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À beira da recessão, país
aguarda a decisão do BC
MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL
O número dos que acreditam
que a economia brasileira está à
beira da recessão só aumentou
desde o final de maio, quando o
Banco Central decidiu que não alteraria a taxa de juros. Não faltam
motivos: o crédito continuou encolhendo, a produção das fábricas
e as vendas do comércio despencaram e o desemprego subiu.
O alerta mais forte e de maior
repercussão foi o resultado do PIB
(Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, divulgado pelo
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apenas uma
semana depois da decisão do BC.
A economia brasileira, revelou o
instituto, patinou no primeiro trimestre: caiu 0,1% em relação ao
último trimestre de 2002.
Os indicadores de abril -a
maioria das informações analisadas pelo BC na última reunião era
de março- mostram que, na melhor das hipóteses, este trimestre
será tão ruim quanto o primeiro.
A produção industrial caiu 4,2%
em abril. Apenas o agronegócio e
os setores com grande inserção
no mercado internacional escaparam do que o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial) chamou de início de
uma recessão industrial.
Também em abril, as vendas do
varejo, ainda segundo dados do
IBGE, caíram pelo quinto mês
consecutivo. A queda em relação
ao mesmo mês de 2002 foi de
3,82%. Não foi um tombo tão
grande quanto o de março, de
11,35%, mas mostra que o consumidor, sem crédito e com pouca
renda, está comprando menos.
As vendas de papelão ondulado
caíram 2% em maio quando comparadas com as de abril. Nos primeiros cinco meses do ano, a queda em relação ao mesmo período
do ano passado ultrapassou 14%.
A taxa de desemprego subiu em
todos os meses deste ano. Segundo o IBGE, ela foi de 12,4% em
abril. Na região metropolitana de
São Paulo, de acordo com o Dieese, o desemprego total, apurado
segundo metodologia diferente
da do IBGE, bateu em 20,6% -a
taxa mais alta desde que o indicador começou a ser calculado, em
1985.
Os indicadores mostram uma
economia patinando ou encolhendo. Isso significa que o BC reduzirá os juros hoje? Nem todos
os analistas dizem acreditar que
sim. O objetivo da política monetária é atingir a meta de inflação
definida pelo governo, de 8,5%
para este ano. Para isso, o BC usa
os juros e altera a quantidade de
crédito disponível na economia.
Mas juros altos e crédito escasso
não "abatem" a inflação diretamente. O primeiro tiro é na atividade econômica: sem crédito e
com juros altos, os consumidores
compram menos e os empresários investem e produzem pouco.
Com o recuo na atividade econômica, fica mais difícil ajustar preços e, assim, a inflação se estabiliza ou cai.
A economia começou a encolher e a inflação realmente arrefeceu. Em maio, o IGP-DI registou
deflação. O IPCA, índice oficial e
usado pelo BC para definir a meta, ficou em 0,61% em maio -em
abril, havia atingido 0,97%. Mas
as projeções de inflação para este
ano ainda estão acima da meta estabelecida. Segundo o BC, os analistas do mercado financeiro esperam taxa de 11,84%.
Para parte dos analistas, o Banco Central deveria ser mais cauteloso, não arriscar sua credibilidade, manter a taxa de juros e esperar por mais sinais de que a inflação foi controlada. Mas o "mercado" está dividido: há quem avalie
que o custo de manter o aperto
monetário será levar o país, desnecessariamente, a assumir um
risco maior de recessão.
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