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Fazenda vê 10% como patamar correto para a taxa nominal de juros no país
LEANDRA PERES
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A taxa de juros básica da economia poderia estar em 10% ao
ano, e não nos 13% fixados em
janeiro, na última reunião do
Copom (Comitê de Política
Monetária). Essa é a avaliação
que a equipe do ministro Guido
Mantega (Fazenda) faz internamente, tendo como base os
bons indicadores da economia.
Pelo raciocínio, a economia
já superou a fase de dependência do capital estrangeiro e,
portanto, não teria sentido
manter juros elevados em comparação a outros emergentes.
A equipe da Fazenda não trabalha, porém, com a hipótese
de o país fechar o ano com uma
taxa de juros nominal na casa
dos 10%, mas em 11,25%.
O principal impedimento a
uma queda mais acelerada, na
avaliação da Fazenda, é o perfil
conservador dos diretores do
BC, que fixam a Selic. É por isso
que o presidente Lula quer influenciar a nomeação dos próximos diretores do banco.
O objetivo é "mesclar" as correntes de pensamento na diretoria do BC. Na definição de um
assessor de Mantega, o banco
poderia ter menos economistas
alinhados ao grupo ortodoxo da
PUC do Rio, como Afonso Bevilaqua, e incorporar alguns de
outras correntes, até com experiência no chamado mundo
real da economia.
A mudança na diretoria do
BC deveria partir do pressuposto, na avaliação da Fazenda,
de que o momento é de "ousadia" e que há condições técnicas para "correr um pouco de
risco" diante de um cenário de
reservas internacionais próximas a US$ 100 bilhões e inflação abaixo de 4% ao ano.
Os assessores do ministro citam ainda a queda na dívida externa, que era de 36% do PIB
em 2003 e está em 7% atualmente, e no estoque da dívida
cambial, hoje inexistente.
No BC não há resistência real
a mudanças no colegiado que
define os juros. De acordo com
auxiliares do presidente do
banco, Henrique Meirelles, já
houve 11 trocas de diretores
desde o início do governo. Mudanças não seriam, portanto,
novidade, mas, até o momento,
não haveria decisão de trocas.
Para a próxima reunião do
Copom, em 6 e 7 de março, não
é possível alterar a composição
do órgão. No máximo algum diretor, como Bevilaqua, pode
deixar o banco, mas não há
tempo para aprovar no Senado
um substituto. Daí que, na Fazenda, a aposta é que haja novo
corte de 0,25 ponto percentual.
A expectativa de assessores
de Mantega é que, na reunião
seguinte, em abril, o BC possa
analisar a hipótese de um corte
de 0,5 ponto caso o cenário interno e externo siga favorável.
No BC, no entanto, essa não é
a tendência. O banco prefere
trabalhar com quedas graduais
e constantes, como expressado
na última ata do Copom. A vantagem seria um processo mais
longo de redução dos juros do
que se o BC cortasse 0,5 ponto.
Lula não quer ouvir falar, no
mínimo, em interrupção do
processo de queda dos juros,
nem que sejam mantidos ao
menos cortes de 0,25 ponto.
Se interromper esse processo, o Banco Central criará dificuldades para agentes econômicos do mundo financeiro e
real. Auxiliares de Mantega
avaliam que tais agentes já posicionaram seus negócios e investimentos numa trajetória de
queda dos juros, e a reversão
desse quadro custaria mais um
ano de crescimento medíocre.
A análise apresentada ao ministro é que, diferentemente de
em outros momentos, não é
apenas o setor financeiro que
está apostando na queda dos
juros, mas também a economia
real. Um dos exemplos é o mercado imobiliário, em que os
bancos começaram a atuar com
taxas de juros prefixados em financiamentos habitacionais.
Uma subida nos juros interromperia esse processo.
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