São Paulo, quinta-feira, 18 de junho de 2009

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Obama lança maior regulação desde anos 30

Plano de reforma do mercado atinge não só bancos mas também grandes companhias com atuação na área financeira

Medidas preveem maior poder de intervenção do governo no mercado e mais proteção aos consumidores de produtos financeiros

FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK

Procurando "promover a inovação e desencorajar os abusos", o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, lançou ontem as bases para o mais ambicioso plano de regulamentação financeira no país desde a década de 1930.
O programa atinge não apenas bancos. Servirá também para seguradoras, empresas do setor de crédito e gigantes das áreas industrial e comercial, como General Electric, Ford e Wal-Mart -que se prepara para criar um grande braço financeiro em suas operações.
Qualquer empresa que tiver atividades financeiras, mesmo que para financiar seus consumidores, poderá ficar sob o guarda-chuva do programa.
Como resultado das reformas, que terão de ser aprovadas pelo Congresso, poderão surgir ainda restrições aos pagamentos de executivos de Wall Street (o que muitos congressistas apoiam) e limitações maiores do que as propostas pela administração Obama.
Na base do pacote federal, há três pontos principais (veja quadro nesta página):
1) Maior poder de intervenção do governo no mercado financeiro, com autoridade para assumir empresas consideradas "grandes demais para cair";
2) Mais transparência e aumento das necessidades de capital nos bancos para que resistam a novas crises; além de controle nas chamadas "operações exóticas" com derivativos e outros instrumentos;
3) Mais proteção aos consumidores de produtos financeiros (de empréstimos ao consumo e imobiliários, via cartões de crédito ou para o ensino).
No lançamento do programa, Obama chegou a qualificar como "contratos ridículos" as cláusulas hoje impostas aos consumidores. Segundo sua administração, os bancos terão de transformá-los em algo "totalmente transparente".

Assumir riscos
Outro elemento importante do pacote é que os bancos e instituições que atuarem no mercado de securitização de dívidas terão de ficar com pelo menos 5% desses papéis.
A securitização ocorre quando débitos de terceiros, como financiamentos imobiliários, são "embalados" em novos produtos e vendidos no mercado a investidores. A ideia central é que os bancos assumam uma parcela do risco dessas operações, levando-os a serem mais conservadores.
Boa parte da atual crise está enraizada nesse mercado. As dívidas imobiliárias "subprimes" (de mutuários sem bom histórico de crédito) foram "empacotadas" em produtos financeiros e vendidas ao redor do mundo. A remuneração desses papéis era, em parte, a prestação que o mutuário pagava.
São esses títulos que se transformaram nos "ativos tóxicos" que hoje entopem as carteiras de crédito dos bancos. Como os preços dos imóveis nos EUA seguem em queda e mutuários deixaram de pagar suas dívidas, esses ativos permanecem cada vez mais "tóxicos".
Foi em grande medida por conta desses papéis (quase sem valor hoje) que o governo dos EUA teve que assumir o controle de algumas das maiores financeiras do país, como a seguradora AIG, as gigantes do setor imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac e o Citigroup.
A concordata e a estatização da GM têm também ligação com isso, já que a "secura" no crédito bancário ao consumo derrubou a venda de veículos no país. Juntos, esses problemas causaram a maior recessão e explosão do endividamento estatal do pós-Segunda Guerra.
O pacote lançado ontem carrega também a ambição de evitar que algo semelhante aconteça no futuro, partindo do pressuposto de que bancos terão mais riscos (participação de 5%) em operações consideradas "ousadas" e que estarão sendo supervisionados mais de perto por agências federais.
"Uma cultura de irresponsabilidade tomou conta de Wall Street, de Washington e da Main Street [rua principal, como os americanos se referem à economia produtiva]", disse Obama. "As medidas servirão para reformar isso."
O plano também procura enterrar a doutrina dos anos de Alan Greenspan na direção do Fed (o banco central dos EUA, entre 1987 e 2006), quando repetia que as agências reguladoras não têm como acompanhar a inovação dos mercados quando querem fugir de controles.


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