São Paulo, terça-feira, 18 de julho de 2000


Envie esta notícia por e-mail para
assinantes do UOL ou da Folha
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPINIÃO ECONÔMICA
Para aqueles que torcem pelo Brasil

BENJAMIN STEINBRUCH

Fica fácil , para quem torce pelo Brasil, enxergar o lado positivo do atual momento vivido pelo país. A despeito dos seguidos reajustes de tarifas e serviços públicos, a inflação continua sob controle, a economia está em visível crescimento, há mais ofertas de empregos e as taxas de juros caem.
Além disso, as contas do setor público mantêm-se sob razoável controle, a balança comercial já apresenta um pequeno superávit e o país cumpre religiosamente seus compromissos externos com o Fundo Monetário Internacional e com os credores em geral.
Crises como as provocadas na semana passada pelas declarações do ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge evidentemente preocupam. Mas só quem torce contra o país tende a utilizar episódios como esse para espalhar pessimismo num momento em que não há razão objetiva para tal.
A taxa básica de juros, por exemplo, foi reduzida pelo Banco Central, há menos de duas semanas, para 17% ao ano. Como lembrou o presidente Fernando Henrique Cardoso, pela primeira vez em 12 anos conseguimos colocar em prática juros anuais dentro dos princípios constitucionais, pelos quais as taxas não podem superar 12% ao ano.
Ainda que pouca gente advogue em favor desse polêmico princípio incluído na Constituição de 1988, é importante lembrar que, descontada a inflação de 6,5%, as taxas reais de juros situam-se hoje em torno de 11% ao ano.
Esses 11% referem-se à taxa básica da economia. É claro que, no mercado financeiro, trabalha-se na oferta de crédito com níveis muito mais altos, ainda bastante distantes do princípio constitucional. De qualquer forma, é importante olhar a curva decrescente da taxa, tendência que começa a influir nas decisões de investimentos do setor produtivo.
Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que a indústria brasileira já apresenta dez meses consecutivos de crescimento em seu nível de produção. Essa expansão, como é natural, já tem reflexo nos investimentos das empresas.
Quando o ambiente é favorável, as empresas sentem-se mais seguras para ampliar seus parques industriais ou investir em tecnologia e melhoria de produtividade. E isso está acontecendo exatamente agora. Só não vê quem não quer. Os dois mais importantes jornais de economia e negócios do país, a "Gazeta Mercantil" e o "Valor", estão diariamente repletos de notícias sobre esses investimentos. No setor de matérias-primas, o esforço para aumento de produção está claramente evidenciado pelo volume de importações setoriais, que cresceu 33% no primeiro semestre.
Aos olhos de quem torce pelo Brasil não pode passar despercebido o fato de que o aumento de produção e investimentos começa a gerar um número considerável de empregos em toda a economia. Não está ainda concluída a pesquisa nacional do nível de empregos em junho, que deve ser divulgada provavelmente na próxima semana pelo IBGE. Mas os dados disponíveis indicam que a meta de criar 1 milhão de empregos este ano deverá ser tranquilamente alcançada.
Até maio, 582 mil novas ocupações foram criadas. Com o aquecimento sazonal que normalmente ocorre no segundo semestre, a meta de 1 milhão poderá ser até superada. Em 12 meses até maio, o saldo é de 822 mil novas vagas.
Na indústria de São Paulo, onde a variação do emprego é acompanhada de perto pela Fiesp, maio foi o quinto mês consecutivo de crescimento do número de vagas. De janeiro a maio, houve 12 mil novos postos de trabalho. Ainda que esses números sejam considerados modestos, são os melhores dos últimos cinco anos. Na região metropolitana de São Paulo, segundo dados divulgados ontem pelo Dieese, foram criados 207 mil empregos de junho de 1999 a junho de 2000.
Na semana passada, quando turbulências políticas ganharam destaque, fontes do mercado começaram a espalhar um pessimismo generalizado. Francamente, considero que não há razão nenhuma para esse comportamento. Denúncias podem e devem ser apuradas com rigor, mas acho ilógico que o ambiente político conturbado possa projetar, neste momento, sombras sobre a economia e os negócios.
Por mais graves que possam ser os fatos, não têm poder de alterar o rumo da inflação, das taxas de juros, do emprego, dos salários e do câmbio. As previsões para curto e médio prazo na economia brasileira continuam rigorosamente as mesmas. Só a expectativa de grave alteração no quadro político poderia justificar preocupação com o rumo da economia. Não há essa expectativa, felizmente.
A realidade objetiva indica que há, isso sim, um ambiente bastante favorável para a economia como um todo. É hora de perseverar nos investimentos, expandir a produção, criar empregos e cuidar da melhoria do quadro social em favor de toda a população. Seria um pecado deixar que o pessimismo de alguns torcedores do inimigo contagiasse o país neste momento em que os ventos da economia, depois de tantos furacões, sopram a favor.


Benjamin Steinbruch, 47, empresário, é presidente dos conselhos de administração da Valepar e da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br


Texto Anterior: Preços: Gasolina sobe até 16,8% para consumidor
Próximo Texto: Energia: Opep eleva produção até final do mês
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.