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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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VÔO CEGO

Dados oficiais mostram que a eficiência operacional das companhias aéreas caiu pela metade desde dezembro de 1999

Passageiros sofrem com crise das aéreas

LÁSZLÓ VARGA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise do setor aéreo não afeta só os balanços das empresas do setor. O passageiro tem sofrido, e muito. Dados obtidos pela Folha no DAC (Departamento de Aviação Civil) mostram que a eficiência operacional das companhias é hoje a metade da registrada em dezembro de 1999.
A eficiência (média da pontualidade e do não-cancelamento) dos vôos domésticos naquele período foi de 88%. Em março de 2003, apenas 44% dos vôos não tiveram problemas.
A degradação no serviço de bordo (fornecimento de bebidas, comidas e entretenimento) também é gritante. Há cinco anos, o passageiro de qualquer classe de vôo doméstico tinha à sua disposição refeições como feijoadas, pratos árabes e cozinha francesa. Hoje, precisa se contentar com um único sanduíche de queijo ou carne. Ou barras de cereais.
Para o consultor José Carlos Martinelli, o mundo da aviação passou a ser outro após os atentados de 11 de setembro de 2001 e o Brasil não ficou alheio a esse processo. No país, a concorrência acirrada, a alta do dólar e o preço do petróleo em 2002 serviram como gota d'água para as aéreas, que cortam radicalmente seus custos para lidar com uma dívida total de cerca de US$ 2 bilhões.
"Para economizar, as companhias passaram a trabalhar com menor número de aviões de reserva e de peças sobressalentes. Isso afeta a operacionalidade."
As empresas confirmam o corte de despesas. Algumas admitem a queda de eficiência. Mas responsabilizam fatores conjunturais ou companhias terceirizadas pelo problema. O vice-presidente técnico da Gol, David Barioni Neto, diz que os dados do DAC resultam de motivos temporários.
"As empresas que nos oferecem serviços terceirizados, como escadas de desembarque e tratores para reboque de aviões, tiveram problemas para importar equipamentos", afirma Barioni. "Estamos voltando ao normal."
A queda no índice de operacionalidade da Gol é dramática. Em fevereiro de 2001, após o início de suas operações, a empresa tinha um índice de 96%. Em março de 2003, o percentual caiu para 68%.
Ao trocarem refeições por lanches, as companhias obtiveram uma economia considerável. A TAM fez sua reformulação nos serviços de bordo em fevereiro de 2003. A empresa afirma que, antes do processo, cerca de 5% a 8% dos seus custos diziam respeito à alimentação dentro dos aviões. Agora, os percentuais estariam entre 4% e 6%, dependendo do vôo.
Para um especialista, a crise na aviação é tão grave (a Varig deve US$ 1 bilhão) que as empresas hoje se dedicam mais a lidar com credores e a contratar advogados do que a melhorar seus serviços.



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