São Paulo, sexta-feira, 18 de maio de 2007

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Meirelles diz a Lula que juro cai meio ponto

Aceleração do ritmo de queda da Selic, já sinalizada pelo BC e esperada pelo mercado, é reforçada pelo recuo do dólar

Governo já trabalha com a possibilidade de a moeda americana chegar ao piso de R$ 1,80 por período curto de tempo antes de voltar a R$2


KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus principais ministros já trabalham com a possibilidade de a cotação do dólar chegar a R$ 1,80. Mas avaliam que seria uma espécie de piso e que a moeda voltaria a um patamar de R$ 2 ou um pouco mais.
Segundo a Folha apurou, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, já disse a Lula que a taxa básica de juros, a Selic, cairá 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) -5 e 6 de junho. A Selic está hoje em 12,5% ao ano. O juro alto estimula a entrada de dólares no país, em busca da alta remuneração, elevando a cotação do real.
Há integrantes da cúpula do governo que avaliam que uma queda de 0,5 ponto percentual seria até modesta diante do cenário cambial. Argumentam que, na última reunião do Copom, o placar apertado a favor da queda de 0,25 ponto percentual já sinalizava a possibilidade de queda maior na próxima reunião. Dos sete diretores que formam o Copom , quatro votaram por 0,25 e três, por 0,5.
A última vez em que o dólar chegou a R$ 1,80 foi em agosto de 2000. Para o economista-chefe do Unibanco, Marcelo Salomon, um dólar nesse patamar não traria novos debates sobre o efeito do câmbio na economia. "Continuaria sendo a mesma discussão do câmbio a R$ 1,90 ou a R$ 2", afirma.
Segundo ele, continuaria sendo necessário que empresas investissem em elevar eficiência para que seguissem competitivas no mercado externo. Parte do mercado já dá como provável a queda de 0,5 ponto percentual na reunião de junho do Copom -órgão do BC que se reúne a cada 45 dias para fixar a Selic. Portanto, na opinião de alguns integrantes do governo, surpresa mesmo seria o BC reduzir a taxa em 0,75 ou 1 ponto percentual.
Apesar dessa avaliação de parte da cúpula do governo, Lula já se daria por satisfeito com uma queda de meio ponto.
O próprio presidente diz nas conversas reservadas que, na sua experiência de lidar com o Banco Central, nunca errou quando apostou no conservadorismo da instituição. Na opinião de Lula, mais importante do que o tamanho da queda são a continuidade prolongada do processo de redução dos juros e a elaboração de medidas para proteger setores econômicos que geram emprego de forma intensiva.
Lula continua a apostar numa taxa Selic nominal na casa dos 10% em dezembro -juros reais de cerca de 6% ao ano com inflação de 4%. E acha que a sinalização no final do ano será de continuidade da queda dos juros em 2008. Isso já geraria agora uma expectativa positiva nos agentes econômicos e nos setores mais prejudicados com o câmbio valorizado.
Mostraria, na avaliação da cúpula do governo, sua preocupação em não permitir que uma nova armadilha cambial atrapalhe o crescimento do país e a geração de emprego.
A Folha revelou ontem que setores do governo já temem o custo político de um câmbio valorizado ao longo do segundo mandato de Lula. Daí a preocupação em combinar a aceleração da queda dos juros com medidas compensatórias.
Ministros argumentam que a situação do câmbio hoje é diferente da do governo FHC. Afirmam que o real forte no primeiro mandato de FHC (1995-98) foi mantida artificialmente. Já Lula usa métodos artificiais no sistema de câmbio flutuante, como compra de dólares em grande quantidade pelo BC, para evitar valorização do real.
Seria, portanto, um problema diferente e resultante de bons indicadores, como a proximidade do "grau de investimento" (recomendação de agências americanas que apontam queda do risco de colocar dinheiro no país).
Auxiliares de Lula dizem que há preocupação no governo com o câmbio, mas que não é dramática.


Colaborou NEY HAYASHI DA CRUZ, da Sucursal de Brasília

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