São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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COMÉRCIO EXTERIOR

Negociações não avançaram durante encontro em Madri

UE e Mercosul vão discutir livre comércio em julho

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

A União Européia e o Mercosul decidiram ontem fazer em julho uma reunião ministerial para tentar avançar nas negociações para a liberalização comercial entre os dois blocos, avanço que não foi possível obter na cúpula realizada ontem em Madri.
O comissário (espécie de ministro) europeu para o comércio, Pascal Lamy, disse a interlocutores brasileiros que a reunião ministerial, a se realizar no Brasil, serviria para dar "impulso político" à negociação.
"De impulso político estamos cansados", respondeu o embaixador Clodoaldo Hugueney, que acaba de assumir um posto que pode ser caracterizado como o de negociador-chefe para assuntos comerciais do Brasil.
"Negociação comercial é substância. Vocês estão preparados para discutir a substância?", perguntou Hugueney a Lamy, que respondeu afirmativamente.
Do ponto de vista dos países do Mercosul, substância significa discutir, acima de tudo, a derrubada do formidável muro protecionista que a União Européia ergueu em torno de seus produtores agrícolas.
"Sem discutir acesso ao mercado (europeu), sem negociar os subsídios à exportação de produtos agrícolas, não há negociação", diz Hugueney.
Para os europeus, substância tem um significado algo diferente. "A UE é e continuará sendo a principal compradora de produtos agrícolas do Mercosul. E o Mercosul impõe barreiras em uma série de setores, que também têm que ser discutidas", rebate Anthony Gooch, o porta-voz de Lamy.
Já o próprio Pascal Lamy repetiu, em entrevista coletiva, a conhecida tese de que, para os europeus, a negociação agrícola se dará no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio), e não na discussão bilateral com o Mercosul.

Calendário
Na expectativa de Hugueney, o encontro ministerial de julho deverá acima de tudo discutir o calendário para os próximos passos da negociação entre os dois blocos, o cronograma para a revisão das ofertas de liberalização já postas à mesa por ambos e o calendário para definir qual é o objetivo da negociação.
O Mercosul pretende que a negociação vise à criação de uma zona de livre comércio entre os dois blocos, que seria a maior do mundo.
A Europa olha também para o aspecto político, tanto quanto o comercial. "Precisamos ver como organizamos uma integração muito mais profunda", afirma Gooch.
O comunicado final da cúpula de ontem já menciona o aprofundamento do diálogo político, além da intensificação da cooperação entre as partes.
Esse último aspecto acaba sendo, na prática, via de mão única: como a UE tem os recursos financeiros de que o Mercosul carece, financia programas em diferentes áreas, para estimular o desenvolvimento.
A impossibilidade de avançar mais na cúpula se deveu, principalmente, à crise na Argentina, embora também tenha contribuído a eleição francesa, que paralisou qualquer iniciativa liberalizante na área agrícola.
De todo modo, o Itamaraty não vê o resultado como retrocesso. "O que se poderia temer seria uma avaliação de parte a parte de que era melhor fazer uma pausa no processo, o que não aconteceu", diz o embaixador José Alfredo Graça Lima, representante do Brasil na União Européia em Bruxelas.
"O importante foi manter a chama viva", conclui.
Lamy também festejou o lançamento de um pacote de facilitação de negócios, medidas desburocratizadoras que facilitam o comércio, mas não interferem com as políticas de cada parte. "É uma sólida e pragmática colheita antecipada", diz o comissário europeu. (CLÓVIS ROSSI)


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