São Paulo, domingo, 18 de fevereiro de 2007

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Fazenda vê 10% como patamar correto para a taxa nominal de juros no país

LEANDRA PERES
VALDO CRUZ

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A taxa de juros básica da economia poderia estar em 10% ao ano, e não nos 13% fixados em janeiro, na última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária). Essa é a avaliação que a equipe do ministro Guido Mantega (Fazenda) faz internamente, tendo como base os bons indicadores da economia.
Pelo raciocínio, a economia já superou a fase de dependência do capital estrangeiro e, portanto, não teria sentido manter juros elevados em comparação a outros emergentes.
A equipe da Fazenda não trabalha, porém, com a hipótese de o país fechar o ano com uma taxa de juros nominal na casa dos 10%, mas em 11,25%.
O principal impedimento a uma queda mais acelerada, na avaliação da Fazenda, é o perfil conservador dos diretores do BC, que fixam a Selic. É por isso que o presidente Lula quer influenciar a nomeação dos próximos diretores do banco.
O objetivo é "mesclar" as correntes de pensamento na diretoria do BC. Na definição de um assessor de Mantega, o banco poderia ter menos economistas alinhados ao grupo ortodoxo da PUC do Rio, como Afonso Bevilaqua, e incorporar alguns de outras correntes, até com experiência no chamado mundo real da economia.
A mudança na diretoria do BC deveria partir do pressuposto, na avaliação da Fazenda, de que o momento é de "ousadia" e que há condições técnicas para "correr um pouco de risco" diante de um cenário de reservas internacionais próximas a US$ 100 bilhões e inflação abaixo de 4% ao ano.
Os assessores do ministro citam ainda a queda na dívida externa, que era de 36% do PIB em 2003 e está em 7% atualmente, e no estoque da dívida cambial, hoje inexistente.
No BC não há resistência real a mudanças no colegiado que define os juros. De acordo com auxiliares do presidente do banco, Henrique Meirelles, já houve 11 trocas de diretores desde o início do governo. Mudanças não seriam, portanto, novidade, mas, até o momento, não haveria decisão de trocas.
Para a próxima reunião do Copom, em 6 e 7 de março, não é possível alterar a composição do órgão. No máximo algum diretor, como Bevilaqua, pode deixar o banco, mas não há tempo para aprovar no Senado um substituto. Daí que, na Fazenda, a aposta é que haja novo corte de 0,25 ponto percentual.
A expectativa de assessores de Mantega é que, na reunião seguinte, em abril, o BC possa analisar a hipótese de um corte de 0,5 ponto caso o cenário interno e externo siga favorável.
No BC, no entanto, essa não é a tendência. O banco prefere trabalhar com quedas graduais e constantes, como expressado na última ata do Copom. A vantagem seria um processo mais longo de redução dos juros do que se o BC cortasse 0,5 ponto.
Lula não quer ouvir falar, no mínimo, em interrupção do processo de queda dos juros, nem que sejam mantidos ao menos cortes de 0,25 ponto.
Se interromper esse processo, o Banco Central criará dificuldades para agentes econômicos do mundo financeiro e real. Auxiliares de Mantega avaliam que tais agentes já posicionaram seus negócios e investimentos numa trajetória de queda dos juros, e a reversão desse quadro custaria mais um ano de crescimento medíocre.
A análise apresentada ao ministro é que, diferentemente de em outros momentos, não é apenas o setor financeiro que está apostando na queda dos juros, mas também a economia real. Um dos exemplos é o mercado imobiliário, em que os bancos começaram a atuar com taxas de juros prefixados em financiamentos habitacionais. Uma subida nos juros interromperia esse processo.


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