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Aznar "dá um sermão" em Duhalde
DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI
O primeiro-ministro da Espanha, José María Aznar, aproveitou a entrevista coletiva de encerramento da cúpula entre a União
Européia e o Mercosul, para um
sermão público no presidente argentino Eduardo Duhalde: "O futuro da Argentina passa, em grande medida, por um acordo com o
FMI (Fundo Monetário Internacional)", receitou Aznar.
Duhalde limitava-se a balançar
a cabeça em sinal de aprovação, a
cada vez que o premiê espanhol
citava o FMI e dizia que "um acordo o mais rápido possível é imprescindível".
O sermão de Aznar já havia sido
feito também nas reuniões fechadas com o governante argentino,
conforme o primeiro-ministro espanhol contou em público:
"Disse claramente que a União
Européia estimula o governo argentino a adotar todas as medidas
úteis para a reintegração do país
aos mecanismos financeiros internacionais", em alusão ao fato
de a Argentina ter sido obrigada a
suspender os pagamentos de sua
dívida externa, por absoluta falta
de fundos.
A Espanha é a presidente de turno da UE neste primeiro semestre
de 2002, o que significa que Aznar
estava falando em nome do conglomerado de 15 países.
Só recomendações
Duhalde, que viera a Madri na
expectativa de obter respaldo e
eventualmente recursos financeiros, acabou ouvindo apenas recomendações. De Emílio Botín, o
presidente do BSCH (Banco Santander Central Hispano), Duhalde ouviu a mesma idéia exposta
por Aznar: faça um acordo com o
FMI.
A única boa notícia dada por
Botín: "Ele manifestou o desejo de
permanecer na Argentina, mesmo sabendo que, devido à crise,
pode não obter lucros", contou
Duhalde.
Há duas semanas, o BSCH havia
anunciado que era iminente o esgotamento de seus fundos na Argentina e que a casa matriz espanhola não pretendia colocar mais
um centavo no país.
O chanceler argentino, Carlos
Ruckauf, fazia, pela manhã, um
discurso mais altaneiro. Dizia que
a Argentina não viera à cúpula de
Madri para "pedir esmolas", mas
para pedir "abertura para a exportação de nossos produtos, que
são melhores do que os deles",
afirmou.
Na coletiva com Aznar, na presença igualmente de Romano
Prodi, presidente da Comissão
Européia (o braço executivo do
conglomerado de 15 países), e de
Javier Solana, uma espécie de super-chanceler europeu, no entanto, Duhalde humildemente dizia
que seu governo estava acatando
todas as recomendações para poder fechar um acordo com o FMI.
Arquivamento
Citou os avanços no arquivamento de duas leis contestadas
pelos empresários e pelo setor financeiro (a de Falências e a de
Subversão Econômica) e o acordo
com as Províncias, para colocar
ordem nas finanças públicas.
Chegou a prever para a primeira
semana de junho o atendimento
de todas as condições impostas
para chegar a um acordo com o
Fundo.
Quando Duhalde saiu do auditório em que se dera a coletiva, a
Folha perguntou se ele concordava com a avaliação de Aznar de
que o futuro da Argentina passava por um acordo com o Fundo,
quando o governo de Fernando
de la Rúa naufragara apesar (ou
por causa) de um acordo com o
FMI.
"Neste governo, o futuro passa,
sim, por esse acordo", respondeu
Duhalde.
O documento final da cúpula
União Européia/América Latina e
Caribe, tem um parágrafo dedicado à Argentina. No fundo, trata
do mesmo conceito desenvolvido
por Aznar, mas em linguagem
muito mais diplomática.
Limita-se a dizer que os países
firmantes apoiam "esforços das
autoridades argentinas para completar um programa econômico
sólido e amplo, que permitirá o
êxito nas negociações com o Fundo Monetário Internacional e outras instituições financeiras".
(CR)
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