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ANÁLISE
América Latina ainda é aposta arriscada para investidor dos EUA
JAKE KEAVENY
DA REUTERS, NOVA YORK
As empresas latino-americanas estão na fila para o há
muito aguardado retorno de
suas ofertas de ações no mercado
dos EUA, mas aparentemente
não conseguem evitar sua reputação como aposta de risco.
No começo deste ano, as baixas
taxas de juros nos EUA e a estagnação das Bolsas começaram a
conduzir os investidores de volta
aos mercados emergentes, em
busca de retornos mais elevados.
Meia dúzia de empresas latino-americanas revelaram planos
para lançar ações em Bolsas de
valores dos EUA, com a emissão
de US$ 1,7 bilhão da mineradora
brasileira Vale do Rio Doce, em
março, servindo de abre-alas.
De lá para cá, no entanto, problemas políticos e econômicos
causaram uma redução na demanda. Três dos quatro lançamentos de ações que deveriam
ter sido realizados aparentemente foram cancelados, enquanto o
quinto, o lançamento de títulos
da companhia brasileira de água
Sabesp, obteve resultados bem
abaixo dos esperados.
No passado, dos investidores
que costumavam correr aos
mercados latino-americanos em
busca de ganhos elevado, muitos
saíam prejudicados pelos ciclos
de expansão e contração.
A abordagem cautelosa que
eles vêm empregando tem fundamentos firmes e leva em conta
as realidades do investimento na
região. A maior parte das empresas elogiadas como ótimos veículos de investimento na América Latina no começo e na metade
dos anos 90 tiveram mau desempenho e as economias dos países
em que estão sediadas também.
Das 60 ações de empresas latino-americanas que passaram a
ser negociadas nos EUA e continuam cotadas nelas desde a década passada, apenas 11 obtiveram retornos positivos em termos de dólares, de acordo com a
Dealogic LLC, uma empresa de
pesquisa. A ação média desse
grupo perdeu cerca de 30%.
Embora tenha havido alguns
destaques positivos, como o desempenho sólido do mercado de
ações do México, os riscos políticos e econômicos são graves em
toda a América Latina.
É certo que hoje em dia um
lançamento de ações a qualquer
preço é considerado um sucesso.
Os investidores se tornaram
mais conservadores desde o estouro da bolha da tecnologia, em
2000, e transferiram sua atenção
ao lançamento de ações de empresas estabelecidas e lucrativas.
A demanda por alternativas
continua elevada, enquanto os
investidores americanos enfrentam a estagnação de seus investimentos domésticos. Agora, depois de sofrer sérios abalos, as
condições que geraram as altas
passadas nos mercados de ações
estão de volta: baixas taxas de juros nos EUA, retorno fraco das
Bolsas de valores e sinais de uma
virada na economia mundial.
Como resultado, os administradores de fundos estudam as
ações estrangeiras baratas.
Embora os países asiáticos tenham apresentado o melhor desempenho entre os mercados
emergentes, o dinheiro também
começou a voltar à América Latina. Em fevereiro e março, os fundos especializados em América
Latina acompanhados pela Lipper Inc. registraram um influxo
líquido de US$ 225 milhões, mais
dinheiro novo do que nos dois
anos anteriores combinados.
Até agora este ano, o fundo
brasileiro da iShares teve alta de
800%, para US$ 238 milhões, enquanto o mexicano cresceu em
500%, para US$ 209 milhões.
Os dois países são o principal
foco dos investidores. As ações
do México, cuja economia está
muito ligada à dos EUA devido
ao Acordo Norte-Americano de
Livre Comércio (NAFTA), tiveram desempenho melhor do que
as americanas nos últimos dois
anos, e registram alta de mais de
10% este ano.
A despeito desses fatores positivos, a recepção aos lançamentos de novas ações tem sido gélida. Como resultado, não há novas empresas registradas para
lançar títulos, e as atividades
provavelmente não se animarão
até que sejam conhecidos os resultados da eleição brasileira, em
outubro, dizem os banqueiros.
Em janeiro, a Companhia de
Concessões Rodoviárias, maior
operadora de rodovias pagas
brasileira, testou as águas com a
colocação privada de US$ 127
milhões em ações, em março as
ações da Vale do Rio Doce, a
maior mineradora de ferro do
Brasil, também atraíram forte
demanda estrangeira.
A Sabesp, que opera o sistema
de água em São Paulo, levantou
US$ 207 milhões, cerca de um
terço menos do que pretendia, e
colocou apenas 36% de suas
ações nos EUA e não a maioria,
como planejara antes.
Se os investidores aprenderam
alguma coisa desde aqueles dias
foi escolher entre as empresas e
países, em lugar de entender a
América Latina como um elemento único dentro de uma classe de ativos.
Essa é uma das razões para que
a moratória recorde da dívida
externa argentina tenha exercido
efeito modesto sobre o México,
ou mesmo o Brasil.
Tradução de Paulo Migliacci
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