São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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SEMENTES DA DISCÓRDIA

Europa já comprou alguns carregamentos do produto

Soja vetada pela China será oferecida para outros países

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os cinco navios brasileiros que foram proibidos de desembarcar o carregamento de soja na China buscam outros mercados para vender o produto. Eles não voltarão para o Brasil, de acordo com o presidente da Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais), Sergio Mendes.
"Se um navio retornar, o risco Brasil vai para as cucuias", disse Mendes, ao se referir ao impacto negativo que a recusa definitiva de uma carga teria na imagem da soja brasileira.
Pelas regras chinesas, os carregamentos dos navios não podem conter nenhuma semente tratada com fungicida para serem autorizados a descarregar no país. As regras brasileiras, editadas na semana passada, autorizam a venda de carregamentos que tenham até uma semente tratada por quilo de grão ou cujas análises laboratoriais indiquem que a contaminação está abaixo dos limites máximo permitidos por padrões internacionais.
Segundo o presidente da Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais), Carlo Lovatelli, alguns dos carregamentos rejeitados pela China estão indo para a Europa. "Conseguimos renegociar e a Europa não é um mercado permissivo", disse Lovatelli. Também há negociações com as Filipinas.
Para ele, o fato de a Europa aceitar a soja demonstra que os motivos da China para recusar o produto brasileiro não são técnicos. Lovatelli afirmou que as informações sobre o nível de contaminação de um dos navios recusados pelos chineses revelam que estava bem abaixo dos limites máximos aceitáveis internacionalmente.
"Tudo indica que os limites estão bem abaixo dos que são internacionalmente aceitos", disse Lovatelli, após reunião com o secretário de Defesa Agropecuária, Maçao Tadano, ontem.
Segundo ele, os motivos da China não são técnicos. Para o presidente da Abiove, a motivação da China é a "sua conveniência político e comercial".

Embargo
O governo brasileiro, oficialmente, ainda trata o embargo chinês como algo estritamente técnico. "Nós somos uma missão técnica", disse Tadano. Ele embarca hoje para a China, com o objetivo de convencer os chineses a flexibilizarem as atuais exigências impostas aos carregamentos do Brasil nas últimas semanas.
São três os objetivos da missão de Tadano à China: suspender a proibição de exportar soja do Brasil imposta a 23 empresas; convencer os chineses a aceitarem o padrão brasileiro e propor à China fazer inspeções prévias do embarques, para evitar recusas, após os navios zarparem do Brasil. Outro idéia aventada por Tadano é realizar uma auditoria internacional nas certificadores que atuam no Brasil, para garantir a qualidade do serviço.


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