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"Promandioca" terá via rápida na Câmara
Projeto que prevê adição de 10% de amido de mandioca na farinha de trigo passará pelo crivo de apenas 29 deputados
Proposta de Aldo Rebelo, apresentada pela 1ª vez em 2001, só ganhou velocidade após congressista assumir a presidência da Câmara
FERNANDO CANZIAN
MAURO ZAFALON
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois do Proalcool e da auto-suficiência em petróleo, o
país inventa agora o "Promandioca". O projeto busca a autonomia em relação à principal matriz energética alimentar -a
farinha para pães, macarrão,
biscoitos e derivados.
Por conta do "Promandioca",
o maior moinho de trigo do
país, o Pacífico, engavetou investimento de R$ 200 milhões
em São Paulo. Ameaça transferir operações para a Argentina.
Um grupo de apenas 29 deputados, a maioria de Estados
produtores de mandioca, quer
tornar obrigatória a adição de
até 10% de amido de mandioca
à farinha de trigo. Na prática,
seria criada uma reserva de
mercado para os produtores.
O "Promandioca" tramita na
Câmara dos Deputados em
uma comissão especial de caráter terminativo. Significa que,
se aprovado e não contestado
por pelo menos 51 deputados
em cinco sessões ordinárias da
Câmara, vai direto para o Senado e para a sanção presidencial.
O presidente da comissão,
Moacir Micheletto (PMDB-PR), declarou na semana passada que o relatório será concluído na terça-feira.
Se aprovado, o projeto de lei
4.679 será o primeiro em caráter terminativo concluído na
gestão do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP).
Detalhe: o projeto é de autoria
de Rebelo. Ele foi apresentado
pela primeira vez em 2001, mas
só ganhou a velocidade atual
depois de Rebelo assumir a presidência da Câmara, em setembro último.
Criada em 24 de abril, a comissão especial estará deliberando em menos de dois meses.
Rebelo afirma que o encaminhamento do projeto via comissão especial segue as regras
do regimento interno da Câmara. Ele nega influência na escolha de seus membros.
"A mandioca nunca teve o
apoio de nada ou de ninguém,
ao contrário do café e da cana-de-açúcar. É uma cultura sem
recursos e com forte alcance
social", defende Rebelo.
A justificativa central para o
projeto é incentivar a produção
da mandioca e a agricultura familiar. Ao mesmo tempo, reduzir a dependência do trigo importado. Só neste ano, o Brasil
deve importar 60% dos 10 milhões de toneladas de trigo que
consumirá, ao custo de US$
800 milhões.
Qualidade
A comissão parlamentar diz
ter feito testes e audiências que
atestam a viabilidade da adição
de até 10% do amido de mandioca (a raspa bem fina da raiz)
ao trigo sem comprometer a
qualidade de vários produtos
farináceos.
Os autores do projeto crêem
ser possível dobrar (das atuais
500 mil toneladas/ ano) a produção de amido de mandioca e
criar mais de 100 mil empregos
no campo em um par de anos.
Já a indústria do trigo e seus
derivados afirma que perderá
milhões de dólares em exportações de produtos e no mercado
interno, principalmente com
macarrão e biscoitos. Muitos
consumidores não concordariam com os 10% de mandioca
no trigo.
Chigeru Fukuda, pesquisador da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) no Centro Nacional de Pesquisa de Mandioca em Cruz das
Almas, na Bahia, afirma que, no
caso do pão francês e das pizzas, a adição do amido de mandioca até melhora a conservação dos produtos.
Fukuda diz que o amido de
mandioca já é adicionado ao
trigo em períodos de preço elevado do produto. "Já ocorre,
sem que isso seja informado
pelos produtores e padarias."
Mas o técnico tem dúvidas
sobre a lei. "Apesar de ser "mandioqueiro" há 33 anos, acho
complicado obrigar essa adição
por força da lei. Isso deveria
ocorrer naturalmente."
Luiz Martins, presidente do
Sindicato da Indústria de Trigo
no Estado de São Paulo, também concorda com a adição,
mas diz que é uma volta ao passado essa obrigatoriedade. As
empresas deveriam ficar livres
para a adição, seguindo as tendência do mercado, defende.
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