este ano
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O processo de privatização das
grandes empresas estatais, iniciado ainda na década de 80, foi intensificado nos anos 90. Ficou
marcado pelas suspeitas de interferência do governo no leilão das
empresas do Sistema Telebrás,
ocorrido em 1998.
Descobriu-se depois que um
grampo telefônico clandestino
havia captado diálogos de autoridades do governo. Entre elas estava o próprio presidente da República, à época Fernando Henrique
Cardoso (1995-2002).
Em conversa com o então presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), André Lara Resende, FHC chegou a autorizar a utilização de seu nome para pressionar um dos fundos de pensão estatais a participar de consórcios
que disputariam o leilão.
Com o então ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, a cúpula do
BNDES manobrou para que a
Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, participasse do consórcio encabeçado pelo banco Opportunity e pela
Telecom Itália.
O governo foi aparentemente
bem-sucedido, pois o grupo do
Opportunity foi formado com a
participação da Previ. Mas o plano deu errado, porque o lote que
o grupo pretendia -o da Tele
Norte Leste, que reunia 16 empresas de telefonia fixa, em 16 Estados- acabou sendo arrematado
pelo consórcio Telemar.
O governo FHC admitiu o teor
das conversas. Mas argumentou
que só interveio para aumentar o
valor do leilão. O escândalo provocou a queda de Lara Resende e
de Mendonça de Barros.
AES e Eletropaulo
Outro evento negativo das privatizações foi o calote no BNDES
que a empresa norte-americana
AES anunciou em fevereiro do
ano passado. A empresa recebeu
do banco empréstimos de US$ 1,2
bilhão para a compra da Eletropaulo Metropolitana.
Naqueles mês, o BNDES e a AES
assinaram, no entanto, acordo
para solucionar o problema. Pelo
acerto entre as duas partes, será
criada uma nova empresa, chamada de Brasiliana Energia, que
passará a controlar a Eletropaulo,
distribuidora de energia do Estado de São Paulo.
O grupo norte-americano terá
50% mais uma ação do capital votante da nova empresa. O BNDES,
50% menos uma ação, o que compensará parte do que deveria receber em dinheiro da companhia
americana. Para o banco, não era
a melhor opção, porém a direção
considerou que pior seria não receber nada e ter de assumir o controle da empresa.
Além do dinheiro emprestado à
AES, o BNDES ainda concedeu,
depois da privatização, crédito no
valor de US$ 562,4 milhões à Eletropaulo.
Balanço
Na década de 80, o governo brasileiro privatizou 38 empresas que
haviam sido absorvidas pelo Estado em razão de dificuldades financeiras.
Em 1990, foi criado o Programa
Nacional de Desestatização, que
permitiu o uso de títulos da dívida
pública como moeda de pagamento. No ano seguinte, ocorreu
a primeira grande privatização, a
da Usiminas.
A partir de então, foram desestatizadas empresas petroquímicas, siderúrgicas, de telecomunicações e de transportes.
Em 1997, ocorreu um dos mais
tumultuados leilões, o da Vale do
Rio Doce. Policiais precisaram
isolar a Bolsa de Valores do Rio de
Janeiro para impedir a entrada de
funcionários da empresa que
eram contra a privatização.
Após os leilões das teles, ganharam ênfase as privatizações estaduais, sobretudo as de companhias elétricas e de bancos, inclusive o Banespa e o Banerj.
Para este ano, o governo pretende continuar o processo e deve
vender bancos estaduais que foram federalizados, como os de
Santa Catarina, Maranhão e Piauí.
(OTÁVIO CABRAL e LEONARDO SOUZA)
Texto Anterior: Outro lado: BNDES viabilizou modernização e exportações, dizem empresas Próximo Texto: Opinião econômica: O continente da tristeza Índice
|