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São Paulo, domingo, 18 de maio de 2003

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Para consultor, Selic elevada derrubou dólar

DA REPORTAGEM LOCAL

A valorização do real está colocando frente a frente os interesses da economia real e o dogma dos tecnocratas que seguem os manuais de economia que rezam: em sistema de câmbio livre, não se mete a mão.
"A presença de representantes da indústria, da agricultura e do setor exportador no governo é que está alimentando a polêmica sobre a valorização do real", diz Paulo Possas, diretor da Eagle Capital. "E isso é muito saudável."
Na opinião dele, esse conflito de interesses e visões vai obrigar o país a discutir o fim da ciranda financeira. "A questão que está por trás da valorização do real é a absurda taxa de juros que se pratica no Brasil há mais de 20 anos", diz Possas.
Segundo ele, o que atraiu o grande volume de capital especulativo, que derrubou a cotação da moeda americana neste ano, foi a puxada na taxa básica de juros, a Selic, para 26,5% ao ano. "O que está colocado em questão é a mudança do atual modelo de especulação financeira para outro que estimule a produção e gere crescimento econômico", afirma. Nesse sentido, ele diz que o que o país precisa é de "um pouco mais de câmbio e muito menos juro".

Sobe-e-desce
Para Emílio Garófalo, ex-diretor do Banco Central, o principal problema do câmbio hoje não é o seu patamar, mas a volatilidade (oscilação diária). O forte sobe-e-desce das cotações num curto período de tempo -às vezes em horas- é o que está parando o país.
"A volatilidade atinge todo mundo, enquanto que o real valorizado penaliza apenas alguns setores exportadores e as empresas que têm a maior parte dos seus custos de produção em reais," diz Garófalo.
A volatilidade do câmbio, segundo ele, está amarrando a economia e a produção. "O importador tem medo de fazer um financiamento para comprar insumos lá fora a um dólar barato e ter que liquidar o empréstimo dentro de seis meses, com a moeda em um patamar mais alto", diz. Por isso, mesmo com o câmbio favorável, as importações não cresceram.
A volatilidade também trava as empresas, que não conseguem planejar a produção, formar preços ou fechar contratos de exportação, pois não podem garantir preços futuros.
Segundo Garófalo, uma empresa que depende da importação de insumos e exporta parte de sua produção pode ter prejuízos pesados num único dia com a oscilação do câmbio. "Se num mesmo dia o dólar sobe 1,5% e depois cai 1%, dependendo da hora em que a empresa fechar os contratos de financiamento à importação e exportação, perderá uma fortuna."
Esse quadro de volatilidade, diz o especialista, se combate com pequenas intervenções diárias do BC no mercado de câmbio. "Mas a autoridade monetária ainda não sabe lidar direito com a volatilidade do câmbio", afirma.
O problema da atual política de câmbio flutuante, segundo Garófalo, é que só a moeda flutua. "Mas os importadores e os exportadores não têm liberdade para comprar e vender dólar quando quiserem, aproveitando a melhor cotação." (SANDRA BALBI)


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