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Sem emprego, população apoia construção de usina
Moradores esperam que hidrelétrica de Belo Monte proporcione trabalho e indenização
"Quem é contra a usina é contra porque tem emprego, tem ajuda. Os índios
recebem ajuda do governo, nós não", afirma oleiro
DO ENVIADO ESPECIAL A ALTAMIRA (PA)
O desemprego crônico é o
principal argumento para que
grande parte da população pobre da periferia de Altamira, no
Pará, apoie a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Não
há dados oficiais, mas a falta de
trabalho na região é visível, sobretudo nos bairros afastados e
naqueles que serão diretamente afetados pelo lago da usina.
As questões indígena ou ambiental são vistas pelos locais
como argumentos de quem
tem sobrevivência garantida.
Não é o caso de boa parte dos
60 mil habitantes de Altamira.
A principal atividade econômica da região minguou. A
morte da missionária Dorothy
Stang, em Anapu, em 2005, e a
Operação Arco de Fogo, promovida pelo Ibama e pela Polícia Federal, resultaram na paralisação da indústria madeireira, a grande geradora de empregos em toda a região. A atividade cessou, mas nada surgiu
no lugar. "As serrarias foram
parando, parando, hoje não
serram nem cabo de vassoura",
afirma o desempregado José
Luiz Alves, 50.
Alves transportava madeira
das áreas desflorestadas para as
serrarias. Hoje, vive de bico. A
usina de Belo Monte é a sua última esperança. "Não fui embora por causa da usina. Estou esperando o projeto sair do papel,
e, se não sair, não tenho opção a
não ser ir embora daqui", diz.
Oleiro, Ricardo Silva da Cruz,
31, também torce por Belo
Monte. Não por simpatia, mas
por necessidade. A área de extração de argila usada na produção de tijolos está inundada
e, fora isso, trabalho não existe.
Ele mora numa palafita, no
bairro conhecido como "Invasão dos Padres".
É um dos bairros mais populosos de Altamira, que submerge com a subida do rio no período de chuvas. A casa de madeira
será atingida se a usina for
construída, mas Cruz espera a
indenização e quem sabe a
oferta de emprego na obra.
Sobre a visita do diretor James Cameron ("Avatar") à região, Alves achou oportunista.
Cameron participou de manifestações contra a construção
da usina hidrelétrica.
"Quem é contra a usina é
contra porque tem emprego,
tem ajuda. Os índios recebem
ajuda do governo, nós não. E,
para o povo de fora, é fácil também. Eles acabaram com tudo,
agora querem ser donos da
Amazônia", diz.
(AGNALDO BRITO)
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