São Paulo, domingo, 18 de agosto de 2002

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ANÁLISE

BC "queimou" reservas, mas não foi em vão

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central gastou, ao longo de julho e do início de agosto, cerca de US$ 2,3 bilhões das reservas líquidas internacionais -a fatia do caixa em moeda forte do governo que pode ser usada quase sem restrições.
A maior parte desse dinheiro foi empregada pelo BC para intervir no mercado de câmbio, com vendas de dólar (papel-moeda) à vista. O restante, basicamente, serviu para recomprar títulos da dívida externa.
Durante esse mesmo período, apesar das intervenções, a cotação do dólar disparou. A curva da moeda e a das reservas brutas (o BC não divulga dia-a-dia a posição das reservas líquidas) têm se comportado de maneira quase que inversamente proporcional. Enquanto o dólar sobe, as reservas diminuem.
A pergunta que se faz, então, é: o BC está torrando as reservas inutilmente?
A resposta é não. É claro que há riscos de o nível das reservas ficar muito baixo e mesmo assim o dólar não recuar para um valor inferior a R$ 3. Mas, se o BC não fizesse as intervenções, provavelmente a taxa de câmbio estaria muito mais elevada. Não dá para estimar a que nível poderia chegar. Contudo não seria absurdo supor que ultrapassaria os R$ 4, pois mesmo com as intervenções foi a R$ 3,50.
Em linhas gerais, o problema do câmbio hoje é a falta de liquidez no mercado, ou seja, a quase inexistência de dólares disponíveis na praça. Como o momento é de incerteza (tanto de natureza interna -eleições- quanto externa -o fraco crescimento da economia mundial e as fraudes contábeis nas empresas americanas), quem tem dólar dificilmente quer vender.
Há algum envio de dinheiro para fora, mas não é isso que tem puxado a cotação da moeda. Bancos e empresas têm de honrar dívidas no exterior. Contudo não há oferta de linhas de crédito na banca internacional para o país (justamente pelas incertezas citadas anteriormente).
Não restam então alternativas aos devedores senão comprar dólares à vista no mercado e remetê-los aos credores. Como não há oferta da moeda no mercado, a cotação do dólar sobe. Assim, o BC precisa realmente irrigar o mercado, com vendas de dólares à vista, para suprir pelo menos parte dessa carência.

Reservas líquidas e brutas
As reservas líquidas são o caixa do BC em moeda estrangeira sem considerar os empréstimos do FMI (Fundo Monetário Internacional) -a soma de tudo compõe as reservas brutas. Em final de junho, as reservas líquidas estavam em US$ 25,881 bilhões. Na semana retrasada, segundo o presidente do BC, Armínio Fraga, haviam caído para cerca de US$ 23,5 bilhões. Pelo último acordo fechado com o FMI, as reservas líquidas não podem ficar abaixo de US$ 5 bilhões.


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