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OPINIÃO ECONÔMICA
Para aqueles que torcem pelo Brasil
BENJAMIN STEINBRUCH
Fica fácil , para quem torce
pelo Brasil, enxergar o lado
positivo do atual momento vivido
pelo país. A despeito dos seguidos
reajustes de tarifas e serviços públicos, a inflação continua sob
controle, a economia está em visível crescimento, há mais ofertas
de empregos e as taxas de juros
caem.
Além disso, as contas do setor
público mantêm-se sob razoável
controle, a balança comercial já
apresenta um pequeno superávit
e o país cumpre religiosamente
seus compromissos externos com
o Fundo Monetário Internacional e com os credores em geral.
Crises como as provocadas na
semana passada pelas declarações do ex-secretário-geral da
Presidência da República Eduardo Jorge evidentemente preocupam. Mas só quem torce contra o
país tende a utilizar episódios como esse para espalhar pessimismo num momento em que não há
razão objetiva para tal.
A taxa básica de juros, por
exemplo, foi reduzida pelo Banco
Central, há menos de duas semanas, para 17% ao ano. Como lembrou o presidente Fernando Henrique Cardoso, pela primeira vez
em 12 anos conseguimos colocar
em prática juros anuais dentro
dos princípios constitucionais, pelos quais as taxas não podem superar 12% ao ano.
Ainda que pouca gente advogue
em favor desse polêmico princípio
incluído na Constituição de 1988,
é importante lembrar que, descontada a inflação de 6,5%, as taxas reais de juros situam-se hoje
em torno de 11% ao ano.
Esses 11% referem-se à taxa básica da economia. É claro que, no
mercado financeiro, trabalha-se
na oferta de crédito com níveis
muito mais altos, ainda bastante
distantes do princípio constitucional. De qualquer forma, é importante olhar a curva decrescente da taxa, tendência que começa
a influir nas decisões de investimentos do setor produtivo.
Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) mostram que a indústria
brasileira já apresenta dez meses
consecutivos de crescimento em
seu nível de produção. Essa expansão, como é natural, já tem
reflexo nos investimentos das empresas.
Quando o ambiente é favorável,
as empresas sentem-se mais seguras para ampliar seus parques industriais ou investir em tecnologia e melhoria de produtividade.
E isso está acontecendo exatamente agora. Só não vê quem não
quer. Os dois mais importantes
jornais de economia e negócios do
país, a "Gazeta Mercantil" e o
"Valor", estão diariamente repletos de notícias sobre esses investimentos. No setor de matérias-primas, o esforço para aumento de
produção está claramente evidenciado pelo volume de importações setoriais, que cresceu 33%
no primeiro semestre.
Aos olhos de quem torce pelo
Brasil não pode passar despercebido o fato de que o aumento de
produção e investimentos começa
a gerar um número considerável
de empregos em toda a economia.
Não está ainda concluída a pesquisa nacional do nível de empregos em junho, que deve ser divulgada provavelmente na próxima
semana pelo IBGE. Mas os dados
disponíveis indicam que a meta
de criar 1 milhão de empregos este
ano deverá ser tranquilamente
alcançada.
Até maio, 582 mil novas ocupações foram criadas. Com o aquecimento sazonal que normalmente ocorre no segundo semestre, a
meta de 1 milhão poderá ser até
superada. Em 12 meses até maio,
o saldo é de 822 mil novas vagas.
Na indústria de São Paulo, onde a variação do emprego é
acompanhada de perto pela
Fiesp, maio foi o quinto mês consecutivo de crescimento do número de vagas. De janeiro a maio,
houve 12 mil novos postos de trabalho. Ainda que esses números
sejam considerados modestos, são
os melhores dos últimos cinco
anos. Na região metropolitana de
São Paulo, segundo dados divulgados ontem pelo Dieese, foram
criados 207 mil empregos de junho de 1999 a junho de 2000.
Na semana passada, quando
turbulências políticas ganharam
destaque, fontes do mercado começaram a espalhar um pessimismo generalizado. Francamente, considero que não há razão nenhuma para esse comportamento. Denúncias podem e devem ser apuradas com rigor, mas
acho ilógico que o ambiente político conturbado possa projetar,
neste momento, sombras sobre a
economia e os negócios.
Por mais graves que possam ser
os fatos, não têm poder de alterar
o rumo da inflação, das taxas de
juros, do emprego, dos salários e
do câmbio. As previsões para curto e médio prazo na economia
brasileira continuam rigorosamente as mesmas. Só a expectativa de grave alteração no quadro
político poderia justificar preocupação com o rumo da economia.
Não há essa expectativa, felizmente.
A realidade objetiva indica que
há, isso sim, um ambiente bastante favorável para a economia como um todo. É hora de perseverar
nos investimentos, expandir a
produção, criar empregos e cuidar da melhoria do quadro social
em favor de toda a população. Seria um pecado deixar que o pessimismo de alguns torcedores do
inimigo contagiasse o país neste
momento em que os ventos da
economia, depois de tantos furacões, sopram a favor.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário,
é presidente dos conselhos de administração da Valepar e da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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