São Paulo, sexta-feira, 18 de junho de 2004

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BASTIDORES

Presidente diz sentir-se traído pelos chineses

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse em reunião reservada que se sente "traído pelos chineses". Foi a reação de Lula aos navios com carregamento de soja rejeitados pelas autoridades da China, país cuja visita no final de maio foi classificada por ele mesmo como a mais importante de seu mandato.
Anteontem, o presidente orientou o ministro Roberto Rodrigues (Agricultura) a tentar uma saída negociada, mas, contrariado, lhe deu a recomendação de subir o tom nos bastidores.
O mesmo recado foi dado ao ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), que, na reunião ministerial do dia 4, disse que a viagem havia sido um sucesso e que as oportunidades comerciais seriam ampliadas. O ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento), que participou da reunião com Lula junto com Amorim e Rodrigues, também ouviu a recomendação presidencial.
Subir o tom nos bastidores não significa partir para uma disputa acirrada na OMC (Organização Mundial do Comércio), mas deixar claro para as autoridades chinesas que, após a recente visita de Lula à China, o episódio de rejeição de soja pode abalar o relacionamento entre os dois países.
Lula desconfia que haja, além de razões sanitárias, algum tipo de oportunismo comercial por trás da rejeição chinesa.
Foi nesse contexto que o presidente se dispôs anteontem até a telefonar para o primeiro-ministro da China, Wen Jiabao. Até as 19h de ontem tal ligação não havia sido feita. Auxiliares recomendaram cautela. Afinal, se telefonar e falar com o premiê, Lula deve estar certo de que colherá uma resultado positivo. Do contrário, o telefonema pode amplificar a repercussão política negativa do atual imbróglio.
Independentemente de uma avaliação técnica sobre as razões chinesas, Lula avalia que o recente imbróglio tira o brilho de sua visita à China. A viagem foi até tema de propaganda política do PT na TV. A continuidade de um contencioso com a China por conta da soja pode, na visão do presidente e da cúpula do PT, servir de munição para a oposição na campanha eleitoral deste ano. Em outubro, haverá eleições municipais.
O episódio daria ainda argumento a oposicionistas que dizem que a política externa brasileira tem mais lances de marketing interno do que ações efetivas.


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