São Paulo, sábado, 18 de maio de 2002

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Aznar "dá um sermão" em Duhalde

DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

O primeiro-ministro da Espanha, José María Aznar, aproveitou a entrevista coletiva de encerramento da cúpula entre a União Européia e o Mercosul, para um sermão público no presidente argentino Eduardo Duhalde: "O futuro da Argentina passa, em grande medida, por um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional)", receitou Aznar.
Duhalde limitava-se a balançar a cabeça em sinal de aprovação, a cada vez que o premiê espanhol citava o FMI e dizia que "um acordo o mais rápido possível é imprescindível".
O sermão de Aznar já havia sido feito também nas reuniões fechadas com o governante argentino, conforme o primeiro-ministro espanhol contou em público:
"Disse claramente que a União Européia estimula o governo argentino a adotar todas as medidas úteis para a reintegração do país aos mecanismos financeiros internacionais", em alusão ao fato de a Argentina ter sido obrigada a suspender os pagamentos de sua dívida externa, por absoluta falta de fundos.
A Espanha é a presidente de turno da UE neste primeiro semestre de 2002, o que significa que Aznar estava falando em nome do conglomerado de 15 países.

Só recomendações
Duhalde, que viera a Madri na expectativa de obter respaldo e eventualmente recursos financeiros, acabou ouvindo apenas recomendações. De Emílio Botín, o presidente do BSCH (Banco Santander Central Hispano), Duhalde ouviu a mesma idéia exposta por Aznar: faça um acordo com o FMI.
A única boa notícia dada por Botín: "Ele manifestou o desejo de permanecer na Argentina, mesmo sabendo que, devido à crise, pode não obter lucros", contou Duhalde.
Há duas semanas, o BSCH havia anunciado que era iminente o esgotamento de seus fundos na Argentina e que a casa matriz espanhola não pretendia colocar mais um centavo no país.
O chanceler argentino, Carlos Ruckauf, fazia, pela manhã, um discurso mais altaneiro. Dizia que a Argentina não viera à cúpula de Madri para "pedir esmolas", mas para pedir "abertura para a exportação de nossos produtos, que são melhores do que os deles", afirmou.
Na coletiva com Aznar, na presença igualmente de Romano Prodi, presidente da Comissão Européia (o braço executivo do conglomerado de 15 países), e de Javier Solana, uma espécie de super-chanceler europeu, no entanto, Duhalde humildemente dizia que seu governo estava acatando todas as recomendações para poder fechar um acordo com o FMI.

Arquivamento
Citou os avanços no arquivamento de duas leis contestadas pelos empresários e pelo setor financeiro (a de Falências e a de Subversão Econômica) e o acordo com as Províncias, para colocar ordem nas finanças públicas.
Chegou a prever para a primeira semana de junho o atendimento de todas as condições impostas para chegar a um acordo com o Fundo.
Quando Duhalde saiu do auditório em que se dera a coletiva, a Folha perguntou se ele concordava com a avaliação de Aznar de que o futuro da Argentina passava por um acordo com o Fundo, quando o governo de Fernando de la Rúa naufragara apesar (ou por causa) de um acordo com o FMI.
"Neste governo, o futuro passa, sim, por esse acordo", respondeu Duhalde.
O documento final da cúpula União Européia/América Latina e Caribe, tem um parágrafo dedicado à Argentina. No fundo, trata do mesmo conceito desenvolvido por Aznar, mas em linguagem muito mais diplomática.
Limita-se a dizer que os países firmantes apoiam "esforços das autoridades argentinas para completar um programa econômico sólido e amplo, que permitirá o êxito nas negociações com o Fundo Monetário Internacional e outras instituições financeiras". (CR)


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