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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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Valorização em excesso é "convite à crise", diz economista chileno

DA REPORTAGEM LOCAL

"A forte apreciação de uma moeda é um convite à crise financeira". A frase é do economista chileno Ricardo French-Davis, um dos pais do modelo de controle de capital que vigorou no Chile entre 1991 e 1998.
Economia pequena fortemente dependente de exportações, o Chile não podia, segundo French-Davis, receber fluxos incontroláveis de capital porque isso levaria à valorização excessiva de sua moeda. O economista -que é hoje o principal assessor da Cepal (Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe) no Chile e professor da Universidade de Santiago- diz que isso ameaçaria a competitividade das commodities exportadas pelo país. Ele é autor do livro "Reforming the Reforms in Latin America Macroeconomics, Trade, Finance".
Essa foi a causa da adoção de um controle sobre quase todo o fluxo de capital que ingressasse no Chile. Um percentual do investimento ficava depositado no banco central por um ano. Depois disso, os recursos eram devolvidos. A alíquota de depósito variou de 10% a 30%. Hoje, depois da forte redução de fluxos de capitais nos últimos anos, está reduzida a zero, embora o mecanismo para cobrança ainda exista.
French-Davis foi economista-chefe do BC chileno entre 1990 e 1992 e fez seu PHD na Universidade de Chicago, reduto de famosos economistas ortodoxos. Conta com orgulho que no encontro de ex-alunos, Michael Mussa, ex-economista-chefe do FMI, elogiou quatro vezes o controle de capital chileno. (EF)
 
Folha - Alguns críticos dizem que a redução de investimentos resultante dos controles de capital limitou o crescimento econômico do Chile. O senhor concorda?
Ricardo French-Davis -
Isso é pura, mas pura, ideologia absolutamente inconsistente com a realidade. Como alguém pode dizer isso se o Chile, entre 1991 e 1998, teve o maior ingresso de investimento estrangeiro direto da sua história? O Chile teve o maior volume de investimentos domésticos de sua história. E teve a maior taxa de crescimento econômico.

Folha - Quais são esses dados?
French-Davis -
O volume de investimento estrangeiro direto anual foi de cerca de 5% do PIB e os investimentos totais chegaram a 28% do PIB. Na época da liberdade de capitais no governo Pinochet (Augusto Pinochet, ditador chileno que governou o país entre 1973 e 1990), esse percentual era dez pontos percentuais menor.
Isso explica porque no período de Pinochet o crescimento médio foi de 2,9% ao ano. Foram anos de muita instabilidade em que o PIB disparava ou despencava. Já entre 1990 e 1998, o crescimento foi muito mais estável e atingiu uma média de 7% ao ano.

Folha - A moeda brasileira já se apreciou 20% neste ano, principalmente por conta da entrada de investimentos de curto prazo. O governo deveria intervir no mercado?
French-Davis -
De forma geral, se um governo observa que a taxa de câmbio está se valorizando muito, deve ser muito cuidadoso. Nesse caso, acho que os bancos centrais devem intervir. A forte apreciação cambial é um convite para crises financeiras no futuro.



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