São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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COLAPSO NA ARGENTINA

Blejer, do BC, discorda das medidas propostas por Roberto Lavagna para acabar com o curralzinho

Tensão entre ministro e BC empurra dólar

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O enorme desacordo entre o Ministério da Economia e o Banco Central em torno das propostas para colocar fim ao ""curralzinho", o congelamento de depósitos em vigor desde dezembro, se converteu na mais nova ameaça ao governo da Argentina.
A tensão deflagrada anteontem, quando o mercado foi varrido por uma onda de rumores sobre a possível renúncia do presidente do BC, Mario Blejer, serviu de argumento para alta ontem de 5,2% na cotação do dólar, que fechou cotado a 3,45 pesos. Por enquanto, a crise acumula outro saldo: o pedido de afastamento de três diretores do BC -apenas Amalia Martínez teve saída confirmada. No início da noite de ontem, Blejer se reuniu com o presidente interino do país, Juan Carlos Maqueda, para lhe informar sobre a situação no sistema financeiro. Mas uma definição acerca de sua permanência no cargo só será tomada com o retorno ao país do presidente, Eduardo Duhalde.
Blejer discorda publicamente da proposta do ministro Roberto Lavagna para atenuar o curralzinho. O ministro pretende oferecer aos mantenedores de depósitos em prazo fixo, que somam 40 bilhões de pesos, uma série de opções para reaverem seus valores. O que incluiria devolver parte em espécie e o restante em bônus do governo em pesos ou dólares, com vencimento entre cinco e dez anos. Os bônus poderiam ser usados na compra de bens ou ativos.
Seria a forma, diz o ministro, de solucionar a crise que, segundo analistas, colocou em situação de insolvência a maior parte dos bancos argentinos e ao mesmo tempo promover alguma reativação da economia. O antecessor de Lavagna, Jorge Remes Lenicov, renunciou justamente depois de ter rechaçado seu plano de flexibilizar o curralzinho que se assemelhava ao do atual ministro.
A alternativa proposta pelo BC está alinhada com as condições defendidas pelos bancos privados e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Todos os depósitos de prazo fixo seriam convertidos em títulos com vencimento em dez anos e o Estado como único avalista. ""Entregar bônus compulsórios é inviável política e juridicamente", rebateu o secretário de Finanças, Guillermo Nielsen.

Mão do FMI
Os bancos privados transferiram para o FMI as expectativas de solução para a controvérsia.
Espera-se que, no encontro marcado para a próxima terça-feira, em Washington, a diretora-executiva do Fundo, Anne Krueger, convença o ministro Roberto Lavagna a aceitar a aplicação de um plano compulsório -reedição do Plano Bonex usado no governo Menem (1989-1999).
A direção do BC sustenta que a proposta do Ministério da Economia admitirá exceções que serão usadas pelos depositantes para continuar a retirar dinheiro em espécie dos bancos, amparados em decisões judiciais -o que seria impedido com a conversão de todos os depósitos em títulos.
A continuidade de uma sangria no sistema financeiro, segundo Blejer, obrigaria o governo a emitir mais moeda para socorrer os bancos. Ao assumir, o governo Duhalde estabeleceu um teto de emissão de 3,5 bilhões de pesos para este ano -já o teria superado em pelo menos 1 bilhão. E, para o BC, com o plano de Lavagna o governo teria que emitir ao menos mais 10 bilhões de pesos. O cenário desenhado pela banca privada e o BC é catastrófico: cotação do dólar a 5 pesos, inflação mensal de dois dígitos e quebra de pelo menos 40% dos bancos.



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