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BNDES apresenta projeto a Lula
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Se o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva der o sinal verde, o Brasil
pode dar partida imediatamente a
um plano de investimentos de
R$ 280 bilhões em projetos já definidos em infra-estrutura para os
próximos quatro anos.
A proposta consta em estudo
elaborado pelo BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social) e apresentado ontem pelo presidente do banco, Carlos Lessa, em reunião sobre infra-estrutura com o presidente Lula, ministros, presidentes
de estatais e de fundos de pensão.
O BNDES diz que dispõe de
R$ 100 bilhões para financiar o total desses investimentos.
Entre os investimentos defendidos por Lessa, constam, por
exemplo: R$ 38 bilhões em hidrelétricas (Belo Monte e Madeira),
R$ 30 bilhões em metrôs no Rio e
em São Paulo, R$ 19 bilhões em
obras ferroviárias e rodoviárias,
R$ 10 bilhões em plataformas de
exploração de petróleo, R$ 8 bilhões em linhas de transmissão de
energia e R$ 12 bilhões em refinarias de petróleo.
O estudo foi feito a pedido do
próprio presidente Lula a Lessa
na primeira reunião sobre o tema,
no último dia 7. Lula quer que o
governo dê partida a um ambicioso plano de investimentos em infra-estrutura e encarregou o
BNDES de formular o projeto.
A reunião contou com a presença dos ministros Antonio Palocci
Filho (Fazenda), Luiz Fernando
Furlan (Desenvolvimento), Guido Mantega (Planejamento) e Dilma Rousseff (Minas e Energia),
além de presidentes de estatais e
de fundos de pensão.
O trabalho feito por Lessa é amplo. Ele selecionou cerca de cem
projetos de infra-estrutura considerados necessários para preparar o país para uma nova fase de
crescimento, num total de R$ 400
bilhões em investimentos. Desse
montante, R$ 280 bilhões já estariam definidos.
O diagnóstico do BNDES, ao
realizar o trabalho, foi que só a redução das taxas de juros será insuficiente para o país voltar a crescer. Será necessária uma ação
mais efetiva do Estado para incentivar o empresariado privado
a desengavetar seus projetos de
investimento.
Segundo a Folha apurou, o plano do BNDES, uma espécie de
adaptação do "New Deal" de
Franklin Roosevelt para o Brasil,
prevê investimentos de 7,5% do
PIB (Produto Interno Bruto) ao
ano. Trata-se de um total de investimentos cerca de três vezes
maior que o realizado nos últimos
quatro anos.
Os investimentos a serem realizados, conforme o plano do
BNDES, só se comparam à época
do milagre econômico, na década
de 70, quando o país investiu cerca de 11% do PIB ao ano.
O plano do BNDES, para ser
aprovado, ainda depende, no entanto, de uma avaliação mais detalhada da área econômica do governo, que tem resistido à ampliação dos gastos públicos.
A grande dúvida é se o setor público irá dispor ou não de dinheiro para bancar essa nova onda de
investimentos em infra-estrutura.
Na avaliação do BNDES, além
dos R$ 100 bilhões de recursos do
banco, o governo poderia dispor
também de dinheiro dos fundos
de pensão, de estatais e do próprio
Tesouro Nacional. Tudo depende
da prioridade que o governo der
ao plano do BNDES.
Pelas contas do BNDES, os fundos de pensão poderiam contribuir, por exemplo, com cerca de
R$ 80 bilhões. Para o banco, trata-se de investimentos rentáveis que
estão dentro do escopo de aplicações desses fundos.
Antes de apresentar o estudo ao
presidente Lula, Lessa esteve pela
manhã com Furlan para apresentar o projeto. Segundo a Folha
apurou, Furlan apoiou o projeto.
O estudo do BNDES não conta
com aprovação unânime dentro
do governo. Para a equipe econômica , por exemplo, o plano precisa de um detalhamento mais rigoroso para saber até que ponto ele
não irá prejudicar as metas definidas pelo governo de um superávit
primário de 4,25% do PIB ao ano
para os próximos quatro anos.
Outro foco de resistência ao plano do BNDES poderá ser também
o acordo do Brasil com o FMI
(Fundo Monetário Internacional). Da forma como está, hoje, o
acordo com o FMI impede o setor
público de aumentar seus investimentos, já que essas despesas são
contabilizadas como déficit.
Para iniciar o plano do BNDES,
será necessária nova negociação
com o FMI com regras mais flexíveis na contabilização dos investimentos, caso o Brasil tenha interesse em renovar o acordo, que se
encerra em dezembro.
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