|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Obama lança maior regulação desde anos 30
Plano de reforma do mercado atinge não só bancos mas também grandes companhias com atuação na área financeira
Medidas preveem maior poder de intervenção do governo no mercado e mais proteção aos consumidores de produtos financeiros
FERNANDO CANZIAN
DE NOVA YORK
Procurando "promover a
inovação e desencorajar os
abusos", o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
lançou ontem as bases para o
mais ambicioso plano de regulamentação financeira no país
desde a década de 1930.
O programa atinge não apenas bancos. Servirá também
para seguradoras, empresas do
setor de crédito e gigantes das
áreas industrial e comercial,
como General Electric, Ford e
Wal-Mart -que se prepara para criar um grande braço financeiro em suas operações.
Qualquer empresa que tiver
atividades financeiras, mesmo
que para financiar seus consumidores, poderá ficar sob o
guarda-chuva do programa.
Como resultado das reformas, que terão de ser aprovadas
pelo Congresso, poderão surgir
ainda restrições aos pagamentos de executivos de Wall Street
(o que muitos congressistas
apoiam) e limitações maiores
do que as propostas pela administração Obama.
Na base do pacote federal, há
três pontos principais (veja
quadro nesta página):
1) Maior poder de intervenção do governo no mercado financeiro, com autoridade para
assumir empresas consideradas "grandes demais para cair";
2) Mais transparência e aumento das necessidades de capital nos bancos para que resistam a novas crises; além de
controle nas chamadas "operações exóticas" com derivativos
e outros instrumentos;
3) Mais proteção aos consumidores de produtos financeiros (de empréstimos ao consumo e imobiliários, via cartões
de crédito ou para o ensino).
No lançamento do programa,
Obama chegou a qualificar como "contratos ridículos" as
cláusulas hoje impostas aos
consumidores. Segundo sua
administração, os bancos terão
de transformá-los em algo "totalmente transparente".
Assumir riscos
Outro elemento importante
do pacote é que os bancos e instituições que atuarem no mercado de securitização de dívidas terão de ficar com pelo menos 5% desses papéis.
A securitização ocorre quando débitos de terceiros, como
financiamentos imobiliários,
são "embalados" em novos produtos e vendidos no mercado a
investidores. A ideia central é
que os bancos assumam uma
parcela do risco dessas operações, levando-os a serem mais
conservadores.
Boa parte da atual crise está
enraizada nesse mercado. As
dívidas imobiliárias "subprimes" (de mutuários sem bom
histórico de crédito) foram
"empacotadas" em produtos financeiros e vendidas ao redor
do mundo. A remuneração desses papéis era, em parte, a prestação que o mutuário pagava.
São esses títulos que se transformaram nos "ativos tóxicos"
que hoje entopem as carteiras
de crédito dos bancos. Como os
preços dos imóveis nos EUA seguem em queda e mutuários
deixaram de pagar suas dívidas,
esses ativos permanecem cada
vez mais "tóxicos".
Foi em grande medida por
conta desses papéis (quase sem
valor hoje) que o governo dos
EUA teve que assumir o controle de algumas das maiores financeiras do país, como a seguradora AIG, as gigantes do setor
imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac e o Citigroup.
A concordata e a estatização
da GM têm também ligação
com isso, já que a "secura" no
crédito bancário ao consumo
derrubou a venda de veículos
no país. Juntos, esses problemas causaram a maior recessão
e explosão do endividamento
estatal do pós-Segunda Guerra.
O pacote lançado ontem carrega também a ambição de evitar que algo semelhante aconteça no futuro, partindo do
pressuposto de que bancos terão mais riscos (participação de
5%) em operações consideradas "ousadas" e que estarão
sendo supervisionados mais de
perto por agências federais.
"Uma cultura de irresponsabilidade tomou conta de Wall
Street, de Washington e da
Main Street [rua principal, como os americanos se referem à
economia produtiva]", disse
Obama. "As medidas servirão
para reformar isso."
O plano também procura enterrar a doutrina dos anos de
Alan Greenspan na direção do
Fed (o banco central dos EUA,
entre 1987 e 2006), quando repetia que as agências reguladoras não têm como acompanhar
a inovação dos mercados quando querem fugir de controles.
Texto Anterior: Setor automotivo: Venda de veículos avança 10%; modelos faltam em revendas Próximo Texto: Congresso ameaça propostas de Obama Índice
|