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OPINIÃO ECONÔMICA
Erros velhos e erros novos
LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS
O ministro Antonio Palocci
Filho é hoje a grande novidade no cenário político brasileiro. Repete no Ministério da Fazenda de Lula o inesperado sucesso de Fernando Henrique Cardoso. Sabemos que a falta de conhecimentos específicos não é um limitador relevante para o sucesso
de um homem político no comando da economia de um país. Basta um olhar medíocre para a história para constatar essa afirmação. Mas no Brasil isso sempre foi
um tabu.
O líder político moderno precisa
entender a dinâmica econômica
para ter sucesso em sua carreira.
A opinião pública, que no final
das contas define seu sucesso ou
fracasso, é muito suscetível às
condições conjunturais da economia. Combinar medidas de longo
prazo com resultados visíveis a
olho nu é uma verdadeira ciência
que o responsável pela política
econômica precisa aprender em
sua carreira.
Seu primeiro desafio é cercar-se
de técnicos com conhecimento
profundo sobre questões econômicas. Serão eles os responsáveis
pela avaliação dos problemas que
deverão ser enfrentados e pela escolha dos caminhos alternativos
que podem ser trilhados. Em uma
democracia, a decisão final sobre
a gestão econômica cabe ao comando político do governo, que
vai pesar seus resultados em termos de apoio popular, do calendário eleitoral e do futuro do país.
Nesse sentido, o exemplo de
FHC é histórico. Foi mérito seu ter
percebido o alcance político e social das idéias que alguns economistas do PSDB defendiam desde
1986: o povo estava cansado da
inflação. Com Palocci aconteceu
o mesmo. Quando, pela obra dos
deuses, ele foi escolhido para comandar a construção do programa de governo de Lula e começou
a conversar com economistas fora
do PT, suas qualidades pessoais
apareceram. Sua sensibilidade
política, e não seus conhecimentos econômicos, o levaram a perceber os riscos de governabilidade
que estavam associados à crise
externa que o Brasil vivia. Assumiu, então, a posição corajosa de
uma defesa explícita da manutenção da política conservadora
de FHC. Os riscos de uma "argentinização" foram então afastados, o PT transformou-se em um
partido do "establishment" político e o governo Lula foi salvo de
um desastre que atingiria a todos
nós.
Estive recentemente na Argentina e percebi, de forma muito clara, o que devemos ao ex-prefeito
de Ribeirão Preto. Por isso, esta
comparação com os méritos de
FHC. Mas, como dizia um grande
amigo meu, vamos dar a ele uma
medalha de mérito pelo passado e
voltar a tratá-lo como um mortal
falível. Deixemos aos áulicos de
plantão seu endeusamento prematuro!
Palocci, ministro, assumiu de
fato a política de Pedro Malan e
passou a defender os mesmos
princípios e idéias do grupo de jovens economistas cariocas que
emprestavam suas luzes ao czar
da economia dos anos FHC.
Trouxe para ser seu economista-chefe no ministério um clone loiro
de Gustavo Franco e manteve, como referência econômica, no
Banco Central o diretor Ilan
Golgfajn, da PUC do Rio de Janeiro.
Por isso não é surpresa, para este analista, que o debate atual, sobre a questão da valorização do
real, seja conduzido dentro dos
mesmos marcos teóricos que caracterizaram as discussões sobre
a taxa de câmbio, logo após a introdução do real. De um lado estão os defensores da posição do
governo de liberdade total da taxa de câmbio, mesmo em um momento de grande efervescência especulativa nos mercados de câmbio. Do outro, estão os economistas que criticavam a equipe de
Malan e hoje apontam para os
perigos da valorização especulativa de nossa moeda no grande esforço exportador que vem sendo
feito pelo setor privado brasileiro.
Nesse verdadeiro braço-de-ferro
teórico que estamos assistindo,
um fator novo foi adicionado ao
cenário de 1994: o lobby das empresas devedoras em dólares e
que vêem, na desvalorização do
dólar, um alívio para suas dificuldades financeiras. Essas empresas
contam com um aliado de peso
nesse seu calvário: o Tesouro.
Mais uma vez repete-se o conflito entre uma visão que o PT chamou em seu passado de neoliberal e aqueles que defendem uma
política econômica que reduza
nossa dependência financeira externa e permita o aumento estrutural de nossas exportações. No
governo FHC, os economistas
com sotaque carioca levaram a
melhor, e a sociedade brasileira, a
pior. Será que vamos, mais uma
vez, trilhar os mesmos caminhos
da insensatez econômica e trocar
as vitórias de curto prazo -inclusive a redução mais rápida da
inflação- por uma retomada do
tão necessário crescimento de
nossa economia?
O ministro Palocci disse, recentemente, que prefere cometer erros novos e não erros velhos. Pobre ministro: não consegue ver,
talvez por ser médico, que está cometendo o mesmo erro de 1994!
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 60, engenheiro e economista, é sócio e editor do site de economia e política Primeira Leitura. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações (governo FHC).
Internet: www.primeiraleitura.com.br
E-mail - lcmb2@terra.com.br
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