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São Paulo, quarta-feira, 18 de junho de 2003

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À beira da recessão, país aguarda a decisão do BC

MARCELO BILLI
DA REPORTAGEM LOCAL

O número dos que acreditam que a economia brasileira está à beira da recessão só aumentou desde o final de maio, quando o Banco Central decidiu que não alteraria a taxa de juros. Não faltam motivos: o crédito continuou encolhendo, a produção das fábricas e as vendas do comércio despencaram e o desemprego subiu.
O alerta mais forte e de maior repercussão foi o resultado do PIB (Produto Interno Bruto) do primeiro trimestre, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) apenas uma semana depois da decisão do BC. A economia brasileira, revelou o instituto, patinou no primeiro trimestre: caiu 0,1% em relação ao último trimestre de 2002.
Os indicadores de abril -a maioria das informações analisadas pelo BC na última reunião era de março- mostram que, na melhor das hipóteses, este trimestre será tão ruim quanto o primeiro.
A produção industrial caiu 4,2% em abril. Apenas o agronegócio e os setores com grande inserção no mercado internacional escaparam do que o Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial) chamou de início de uma recessão industrial.
Também em abril, as vendas do varejo, ainda segundo dados do IBGE, caíram pelo quinto mês consecutivo. A queda em relação ao mesmo mês de 2002 foi de 3,82%. Não foi um tombo tão grande quanto o de março, de 11,35%, mas mostra que o consumidor, sem crédito e com pouca renda, está comprando menos.
As vendas de papelão ondulado caíram 2% em maio quando comparadas com as de abril. Nos primeiros cinco meses do ano, a queda em relação ao mesmo período do ano passado ultrapassou 14%.
A taxa de desemprego subiu em todos os meses deste ano. Segundo o IBGE, ela foi de 12,4% em abril. Na região metropolitana de São Paulo, de acordo com o Dieese, o desemprego total, apurado segundo metodologia diferente da do IBGE, bateu em 20,6% -a taxa mais alta desde que o indicador começou a ser calculado, em 1985.
Os indicadores mostram uma economia patinando ou encolhendo. Isso significa que o BC reduzirá os juros hoje? Nem todos os analistas dizem acreditar que sim. O objetivo da política monetária é atingir a meta de inflação definida pelo governo, de 8,5% para este ano. Para isso, o BC usa os juros e altera a quantidade de crédito disponível na economia.
Mas juros altos e crédito escasso não "abatem" a inflação diretamente. O primeiro tiro é na atividade econômica: sem crédito e com juros altos, os consumidores compram menos e os empresários investem e produzem pouco. Com o recuo na atividade econômica, fica mais difícil ajustar preços e, assim, a inflação se estabiliza ou cai.
A economia começou a encolher e a inflação realmente arrefeceu. Em maio, o IGP-DI registou deflação. O IPCA, índice oficial e usado pelo BC para definir a meta, ficou em 0,61% em maio -em abril, havia atingido 0,97%. Mas as projeções de inflação para este ano ainda estão acima da meta estabelecida. Segundo o BC, os analistas do mercado financeiro esperam taxa de 11,84%.
Para parte dos analistas, o Banco Central deveria ser mais cauteloso, não arriscar sua credibilidade, manter a taxa de juros e esperar por mais sinais de que a inflação foi controlada. Mas o "mercado" está dividido: há quem avalie que o custo de manter o aperto monetário será levar o país, desnecessariamente, a assumir um risco maior de recessão.


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