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COLAPSO NA ARGENTINA
Blejer, do BC, discorda das medidas propostas por Roberto Lavagna para acabar com o curralzinho
Tensão entre ministro e BC empurra dólar
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O enorme desacordo entre o Ministério da Economia e o Banco Central em torno das propostas para colocar fim ao ""curralzinho", o congelamento de depósitos em vigor desde dezembro, se converteu na mais nova ameaça ao governo da Argentina.
A tensão deflagrada anteontem,
quando o mercado foi varrido por
uma onda de rumores sobre a
possível renúncia do presidente
do BC, Mario Blejer, serviu de argumento para alta ontem de 5,2%
na cotação do dólar, que fechou
cotado a 3,45 pesos. Por enquanto, a crise acumula outro saldo: o
pedido de afastamento de três diretores do BC -apenas Amalia
Martínez teve saída confirmada.
No início da noite de ontem, Blejer se reuniu com o presidente interino do país, Juan Carlos Maqueda, para lhe informar sobre a
situação no sistema financeiro.
Mas uma definição acerca de sua
permanência no cargo só será tomada com o retorno ao país do
presidente, Eduardo Duhalde.
Blejer discorda publicamente
da proposta do ministro Roberto
Lavagna para atenuar o curralzinho. O ministro pretende oferecer
aos mantenedores de depósitos
em prazo fixo, que somam 40 bilhões de pesos, uma série de opções para reaverem seus valores.
O que incluiria devolver parte em
espécie e o restante em bônus do
governo em pesos ou dólares,
com vencimento entre cinco e dez
anos. Os bônus poderiam ser usados na compra de bens ou ativos.
Seria a forma, diz o ministro, de
solucionar a crise que, segundo
analistas, colocou em situação de
insolvência a maior parte dos
bancos argentinos e ao mesmo
tempo promover alguma reativação da economia. O antecessor de
Lavagna, Jorge Remes Lenicov,
renunciou justamente depois de
ter rechaçado seu plano de flexibilizar o curralzinho que se assemelhava ao do atual ministro.
A alternativa proposta pelo BC
está alinhada com as condições
defendidas pelos bancos privados
e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional). Todos os depósitos
de prazo fixo seriam convertidos
em títulos com vencimento em
dez anos e o Estado como único
avalista. ""Entregar bônus compulsórios é inviável política e juridicamente", rebateu o secretário
de Finanças, Guillermo Nielsen.
Mão do FMI
Os bancos privados transferiram para o FMI as expectativas de
solução para a controvérsia.
Espera-se que, no encontro
marcado para a próxima terça-feira, em Washington, a diretora-executiva do Fundo, Anne Krueger, convença o ministro Roberto
Lavagna a aceitar a aplicação de
um plano compulsório -reedição do Plano Bonex usado no governo Menem (1989-1999).
A direção do BC sustenta que a
proposta do Ministério da Economia admitirá exceções que serão
usadas pelos depositantes para
continuar a retirar dinheiro em
espécie dos bancos, amparados
em decisões judiciais -o que seria impedido com a conversão de
todos os depósitos em títulos.
A continuidade de uma sangria
no sistema financeiro, segundo
Blejer, obrigaria o governo a emitir mais moeda para socorrer os
bancos. Ao assumir, o governo
Duhalde estabeleceu um teto de
emissão de 3,5 bilhões de pesos
para este ano -já o teria superado em pelo menos 1 bilhão. E, para o BC, com o plano de Lavagna o
governo teria que emitir ao menos mais 10 bilhões de pesos. O
cenário desenhado pela banca
privada e o BC é catastrófico: cotação do dólar a 5 pesos, inflação
mensal de dois dígitos e quebra de
pelo menos 40% dos bancos.
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