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LUÍS NASSIF
O país da contravenção
Recebo carta de Paulo Borghert, vice-presidente executivo do Sindicom (o sindicato
que congrega as grandes distribuidoras de combustível do
país), negando que suas associadas adquiram álcool com sonegação de tributos.
Diz que "empresas como Agip,
BR Distribuidora, Esso, Ipiranga, Repsol, Shell e Texaco contribuem para o recolhimento
anual de mais de R$ 47 bilhões
aos cofres públicos e pela geração de 300 mil empregos no
país".
A coluna de anteontem não as
acusou de sonegação. O que disse é que a falta de controle sobre
o mercado de álcool gerou um
processo em que esse álcool acabou chegando até as grandes
distribuidoras por expedientes
tortos.
As menores adquirem álcool
dando como destino Estados
que cobram ICMS menor, descarregam o produto em usinas
desativadas, que operam como
"barrigas de aluguel", e esse
produto acaba sendo vendido
para distribuidoras maiores.
Essas informações me foram
passadas por José Carlos de Figueiredo Ferraz, membro do
conselho da Única (União da
Agroindústria do Estado de São
Paulo).
O que Borghert sustenta é que
o setor nunca compactuou com
essa situação (o que é verdade),
que sempre reivindicou rigor do
governo no combate à sonegação (o que é verdade) e que, junto com empresas dos setores de
fumo, bebidas e cervejas, criou o
ETCO (Instituto Brasileiro de
Ética Concorrencial) para combater a sonegação, a pirataria e
o contrabando.
De fato, o trabalho tem sido
nessa direção. Os grandes distribuidores, junto com a Única, estão apoiando a proposta do governador Geraldo Alckmin de
unificar a alíquota do ICMS para álcool, acabando com o espaço para esse tipo de golpe, informa Figueiredo Ferraz.
O fato é que, nesse longo período de descrédito do trabalho de
repressão à sonegação, os golpes
se avolumaram, as distribuidoras da contravenção ganharam
"market share" no mercado, a
ANP (Agência Nacional do Petróleo) inacreditavelmente se
recusava a divulgar nomes de
postos que adquiriam produtos
falsificados. E essa competição
desleal acabou levando o setor
inteiro a procurar saídas.
É isso o que explica, segundo
dados de Figueiredo Ferraz, que
o consumo de álcool hidratado
tenha sido de 450 milhões litros
por mês, e a venda das usinas,
de apenas 250 milhões.
Só as pequenas distribuidoras
não conseguiriam ter dado vazão a essa diferença.
A pergunta que ninguém responde é: quando é que se vai
atacar de frente o crime organizado? Quando é que as distribuidoras que falsificam produtos serão fechadas e seus donos,
presos? Quando é que os donos
de postos que adquirem produtos falsificados serão co-responsabilizados pelos crimes da sonegação e da falsificação?
Até quando este será o país
dos "promocenters" da vida, em
que a sonegação se dá reiteradamente, em locais públicos e de
grandes movimento? Este é o
mesmo país que aumentou violentamente a carga tributária
nos últimos anos, que permite a
convivência sem riscos com a
contravenção, mas que pune rigorosamente o empresário que
declara seu imposto e que, por
problemas conjunturais, não
consiga pagá-lo em dia.
E-mail -
luisnassif@uol.com.br
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