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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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Especialistas são unânimes sobre reduzir Selic, mas divergem sobre EUA, que passariam por "ajuste", segundo a Bear Stearns

Brasil precisa cortar juros, dizem analistas

FERNANDO CANZIAN
DE WASHINGTON

Especialistas em economia global concordam mais sobre a viabilidade de o Brasil cortar já a taxa de juros e tentar voltar a crescer do que sobre os rumos da economia dos Estados Unidos nos próximos meses.
Em entrevista à Folha, o economista-chefe da corretora Bear Stearns, David Malpass, afirma que o Brasil não deveria esperar e continuar se preocupando com a inflação para cortar os juros.
"O presidente Lula tem feito muitos progressos, mas a pergunta chave agora é como tirar a maior vantagem do real mais forte. O Brasil deveria aumentar rapidamente as reservas internacionais e cortar agora os juros", afirma. "Com o dólar no valor atual, não há mais riscos inflacionários. E o que o Brasil precisa desesperadamente é de crescimento."
Desmond Lachman, especialista em mercados emergentes e ex-diretor da corretora Salomon Smith Barney e do FMI (Fundo Monetário Internacional), diz que o Brasil deveria ser "agressivo" no corte de juros. Para ele, o risco de inflação já está descartado. "O Banco Central deveria reduzir os juros mesmo que isso levasse a um real mais fraco. O ponto vital, que vai recolocar o Brasil de volta aos trilhos, é o crescimento."
Lachman afirma que, no curto prazo, as indefinições na economia americana têm favorecido o Brasil, à medida que os investidores estão procurando países com taxas de juros elevadas. O economista não acredita na recuperação da economia dos EUA no médio prazo e afirma que, por isso, o Brasil deveria aproveitar a chance agora de retomar sozinho uma trajetória de crescimento. "Temos uma crise sincronizada nos EUA, no Japão e na Europa, com taxas de juro muito baixas. Dificilmente vamos sair disso tão cedo. No curto prazo, tem sido bom para os emergentes. Mas não continuará assim indefinidamente", afirma.
Malpass, ao contrário, diz que os EUA estão apenas em uma fase de "ajuste" e acredita que a desvalorização do dólar ante o euro vai ajudar a economia do país a se recuperar rapidamente. Ele afirma que, ao contrário do Japão, que demorou para desvalorizar o iene e baixar os juros quando começou a entrar em crise, "os EUA têm sido rápidos nas decisões".
"Estamos hoje em um ponto em que a taxa de juros é menor do que a inflação, o que é um tremendo estímulo. O Japão, em dez anos de política monetária, nunca conseguiu isso", diz.
"Os pessimistas vão dizer: "não vai funcionar, pois ainda há uma capacidade ociosa muito grande". Não creio que isso seja um obstáculo", afirma Malpass. "As coisas mudam rapidamente na economia. Muitos setores estão voltando aos lucros e devem retomar seus ciclos de investimentos. Quando os juros caem a um patamar tão baixo como o atual, as empresas começam a querer correr algum risco e investir."
John Makin, da corretora Caxton Associates e ex-consultor do Tesouro e do banco central americano, afirma que o importante neste momento é que o Fed tem "mostrado ação. O maior problema é não fazer nada".
Makin afirma, no entanto, que os últimos sinais de deflação na economia americana "complicaram" as coisas. "Ao sugerir que vai baixar o juro para recuperar a economia, o Fed está dizendo: "comprem agora, pois tudo vai ficar mais caro depois". O problema é que a deflação começa a passar uma mensagem oposta a essa."



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