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Cortes podem zerar saldo de vagas em 2008
Os 123 mil postos criados até novembro na indústria de SP devem ter sido zerados com 120 mil demissões em dezembro
Número de demissões no último mês de 2008 é o maior já registrado na década; dados oficiais da Fiesp serão divulgados na quinta
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O desemprego em São Paulo
se acelerou no final de 2008. A
indústria paulista fechou de
100 mil a 120 mil postos de trabalho com carteira assinada em
dezembro, número superior ao
que ocorre tradicionalmente
no mês.
Com esse resultado, a geração líquida de emprego na indústria em São Paulo deve ter
praticamente zerado no ano
passado. No ano, até setembro,
a geração líquida havia sido de
167 mil empregos. Em 2007, foram geradas 104 mil vagas.
Os efeitos da crise mundial
começaram a ser sentidos com
mais força na indústria paulista
a partir de outubro. Naquele
mês, foram cortadas 10 mil vagas; em novembro, 34 mil; em
dezembro, o total de cortes é
estimado entre 100 mil e 120
mil. Em novembro, a geração líquida era de 123 mil vagas.
Os números de dezembro são
o resultado preliminar da pesquisa de nível de emprego industrial feita pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo). O resultado final
será divulgado na quinta.
O total de cortes em dezembro foi o maior já registrado na
década. A pesquisa da Fiesp é
realizada desde 1981, mas já sofreu várias mudanças metodológicas, e por isso é difícil fazer
uma comparação tomando por
base toda a série histórica.
O universo abrange cerca de
3.000 empresas e o levantamento é feito com base no número de empregados no último
dia do mês.
Em relação a novembro, o
número de dezembro representa queda de cerca de 5,5%
no total de postos de trabalho
na indústria paulista. Dezembro normalmente é um mês de
retração do emprego na indústria, mas a queda nunca passa
de 3,5%, percentual já considerado alto pelos técnicos.
Em dezembro de 2007, foram fechadas 76 mil vagas na
indústria, um número elevado,
mas que tinha sido inchado pelo fato de as empresas terem
adiado as demissões de novembro. Mesmo assim, a indústria
paulista fechou 2007 com expansão de 5,01% na oferta de
emprego, o que significou a geração líquida de 104 mil vagas.
O total de cortes na indústria
paulista em dezembro explica
em parte o recorde de demissões com carteira assinada no
Brasil na pesquisa do Caged
(Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) que será
anunciada amanhã pelo governo. A previsão é que tenham
ocorrido 600 mil demissões, o
dobro do que normalmente é
registrado em dezembro.
"O aumento do desemprego
é lastimável e, por isso, temos
de quebrar paradigmas para
evitar a escalada desse processo", afirma Paulo Skaf, presidente da Fiesp.
Menos jornada e salário
Desde o início do ano, com a
piora do quadro principalmente na indústria, Skaf tem defendido a proposta de menor jornada de trabalho com a respectiva redução do salário para evitar o desemprego. Um acordo
chegou a ser costurado durante
a semana com a Força Sindical,
mas os entendimentos foram
suspensos.
Segundo Skaf, trata-se de
uma interrupção temporária
para que tanto os trabalhadores como as entidades empresariais pressionem o governo a
tomar medidas urgentes para
conter a alta do desemprego.
O presidente da Fiesp diz
que, na segunda-feira da próxima semana, já está marcada
uma nova reunião com as centrais para que sejam retomadas
as negociações.
Skaf está confiante em fechar
um acordo com as centrais. Ele
diz que as empresas irão aceitar
manter o nível de emprego enquanto vigorar o acordo. Se
uma empresa tem cem funcionários, ela terá de manter esse
mesmo patamar, o que não significa que não poderá haver demissões, mas as vagas cortadas
terão de ser repostas.
Manifestações
Nesta semana, no entanto, a
Fiesp e as centrais vão direcionar sua artilharia para Brasília.
O principal alvo é a reunião do
Copom na quarta (leia texto à
pág. B6). Skaf defende redução
agressiva na taxa de juros. "O
juro tem de cair de 5 a 6 pontos
em curto espaço de tempo."
Uma queda dessas, segundo
Skaf, poderia representar economia de R$ 80 bilhões em juros da dívida pública, dinheiro
que poderia ser aplicado em investimentos. A Selic, a seu ver,
poderia estar hoje em 8%.
Skaf também defende igualmente a queda nos "spreads" (a
diferença entre o juro cobrado
nos empréstimos e as taxas pagas pelos bancos aos investidores). Para isso, ele sugere a redução tanto do compulsório
dos depósitos à vista como das
taxas que incidem sobre as operações financeiras. "O governo
tem instrumentos para minimizar os efeitos da crise."
Entre as diversas ferramentas, o presidente da Fiesp propõe a ampliação do prazo para o
recolhimento de tributos; a
adoção da Bolsa-Qualificação,
que possibilita que o trabalhador se ausente de dois a cinco
meses do trabalho para fazer
cursos de qualificação profissional, e outras medidas.
"Vamos partir para cima do
Lula nesta semana", diz o presidente da Força Sindical, Paulo
Pereira da Silva. "O governo
tem de tomar medidas concretas para evitar a crise."
O sindicalista diz que, nesta
semana, serão organizadas diversas manifestações de trabalhadores para pedir um corte
maior na taxa de juros.
Segundo Silva, as informações que ele tem são de que a situação do desemprego se agravou mais neste mês. "Se em dezembro foram cortados 600
mil empregos no país, em janeiro esse número deve dobrar."
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