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Setor que puxava PIB agora lidera cortes
Veículos e siderurgia são os que mais demitiram no país, aponta estudo; só 2 dos 19 setores e subsetores contrataram mais
Ramos industriais sofrem com os efeitos da crise, que secou o crédito e reduziu as exportações devido à forte queda da demanda mundial
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Desde o "setembro negro", o
mundo virou de cabeça para
baixo, e a indústria no Brasil seguiu a mesma toada: os setores
mais dinâmicos que sustentavam o forte crescimento do PIB
até então são agora os que mais
eliminam postos de trabalho.
Antes no rol dos líderes da vigorosa expansão da economia
de 6,8% no acumulado até setembro, material de transporte
(inclui a indústria automobilística) e metalurgia (siderurgia)
estão entre os que mais desempregaram em novembro.
Esses ramos perderam, respectivamente, 11,6 mil e 11 mil
empregos formais naquele
mês, segundo levantamento da
LCA Consultores, feito a pedido da Folha com base em dados do Caged (Cadastro Geral
de Empregados e Desempregados). Os números correspondem ao saldo líquido entre admissões e demissões informadas pelas empresas ao Ministério do Trabalho e Emprego .
Até outubro, esses ramos
mantinham as contratações,
apesar de já se notar uma desaceleração. Ao lado deles, outros
importantes ramos cortaram
postos de trabalho em novembro, como química (7.200 empregos), mecânica (5.400), borracha (6.000) e material elétrico e de comunicações (4.100).
Todos mantinham, até o recrudescimento da crise mundial, em setembro, um bom ritmo de crescimento, segundo
Fábio Romão, economista da
LCA e autor do estudo.
Agora esses ramos sofrem
com os efeitos da crise, que fez
secar o crédito e desidratar as
exportações de vários setores
na esteira da forte contração da
demanda mundial, diz Romão.
Tal cenário levou a indústria
a fechar 82,9 mil vagas em novembro, considerando apenas
o registro de empregos formais
do Caged. De todos os 19 setores e subsetores investigados,
apenas 2 elevaram o saldo de
contratações: comércio -que
gerou 77,9 mil vagas, devido ao
Natal- e serviços (37,5 mil).
Em resposta à escassez de
crédito e à queda da confiança,
a construção civil eliminou
22,7 mil empregos. Em setembro, o setor contratou 32,8 mil
trabalhadores. Naquele mês, a
indústria de transformação como um todo empregou 114 mil
pessoas a mais.
Pelos dados do IBGE, a produção de veículos caiu 22,6%
em novembro. No caso da metalurgia, a retração foi 10,2%.
Naquele mês, a indústria geral
cedeu 5,2% ante outubro.
"A crise não é generalizada
ainda. Alguns setores vão bem.
Os que mais sentiram o impacto são os ligados ao crédito
-tanto os que dependem dele
para vender como os que precisam financiar investimentos-
e os exportadores", diz Patrick
Carvalho, economista da Firjan. Há ainda, diz ele, outro
complicador: a desvalorização
cambial, que elevou o custo de
vários insumos importados
usados na produção. Um dos
ramos afetados por esse efeito
é o químico e petroquímico.
Também tiveram fraco desempenho em novembro setores ligados às exportações e intensivos em mão-de-obra. Entre eles, estão calçados (9.800
postos a menos) e vestuário
(7.400). A indústria de alimentos demitiu 13,5 mil.
Projeções
Amanhã, o Caged divulga os
dados de dezembro e as expectativas apontam para redução
ainda mais intensa do emprego
formal. Romão estima um saldo de até 600 mil demissões, o
dobro do habitual para o mês
-período no qual crescem as
demissões por causa da dispensa de temporários da indústria
contratados em outubro.
A projeção bate com o número citado pelo presidente Lula
na semana passada, que falou
também em 600 mil demissões. Se confirmado, será o pior
resultado desde 1999, ano da
desvalorização do real.
Ademir Figueiredo, coordenador do Dieese, afirma que a
pesquisa domiciliar do instituto ainda não captou o desemprego em novembro, pois muitas firmas demitem na virada
do mês -o que leva o fenômeno
a ser mensurado apenas no mês
seguinte. Ele também estima
corte próximo a 600 mil vagas.
Para o economista Carlos
Thadeu de Freitas, da Confederação Nacional do Comércio, o
primeiro trimestre deste ano
será "desafiador" e muito fraco
tanto para a produção como para o emprego. "Mesmo com a
queda da Selic, o crédito não vai
se recuperar rapidamente."
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