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COMÉRCIO EXTERIOR
Negociações não avançaram durante encontro em Madri
UE e Mercosul vão discutir livre comércio em julho
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
A União Européia e o Mercosul
decidiram ontem fazer em julho
uma reunião ministerial para tentar avançar nas negociações para
a liberalização comercial entre os
dois blocos, avanço que não foi
possível obter na cúpula realizada
ontem em Madri.
O comissário (espécie de ministro) europeu para o comércio,
Pascal Lamy, disse a interlocutores brasileiros que a reunião ministerial, a se realizar no Brasil,
serviria para dar "impulso político" à negociação.
"De impulso político estamos
cansados", respondeu o embaixador Clodoaldo Hugueney, que
acaba de assumir um posto que
pode ser caracterizado como o de
negociador-chefe para assuntos
comerciais do Brasil.
"Negociação comercial é substância. Vocês estão preparados
para discutir a substância?", perguntou Hugueney a Lamy, que
respondeu afirmativamente.
Do ponto de vista dos países do
Mercosul, substância significa
discutir, acima de tudo, a derrubada do formidável muro protecionista que a União Européia ergueu em torno de seus produtores
agrícolas.
"Sem discutir acesso ao mercado (europeu), sem negociar os
subsídios à exportação de produtos agrícolas, não há negociação",
diz Hugueney.
Para os europeus, substância
tem um significado algo diferente.
"A UE é e continuará sendo a
principal compradora de produtos agrícolas do Mercosul. E o
Mercosul impõe barreiras em
uma série de setores, que também
têm que ser discutidas", rebate
Anthony Gooch, o porta-voz de
Lamy.
Já o próprio Pascal Lamy repetiu, em entrevista coletiva, a conhecida tese de que, para os europeus, a negociação agrícola se dará no âmbito da OMC (Organização Mundial do Comércio), e não
na discussão bilateral com o Mercosul.
Calendário
Na expectativa de Hugueney, o
encontro ministerial de julho deverá acima de tudo discutir o calendário para os próximos passos
da negociação entre os dois blocos, o cronograma para a revisão
das ofertas de liberalização já postas à mesa por ambos e o calendário para definir qual é o objetivo
da negociação.
O Mercosul pretende que a negociação vise à criação de uma zona de livre comércio entre os dois
blocos, que seria a maior do mundo.
A Europa olha também para o
aspecto político, tanto quanto o
comercial. "Precisamos ver como
organizamos uma integração
muito mais profunda", afirma
Gooch.
O comunicado final da cúpula
de ontem já menciona o aprofundamento do diálogo político,
além da intensificação da cooperação entre as partes.
Esse último aspecto acaba sendo, na prática, via de mão única:
como a UE tem os recursos financeiros de que o Mercosul carece,
financia programas em diferentes
áreas, para estimular o desenvolvimento.
A impossibilidade de avançar
mais na cúpula se deveu, principalmente, à crise na Argentina,
embora também tenha contribuído a eleição francesa, que paralisou qualquer iniciativa liberalizante na área agrícola.
De todo modo, o Itamaraty não
vê o resultado como retrocesso.
"O que se poderia temer seria
uma avaliação de parte a parte de
que era melhor fazer uma pausa
no processo, o que não aconteceu", diz o embaixador José Alfredo Graça Lima, representante do
Brasil na União Européia em Bruxelas.
"O importante foi manter a chama viva", conclui.
Lamy também festejou o lançamento de um pacote de facilitação
de negócios, medidas desburocratizadoras que facilitam o comércio, mas não interferem com as políticas de cada parte. "É uma sólida e pragmática colheita antecipada", diz o comissário europeu. (CLÓVIS ROSSI)
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