São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Argentino usa vaca para driblar o curralzinho

LÉO GERCHMANN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O curralzinho (bloqueio dos depósitos bancários) está fazendo com que os argentinos tomem atitudes criativas para cumprir com seus compromissos: contribuintes do município de 9 de Julio, em Misiones, na região rural, estão pagando impostos usando gado como moeda.
O prefeito do município de 7.000 habitantes, Juan Báez, justificou o sistema dizendo que seu município está inserido no momento de crise nacional, mas com uma vantagem: "Por sorte, o meio rural oferece essas alternativas, e temos de aproveitá-las para atenuar o impacto social da crise".
Os animais arrecadados a título de pagamento tributário são utilizados para distribuição de alimentos à população carente por parte da prefeitura.
Trata-se, na verdade, da adoção dos "clubes del trueque" (clubes de troca), sistema de trocas que revive o escambo e contorna a falta de liquidez na economia, com a substituição do dinheiro por mercadorias ou serviços. Na Argentina, atualmente, milhões de dólares circulam dessa forma, e 4 milhões de pessoas estão envolvidas no sistema. A maioria das pessoas envolvidas é de classe média e está desempregada.
Outro tipo de troca é a realização de pagamentos com a amortização de dívidas bancárias. Ou seja, os "clubes" estão se disseminando em vários setores.
A utilização de animais para o pagamento de dívidas se sustenta no decreto provincial 77/2002, que permite a aceitação de comprovantes especiais para o cancelamento de dívidas mediante pagamento "in natura". O decreto vigora até o próximo 31 de dezembro e faz parte do Plano de Emergência Alimentícia, estabelecido em toda a Província de Misiones. É possível que outros município adotem a mesma estratégia de arrecadação.
A prática do "trueque" já chegou até mesmo ao Brasil. Em Canoas (região metropolitana de Porto Alegre), a prática tem ocorrido em feiras realizadas no salão da paróquia Nossa Senhora Aparecida e envolve 40 moradores do bairro Guajuviras, de Canoas.



Texto Anterior: À venda e sem socorro, Scotiabank continua com operações suspensas
Próximo Texto: Aznar "dá um sermão" em Duhalde
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.