São Paulo, domingo, 18 de janeiro de 2009

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No RJ, Cidade Alegria entra em depressão após cortes

Em região operária, trabalhadores perderam emprego ou estão em férias

Bairro localizado em Resende, município do sul fluminense, concentra operários de montadoras e de fornecedores de peças

Rafael Andrade/Folha Imagem
Weverton de Souza, despedido da Peugeot, em frente à loja do pai


JANAINA LAGE
ENVIADA ESPECIAL A PORTO REAL E A RESENDE (RJ)

RAFAEL ANDRADE
REPÓRTER FOTOGRÁFICO

No bairro operário Cidade Alegria todos conhecem al­ guém que perdeu o emprego ou está em férias coletivas. O bair­ ro, localizado em Resende, mu­ nicípio do sul fluminense, con­ centra entre seus 12.527 habi­ tantes trabalhadores da Peu­ geot, da Volkswagen e da cadeia de fornecedores.
O receio de perder o emprego é generalizado. Nas ruas com nomes de flores e nas escadas dos conjuntos habitacionais no bairro, a novidade é a presença dos pais junto às crianças em horário de trabalho.
É o caso de Weverton de Sou­ za, 21, que trabalhava como sol­ dador na Peugeot. Na quinta- feira ele passou o dia na loja do pai, acompanhado da filha de dois anos. Ele trabalhava no terceiro turno e estava na em­ presa havia menos de um ano. "Foi meu primeiro emprego. Já tentei arrumar outra coisa, mas em todo lugar dizem para vol­ tar no mês que vem porque está todo mundo cortando vagas." A demissão de Souza ainda não aparece nas estatísticas. Quem tem menos de um ano de em­ presa não precisa fazer a homo­ logação no sindicato.
Segundo dados do Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Flumi­ nense, em dezembro foram de­ mitidos 60 funcionários da Peugeot. Os cerca de 700 em­ pregados do terceiro turno es­ tão em férias. Os 2.600 empre­ gados do primeiro e do segundo turno vão entrar novamente em férias coletivas no dia 26.
A montadora afirma que os cortes não têm relação com a crise e que está adotando férias coletivas para evitar demissões.
Não foi o que ocorreu com Leandro de Carvalho Silva, 28.
Ele foi demitido na quarta-fei­ ra. Trabalhava como monitor de montagem e estava na em­ presa havia quase sete anos. "Todo dia tem um grupo sendo demitido. Tem gente sendo de­ mitida até por carta. Entrei co­ mo operador, não sabia nada e fui aprendendo na própria em­ presa, me especializei e agora não tenho onde trabalhar. Essa região é muito dependente da produção de carros", disse.
Dados da Firjan (Federação das Indústrias do Rio de Janei­ ro) mostram que o setor auto­ mobilístico corresponde a 18,5% do PIB (Produto Interno Bruto) da indústria de transfor­ mação no sul do Estado do Rio.
Segundo Patrick Carvalho, che­ fe da Divisão de Estudos Eco­ nômicos da Firjan, o impacto é ainda maior no mercado de tra­ balho. "De cada 4 trabalhado­ res da indústria de transforma­ ção no sul fluminense, 1 traba­ lha no setor de material de transporte", disse. A fábrica da Peugeot foi inau­ gurada em Porto Real, cidade vizinha a Resende, em 2001. O empreendimento contribuiu para que Porto Real, com me­ nos de 16 mil habitantes, se tor­ nasse o sétimo maior PIB per capita do país, de R$ 119.800, em dados de 2006. A fábrica contou com financiamento de R$ 335,5 milhões do BNDES (Banco Nacional de Desenvol­ vimento Econômico e Social).
Outra empresa de destaque na região é a Volkswagen, que fabrica caminhões e ônibus em Resende e emprega 5.000 pes­ soas. Ela concedeu férias cole­ tivas de 19 dias em dezembro e os empregados que trabalham na produção voltaram na últi­ ma segunda-feira. A instalação da fábrica contou com financia­ mento do BNDES concedido aos fornecedores.
Os efeitos da crise das mon­ tadoras já se estendem para o restante da cadeia produtiva.
Segundo o Sindmetalsf, outras empresas da região estão con­ cedendo férias, como a Bente­ ler, de tubos mecânicos e bar­ ras de aço, e a Magneto.


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