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LUÍS NASSIF
A China e a soja
A crise da soja com a China e a intenção anterior
dos chineses de adquirir o
grão diretamente dos produtores brasileiros são uma boa
razão para avaliar com olhos
mais realistas -e menos ufanistas- o que significa e o que
poderá significar o agronegócio para o Brasil.
A cadeia da soja está literalmente dominada por multinacionais, que atuam em forma de oligopólio. O Brasil é o
maior produtor do mundo. Os
mercados estão suficientemente integrados para não
depender de intermediários.
Está na hora de pensar em
uma política clara que transfira para o país o poder de mercado, permitindo que o valor
agregado da comercialização
fique no país.
O leitor Samuel Dourado,
sojicultor e economista, me
envia e-mail com análises relevantes sobre o tema. O chamado complexo soja (soja em
grão, farelo e óleo) é dominado por não mais que meia dúzia de multinacionais. Essas
empresas estão verticalizando
suas atividades. Antes apenas
compravam os grãos. Agora,
também vendem os insumos
para produzi-los (fertilizantes, defensivos, sementes). As
plantas das indústrias de óleo,
farelo e outros derivados são
de elevada capacidade de produção, mas inacessíveis ao pequeno e ao médio empreendedor, assim como é inacessível o
comércio de exportação de soja.
Após as colheitas, as mesmas
empresas estão na ponta adquirindo os produtos. O sistema de armazenagem e comercialização é estruturado de
forma a fornecer a "faca e o
queijo" a elas, que recebem,
classificam e põem o preço na
soja adquirida, ou por meio de
seus armazéns ou por meio de
cooperativas, que, com poucas
exceções, fazem seu jogo, diz
ele.
Essa estrutura perversa de
armazenagem permite que as
compradoras, no período de
safra (fevereiro a maio), baixem seus preços a níveis insuportáveis, justamente no momento em que o agricultor é
obrigado a vender a maior
parcela de sua produção para
pagar os insumos da lavoura.
É só observar o comportamento da soja na Bolsa de
Chicago, diz ele. Se o preço do
dólar sobe no Brasil, as cotações da soja em Chicago caem
imediatamente para referenciar os preços internos de compra do produtor. E vice-versa.
Esse mecanismo permite manter os preços internos aos produtores em reais a níveis desejados pelos operadores do
mercado.
Quando os produtores não
dispõem de crédito no prazo e
volume necessários, a dependência se agrava. As multinacionais impõem os chamados
Contratos de Adesão de Compra e Venda de Soja, muitas
vezes acompanhados das
CPRs (Cédulas de Produtos
Rurais).
Essas cédulas foram criadas
em benefício do produtor, na
obtenção de crédito para suprir sua necessidade de capital
de giro na implantação e na
condução das lavouras. Só o
produtor pode emitir uma
CPR. Só que as multinacionais
passaram a utilizar os CPRs
como garantia dos contratos.
Uma vez executado, mesmo
não sendo representativo de
dívida real, o título permite ao
juiz executar a garantia, pelo
direito aparente que o título
representa.
Eu vou voltar ao tema. A
China pode permitir a virada
do jogo.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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