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No RJ, Cidade Alegria entra em depressão após cortes
Em região operária, trabalhadores perderam emprego ou estão em férias
Bairro localizado em Resende, município do sul fluminense, concentra operários de montadoras e de fornecedores de peças
Rafael Andrade/Folha Imagem
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Weverton de Souza, despedido da Peugeot, em frente à loja do pai |
JANAINA LAGE
ENVIADA ESPECIAL A PORTO REAL E A RESENDE (RJ)
RAFAEL ANDRADE
REPÓRTER FOTOGRÁFICO
No bairro operário Cidade
Alegria todos conhecem al
guém que perdeu o emprego ou
está em férias coletivas. O bair
ro, localizado em Resende, mu
nicípio do sul fluminense, con
centra entre seus 12.527 habi
tantes trabalhadores da Peu
geot, da Volkswagen e da cadeia
de fornecedores.
O receio de perder o emprego
é generalizado. Nas ruas com
nomes de flores e nas escadas
dos conjuntos habitacionais no
bairro, a novidade é a presença
dos pais junto às crianças em
horário de trabalho.
É o caso de Weverton de Sou
za, 21, que trabalhava como sol
dador na Peugeot. Na quinta-
feira ele passou o dia na loja do
pai, acompanhado da filha de
dois anos. Ele trabalhava no
terceiro turno e estava na em
presa havia menos de um ano.
"Foi meu primeiro emprego. Já
tentei arrumar outra coisa, mas
em todo lugar dizem para vol
tar no mês que vem porque está
todo mundo cortando vagas." A
demissão de Souza ainda não
aparece nas estatísticas. Quem
tem menos de um ano de em
presa não precisa fazer a homo
logação no sindicato.
Segundo dados do Sindicato
dos Metalúrgicos do Sul Flumi
nense, em dezembro foram de
mitidos 60 funcionários da
Peugeot. Os cerca de 700 em
pregados do terceiro turno es
tão em férias. Os 2.600 empre
gados do primeiro e do segundo
turno vão entrar novamente
em férias coletivas no dia 26.
A montadora afirma que os
cortes não têm relação com a
crise e que está adotando férias
coletivas para evitar demissões.
Não foi o que ocorreu com
Leandro de Carvalho Silva, 28.
Ele foi demitido na quarta-fei
ra. Trabalhava como monitor
de montagem e estava na em
presa havia quase sete anos.
"Todo dia tem um grupo sendo
demitido. Tem gente sendo de
mitida até por carta. Entrei co
mo operador, não sabia nada e
fui aprendendo na própria em
presa, me especializei e agora
não tenho onde trabalhar. Essa
região é muito dependente da
produção de carros", disse.
Dados da Firjan (Federação
das Indústrias do Rio de Janei
ro) mostram que o setor auto
mobilístico corresponde a
18,5% do PIB (Produto Interno
Bruto) da indústria de transfor
mação no sul do Estado do Rio.
Segundo Patrick Carvalho, che
fe da Divisão de Estudos Eco
nômicos da Firjan, o impacto é
ainda maior no mercado de tra
balho. "De cada 4 trabalhado
res da indústria de transforma
ção no sul fluminense, 1 traba
lha no setor de material de
transporte", disse.
A fábrica da Peugeot foi inau
gurada em Porto Real, cidade
vizinha a Resende, em 2001. O
empreendimento contribuiu
para que Porto Real, com me
nos de 16 mil habitantes, se tor
nasse o sétimo maior PIB per
capita do país, de R$ 119.800,
em dados de 2006. A fábrica
contou com financiamento de
R$ 335,5 milhões do BNDES
(Banco Nacional de Desenvol
vimento Econômico e Social).
Outra empresa de destaque
na região é a Volkswagen, que
fabrica caminhões e ônibus em
Resende e emprega 5.000 pes
soas. Ela concedeu férias cole
tivas de 19 dias em dezembro e
os empregados que trabalham
na produção voltaram na últi
ma segunda-feira. A instalação
da fábrica contou com financia
mento do BNDES concedido
aos fornecedores.
Os efeitos da crise das mon
tadoras já se estendem para o
restante da cadeia produtiva.
Segundo o Sindmetalsf, outras
empresas da região estão con
cedendo férias, como a Bente
ler, de tubos mecânicos e bar
ras de aço, e a Magneto.
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