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Meirelles diz a Lula que juro cai meio ponto
Aceleração do ritmo de queda da Selic, já sinalizada pelo BC e esperada pelo mercado, é reforçada pelo recuo do dólar
Governo já trabalha com a possibilidade de a moeda americana chegar ao piso de R$ 1,80 por período curto de tempo antes de voltar a R$2
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus principais ministros já trabalham com a possibilidade de a cotação do dólar
chegar a R$ 1,80. Mas avaliam
que seria uma espécie de piso e
que a moeda voltaria a um patamar de R$ 2 ou um pouco mais.
Segundo a Folha apurou, o
presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, já disse a
Lula que a taxa básica de juros,
a Selic, cairá 0,5 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) -5 e 6 de junho. A Selic está hoje em 12,5% ao ano.
O juro alto estimula a entrada de dólares no país, em busca
da alta remuneração, elevando
a cotação do real.
Há integrantes da cúpula do
governo que avaliam que uma
queda de 0,5 ponto percentual
seria até modesta diante do cenário cambial. Argumentam
que, na última reunião do Copom, o placar apertado a favor
da queda de 0,25 ponto percentual já sinalizava a possibilidade de queda maior na próxima
reunião. Dos sete diretores que
formam o Copom , quatro votaram por 0,25 e três, por 0,5.
A última vez em que o dólar
chegou a R$ 1,80 foi em agosto
de 2000. Para o economista-chefe do Unibanco, Marcelo
Salomon, um dólar nesse patamar não traria novos debates
sobre o efeito do câmbio na
economia. "Continuaria sendo
a mesma discussão do câmbio a
R$ 1,90 ou a R$ 2", afirma.
Segundo ele, continuaria
sendo necessário que empresas
investissem em elevar eficiência para que seguissem competitivas no mercado externo.
Parte do mercado já dá como
provável a queda de 0,5 ponto
percentual na reunião de junho
do Copom -órgão do BC que
se reúne a cada 45 dias para fixar a Selic. Portanto, na opinião de alguns integrantes do
governo, surpresa mesmo seria
o BC reduzir a taxa em 0,75 ou
1 ponto percentual.
Apesar dessa avaliação de
parte da cúpula do governo,
Lula já se daria por satisfeito
com uma queda de meio ponto.
O próprio presidente diz nas
conversas reservadas que, na
sua experiência de lidar com o
Banco Central, nunca errou
quando apostou no conservadorismo da instituição.
Na opinião de Lula, mais importante do que o tamanho da
queda são a continuidade prolongada do processo de redução dos juros e a elaboração de
medidas para proteger setores
econômicos que geram emprego de forma intensiva.
Lula continua a apostar numa taxa Selic nominal na casa
dos 10% em dezembro -juros
reais de cerca de 6% ao ano
com inflação de 4%. E acha que
a sinalização no final do ano será de continuidade da queda
dos juros em 2008. Isso já geraria agora uma expectativa positiva nos agentes econômicos e
nos setores mais prejudicados
com o câmbio valorizado.
Mostraria, na avaliação da
cúpula do governo, sua preocupação em não permitir que
uma nova armadilha cambial
atrapalhe o crescimento do
país e a geração de emprego.
A Folha revelou ontem que
setores do governo já temem o
custo político de um câmbio
valorizado ao longo do segundo
mandato de Lula. Daí a preocupação em combinar a aceleração da queda dos juros com
medidas compensatórias.
Ministros argumentam que a
situação do câmbio hoje é diferente da do governo FHC. Afirmam que o real forte no primeiro mandato de FHC (1995-98) foi mantida artificialmente.
Já Lula usa métodos artificiais
no sistema de câmbio flutuante, como compra de dólares em
grande quantidade pelo BC, para evitar valorização do real.
Seria, portanto, um problema diferente e resultante de
bons indicadores, como a proximidade do "grau de investimento" (recomendação de
agências americanas que apontam queda do risco de colocar
dinheiro no país).
Auxiliares de Lula dizem que
há preocupação no governo
com o câmbio, mas que não é
dramática.
Colaborou NEY HAYASHI DA CRUZ, da Sucursal de Brasília
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