São Paulo, domingo, 18 de abril de 2010

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ANÁLISE

Luz versus escuridão

MAURICIO TOLMASQUIM
ESPECIAL PARA A FOLHA

O brasileiro conhece o trauma da falta de energia. Em 2001, a insuficiência de oferta interrompeu a retomada do crescimento e levou milhões de brasileiros ao desemprego. Expandir adequadamente o sistema elétrico é, pois, essencial.
Nossa matriz elétrica é exemplar. Graças à hidreletricidade, 90% da energia produzida no país é renovável. A média mundial é de apenas 18%. No consumo de eletricidade, cada brasileiro responde por uma emissão de gases de efeito estufa equivalente à 45ª parte do que a de cada norte-americano ou a de cada chinês.
O Brasil usou só um terço de seu potencial hídrico, menos da metade da proporção dos principais países desenvolvidos. Leilões de energia eólica e bioeletricidade, fontes complementares à hidráulica porque disponíveis quando os reservatórios estão mais baixos, têm sido um sucesso. Portanto, é possível manter nossa matriz limpa.
É nesse contexto que Belo Monte é fundamental para o país. E também o é para a região do Xingu. Afinal, a produção de energia não é seu único benefício. Investimentos em programas socioambientais associados ao projeto somam 19 vezes o orçamento de investimento do Estado do Pará em 2010.
Serão aplicados recursos em comunicação, transporte e saneamento básico. Mais de 4.300 famílias que vivem em palafitas ganharão casas dignas de serem chamadas de lar.
Serão gerados 18 mil empregos diretos no pico da obra, ocupando prioritariamente mão de obra local. Haverá programa de incentivo à capacitação profissional e ao desenvolvimento de atividades produtivas. A população local foi ouvida. O processo de licenciamento da usina compreendeu diversas consultas às comunidades indígenas da região e quatro audiências públicas.
O projeto atual difere muito daquele dos anos 1980. Não afeta diretamente terras indígenas e reduz a área alagada em 60%, para 516 km2. O índice de 0,04 km2/MW é equivalente a um décimo do que o das hidrelétricas em operação no país. Mais do que uma vazão mínima garantida a jusante da barragem principal, o projeto sustenta um hidrograma aderente à preservação da biodiversidade na área. E o Conselho Nacional de Política Energética decidiu não mais construir as outras cinco usinas antes previstas no Xingu, evitando alagar 17 mil km2.
Se, de um lado, essas medidas significam menos energia e maiores custos, de outro são fundamentais para compatibilizar interesse nacional e respeito às comunidades locais. É a forma de garantir luz e afastar a escuridão.

MAURICIO TOLMASQUIM é presidente da EPE (Empresa de Pesquisa Energética).



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