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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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Para reduzir custos, empresas cortam bebidas finas e refeições nas viagens, mas em geral os preços aumentaram

Aéreas trocam uísque por barra de cereal

Flávio Florido/Folha Imagem
Fila de passageiros no aeroporto de Congonhas, em São Paulo; para reduzir custos, empresas aéreas cortam bebidas e refeições


DA REPORTAGEM LOCAL

O regime espartano que as companhias aéreas impuseram aos passageiros nos últimos meses, que inclui só barra de cereal e amendoim, não resultou no barateamento geral dos preços dos bilhetes. Pelo contrário. Houve fortes reajustes em muitas passagens aéreas.
A Gol, por exemplo, estreou na rota São Paulo (Congonhas)-Rio (Santos Dumont) em março de 2002 cobrando R$ 128 pelo bilhete de ida. A Varig e a TAM cobravam preços 117% maiores. Hoje, a Gol cobra R$ 249 pela mesma passagem. Os outros dois concorrentes praticam preços 20% maiores.
A Gol, portanto, se aproximou dos preços da Varig e da TAM. O fato surpreende porque a primeira companhia trabalha todo o seu marketing na fórmula "preço baixo, serviço de bordo simples". Ela serve barra de cereal, amendoim e refrigerante a bordo, enquanto a Varig e a TAM oferecem lanches (antes do corte de custos serviam refeições).
A assessoria da Gol nega que a companhia esteja praticando preços maiores. Segundo a empresa, a diferença entre suas tarifas e as da concorrência diminuíram porque os competidores mudaram de política. A Gol afirma que continua buscando a redução de seus custos operacionais e aumentando a eficiência.
A Varig e a TAM chegaram a reajustar seus preços na rota São Paulo-Rio em 10% de março de 2002 a março deste ano (abaixo da inflação). A guerra de preços e a baixa ocupação dos assentos não teriam permitido altas maiores.
A TAM fez um pequeno recuo nos preços da rota quando o acordo de compartilhamento de vôos entre as duas empresas teve início, em março. A TAM baixou a tarifa de R$ 309 para R$ 299 -redução de 3,2%.
Segundo a TAM, a redução foi adotada para "emparelhar" o preço com o da Varig, companhia com quem tem negociado uma fusão.

Sem piano
A TAM é exemplo de empresa que mudou fortemente seu perfil de atendimento com a crise. Na década de 90, a companhia ganhou clientes porque oferecia um serviço de bordo melhor do que a concorrência.
Na sua sala de embarque do aeroporto de Congonhas, por exemplo, a empresa montou um bufê com sucos, biscoitos e jornais. O comandante Rolim Amaro, então presidente da empresa, morto em julho de 2001, foi visto várias vezes ao piano tocando para os passageiros.
Hoje não há mais piano, sucos ou sanduíches na sala de embarque de Congonhas. Só água e café. Vinhos e uísques deixaram também de fazer parte do serviço de bordo dos vôos domésticos da TAM. A mesma política de corte de gastos foi adotada por todas as empresas aéreas do país.
Nos vôos internacionais, o estrago da política de corte de gastos também foi sensível. A Varig, por exemplo, eliminou vinhos caros. Oferece bebidas mais baratas, mesmo para a primeira classe e a executiva.
Anos atrás, a Varig chegou a ter uma variedade de 16 tipos de sanduíches para oferecer na rota São Paulo-Rio. Em cada vôo, a empresa escolhia oito como opção aos passageiros. Hoje, a empresa trabalha com oito tipos de sanduíches, oferecendo dois por vôo.

Catering
Um dos setores da economia mais atingidos pelo corte de gastos na alimentação a bordo foi o das empresas de catering (que fornecem alimentos). "Antes da crise no setor, cerca de 60% da alimentação que oferecíamos para as empresas aéreas era de refeições. Os outros 40% eram lanches. Hoje, a proporção é 70% de lanches e 30% de refeições", afirma Euler Marques, diretor da empresa Comissaria Rio.
A companhia atende a TAM, Vasp e TAG (empresa aérea de Angola). Marques afirma que seu faturamento deve cair cerca de 25% neste ano em relação a 2001. "Cheguei a ter 8.100 funcionários naquele ano. Hoje estou com 5.300." (LÁSZLÓ VARGA)


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