São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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Foco

"Não queríamos dar essa notícia, mas o contrato de vocês será rescindido"

DA AGÊNCIA FOLHA,
EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS E EM SAPUCAIA DO SUL

Apesar de a crise internacional ter atingido em cheio o setor automobilístico, Daibert Novaes da Silva, 26, trabalhava despreocupado na GM de São José dos Campos (91 km de SP) na segunda-feira, quando, por volta das 14h, diretores pediram a todos os funcionários contratados por prazo determinado que fossem à sala de reunião.
"Eu estranhei aquilo. Então eles anunciaram: "Não queríamos dar essa notícia, mas o contrato de vocês será rescindido". Foi um choque." A rescisão deu fim à felicidade que havia tomado conta da família desde julho de 2008, quando, após seis meses de desemprego, Silva foi selecionado para uma das 600 vagas, com salário de R$ 1.200.
Ele foi uma das 744 vítimas do primeiro corte em massa de uma montadora de carros instalada no país após o agravamento da crise mundial. A empresa decidiu encerrar os contratos com vencimento em julho em razão da queda nas vendas.
Em Sapucaia do Sul (RS), desde terça, Marcelo Bocker, 30, passou a preencher parte de suas manhãs e tardes procurando emprego na internet. A rotina começou no dia seguinte à demissão de 40 funcionários da unidade da Gerdau na cidade.
Com sete anos de casa, Bocker diz ter tomado um susto quando soube que estava entre os demitidos. "Me deixaram na mão. Gastei nas férias e paguei dívidas de forma adiantada porque a Gerdau tinha dito que manteria todo mundo." A Gerdau nega.
Bocker, que trabalhava em um forno que derretia sucata a 1.600C, diz ser pouco provável conseguir um novo trabalho no setor de aço. Sem o salário de R$ 2.000, a família dependerá do seguro-desemprego e do salário da mulher.

Estresse
Após 32 anos prestando serviços para a Vale, o técnico em mecânica Luiz Citty, 50, que trabalhava na oficina de caminhões em Itabira (MG), foi dispensado. "O gerente disse que eu, como mais velho, tinha que sair. Me senti discriminado", conta.
Foram demitidos mais de 60 funcionários. Outros 1.500 terceirizados foram dispensados, segundo o sindicato. A justificativa da Vale foi a crise, que, de acordo com Citty, só apareceu nas reuniões em outubro. "Trabalhamos uns 50 dias extremamente estressados. Colegas tiveram que se afastar por problemas de saúde. Eu tive que tomar calmantes para dormir."
(FÁBIO AMATO, GRACILIANO ROCHA e CRISTINA MORENO DE CASTRO)


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