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Empresas na Bolsa já são 74% do PIB
Em 1998, proporção era de 22%; mercado de capitais torna-se a maior fonte de financiamento de longo prazo da economia
Captações no ano passado foram mais que o dobro do emprestado pelo BNDES e indicam que empresário depende menos do Estado
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O mercado de capitais no
Brasil se tornou a principal fonte de financiamento de recursos de longo prazo das empresas. O total captado pelo mercado superou, pelo segundo ano
consecutivo, os empréstimos
do BNDES, que sempre foi considerado a principal porta de
acesso ao dinheiro de longo
prazo do país.
Em 2006, o valor total das
captações no mercado somou
R$ 109,54 bilhões, mais do que
o dobro dos R$ 52,3 bilhões financiados pelo BNDES. Ou seja, o mercado financiou o correspondente a 5,5% do PIB, enquanto os empréstimos do
BNDES representaram 2,6%
do PIB. Em 2005, o mercado
captou R$ 61 bilhões. O BNDES
emprestou R$ 47,1 bilhões.
Os números mostram que o
mercado de capitais ganha cada
vez mais musculatura. O valor
das empresas negociadas em
Bolsa atingiu em 2006 R$ 1,5
trilhão, equivalente a 74% do
PIB, recorde histórico no país.
O crescimento é impressionante, se for levado em conta
que, até pouco tempo atrás, a
participação das Bolsas no PIB
era insignificante. Em 1998, o
mercado representava 22% do
PIB, e, em 2002, 33% do PIB. O
Brasil se aproxima dos países
ricos, embora a diferença ainda
seja grande. Nos principais
mercados, o valor das empresas
negociadas em Bolsa fica entre
120% e 150% do PIB.
O presidente da Bovespa
(Bolsa de São Paulo), Raymundo Magliano, afirma que o que
ocorre no mercado de capitais é
uma revolução invisível na economia brasileira. Trata-se, a
seu ver, de uma mudança cultural do empresário brasileiro.
"As empresas brasileiras estão
aprendendo a ficar menos dependentes do Estado", diz.
O presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários),
Marcelo Trindade, concorda
que o momento é mesmo excepcional, mas diz que há ainda
espaço para crescer mais.
"Quanto melhor o marco regulatório dos setores de infra-estrutura, mais dinheiro virá para
o setor", diz. "Mas é bom agir
rápido. O excesso de liquidez
não dura para sempre."
As vantagens de o empresário buscar o mercado de capitais são inúmeras. Além de diminuir a dependência do Estado, isso ajuda a reduzir a informalidade, já que, para ter acesso à Bolsa, é indispensável que
as empresas estejam na formalidade. "As empresas começam
a concluir que é melhor serem
formais para terem acesso aos
recursos do mercado de capitais", afirma Magliano.
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