São Paulo, terça-feira, 18 de maio de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FÓRUM NACIONAL

Na abertura de evento no Rio, presidente defende plano do governo

Lula rebate críticas e diz que país tem projeto e comando

Felipe Varanda/Folha Imagem
Presidente Lula cumprimenta a governadora do Rio, Rosinha Matheus, acompanhado do ex-ministro João Paulo dos Reis Velloso


CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rebateu ontem, em discurso, as críticas de que o governo estaria sem rumo e sem projeto. "O país tem um projeto, tem comando exercido democraticamente e voltou a ter uma verdadeira estratégia de desenvolvimento nacional e de inserção soberana no mundo", afirmou, ao abrir de manhã, no Rio, a 16ª edição do Fórum Nacional.
Lula disse que o objetivo do governo, "desde o primeiro dia, tem sido o de proporcionar ao país um novo ciclo histórico de crescimento sustentado, do qual a inclusão social seja, ao mesmo tempo, motor e resultado".
O presidente citou o verso "caminhante, o caminho se faz ao caminhar", do poeta espanhol Antonio Machado (1875-1939), para dizer que o caminho perseguido por seu governo é "incompatível com planos supostamente milagrosos, com pacotes aparentemente mágicos".
Lula afirmou também que o Brasil "recuperou sua auto-estima e a sua visão de futuro". Para ele, um "governo de mudanças" deve "conhecer bem e avaliar com lucidez os obstáculos que devem ser vencidos", tanto no discurso como na prática, "para que os avanços pretendidos não sejam fogo de palha". "Tropeços circunstanciais existem, como em qualquer governo, e, se a experiência prática recomenda, fazemos aperfeiçoamentos."
A suposta falta de rumo do governo tem sido apontada principalmente por lideranças do PSDB, entre elas o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No começo deste mês, em seminário na USP (Universidade de São Paulo), FHC disse que seu governo tinha um projeto e emendou, irônico: "Imagino que o governo Lula também tenha um projeto. Ainda não descobri qual, mas imagino que tenha". O ex-presidente criticou recentemente a política externa do atual governo.
No final de março, uma nota redigida em reunião do PSDB, do PDT e do PFL, todos partidos da oposição, chamou o governo de "apático, confuso, sem liderança, sem imaginação e sem projetos".

Juros americanos
O Fórum Nacional, aberto pelo presidente, é um evento que anualmente debate os problemas conjunturais e estruturais do país e propostas para resolvê-los.
Em seu discurso, Lula evitou o improviso e se ateve quase integralmente à leitura de um texto escrito. Ele disse que em 2003 a prioridade era "superar a grave crise econômica e colocar o país novamente nos trilhos".
"Esse foi o primeiro e imprescindível passo no sentido de virar a página de quase uma década de estagnação", afirmou.
Agora, segundo o presidente, cabe "zelar pela estabilidade reconquistada, tornando-a cada vez mais resistente às turbulências externas". Mas, segundo Lula, o rumo do crescimento só pode ser alcançado se o país se concentrar nele, em vez de se preocupar com problemas externos.
"Precisamos apenas acreditar que, se nós definirmos conjuntamente os passos que o Brasil tem que dar e não ficarmos olhando as tentativas de crise internacional causada por aumento de juros americanos (...), vamos conseguir para o Brasil o melhor desempenho e o melhor desenvolvimento sustentável que este país já teve."
Segundo o presidente, a experiência mundial mostra que as nações prósperas são aquelas que conseguem "fundir a responsabilidade econômica com a responsabilidade social". Ele rejeitou a existência de uma dicotomia entre crescimento e estabilidade, ao afirmar que "o crescimento sem estabilidade é insustentável, historicamente".
O presidente listou uma série de iniciativas do seu governo, desde as reformas tributária e da Previdência, que ele reconhece inconclusas, até investimentos na área social e na econômica.
Disse que o governo está, com o projeto das PPPs (Parcerias Público-Privadas), entre outros, preparando terreno para os investimentos privados. "O governo está fazendo a sua parte e, certamente, os empresários farão a sua, aumentando os investimentos."
"Quando temos bons projetos, as coisas acontecem no Brasil", disse. "Muitas vezes, nós ficamos chorando muito, e o BNDES pode ser prova disso, de que nem sempre por trás da choradeira há um bom projeto".
O Fórum Nacional prossegue até quinta-feira, na sede do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), no centro do Rio.


Texto Anterior: Luís Nassif: O gigante e o áulico
Próximo Texto: Quebra de protocolo: Servidores protestam dentro do auditório
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.