São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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Cortes podem zerar saldo de vagas em 2008

Os 123 mil postos criados até novembro na indústria de SP devem ter sido zerados com 120 mil demissões em dezembro

Número de demissões no último mês de 2008 é o maior já registrado na década; dados oficiais da Fiesp serão divulgados na quinta

GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA

O desemprego em São Paulo se acelerou no final de 2008. A indústria paulista fechou de 100 mil a 120 mil postos de trabalho com carteira assinada em dezembro, número superior ao que ocorre tradicionalmente no mês.
Com esse resultado, a geração líquida de emprego na indústria em São Paulo deve ter praticamente zerado no ano passado. No ano, até setembro, a geração líquida havia sido de 167 mil empregos. Em 2007, foram geradas 104 mil vagas.
Os efeitos da crise mundial começaram a ser sentidos com mais força na indústria paulista a partir de outubro. Naquele mês, foram cortadas 10 mil vagas; em novembro, 34 mil; em dezembro, o total de cortes é estimado entre 100 mil e 120 mil. Em novembro, a geração líquida era de 123 mil vagas.
Os números de dezembro são o resultado preliminar da pesquisa de nível de emprego industrial feita pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). O resultado final será divulgado na quinta.
O total de cortes em dezembro foi o maior já registrado na década. A pesquisa da Fiesp é realizada desde 1981, mas já sofreu várias mudanças metodológicas, e por isso é difícil fazer uma comparação tomando por base toda a série histórica.
O universo abrange cerca de 3.000 empresas e o levantamento é feito com base no número de empregados no último dia do mês.
Em relação a novembro, o número de dezembro representa queda de cerca de 5,5% no total de postos de trabalho na indústria paulista. Dezembro normalmente é um mês de retração do emprego na indústria, mas a queda nunca passa de 3,5%, percentual já considerado alto pelos técnicos.
Em dezembro de 2007, foram fechadas 76 mil vagas na indústria, um número elevado, mas que tinha sido inchado pelo fato de as empresas terem adiado as demissões de novembro. Mesmo assim, a indústria paulista fechou 2007 com expansão de 5,01% na oferta de emprego, o que significou a geração líquida de 104 mil vagas.
O total de cortes na indústria paulista em dezembro explica em parte o recorde de demissões com carteira assinada no Brasil na pesquisa do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) que será anunciada amanhã pelo governo. A previsão é que tenham ocorrido 600 mil demissões, o dobro do que normalmente é registrado em dezembro.
"O aumento do desemprego é lastimável e, por isso, temos de quebrar paradigmas para evitar a escalada desse processo", afirma Paulo Skaf, presidente da Fiesp.

Menos jornada e salário
Desde o início do ano, com a piora do quadro principalmente na indústria, Skaf tem defendido a proposta de menor jornada de trabalho com a respectiva redução do salário para evitar o desemprego. Um acordo chegou a ser costurado durante a semana com a Força Sindical, mas os entendimentos foram suspensos.
Segundo Skaf, trata-se de uma interrupção temporária para que tanto os trabalhadores como as entidades empresariais pressionem o governo a tomar medidas urgentes para conter a alta do desemprego.
O presidente da Fiesp diz que, na segunda-feira da próxima semana, já está marcada uma nova reunião com as centrais para que sejam retomadas as negociações.
Skaf está confiante em fechar um acordo com as centrais. Ele diz que as empresas irão aceitar manter o nível de emprego enquanto vigorar o acordo. Se uma empresa tem cem funcionários, ela terá de manter esse mesmo patamar, o que não significa que não poderá haver demissões, mas as vagas cortadas terão de ser repostas.

Manifestações
Nesta semana, no entanto, a Fiesp e as centrais vão direcionar sua artilharia para Brasília. O principal alvo é a reunião do Copom na quarta (leia texto à pág. B6). Skaf defende redução agressiva na taxa de juros. "O juro tem de cair de 5 a 6 pontos em curto espaço de tempo."
Uma queda dessas, segundo Skaf, poderia representar economia de R$ 80 bilhões em juros da dívida pública, dinheiro que poderia ser aplicado em investimentos. A Selic, a seu ver, poderia estar hoje em 8%.
Skaf também defende igualmente a queda nos "spreads" (a diferença entre o juro cobrado nos empréstimos e as taxas pagas pelos bancos aos investidores). Para isso, ele sugere a redução tanto do compulsório dos depósitos à vista como das taxas que incidem sobre as operações financeiras. "O governo tem instrumentos para minimizar os efeitos da crise."
Entre as diversas ferramentas, o presidente da Fiesp propõe a ampliação do prazo para o recolhimento de tributos; a adoção da Bolsa-Qualificação, que possibilita que o trabalhador se ausente de dois a cinco meses do trabalho para fazer cursos de qualificação profissional, e outras medidas.
"Vamos partir para cima do Lula nesta semana", diz o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva. "O governo tem de tomar medidas concretas para evitar a crise."
O sindicalista diz que, nesta semana, serão organizadas diversas manifestações de trabalhadores para pedir um corte maior na taxa de juros.
Segundo Silva, as informações que ele tem são de que a situação do desemprego se agravou mais neste mês. "Se em dezembro foram cortados 600 mil empregos no país, em janeiro esse número deve dobrar."


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