São Paulo, sexta-feira, 18 de agosto de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

82% dos reajustes salariais batem inflação

Apesar do dado positivo, apontado em estudo do Dieese, maior parte dos trabalhadores teve ganho considerado pouco significativo

Negociações salariais de janeiro a junho deste ano têm melhor resultado desde 96, quando entidade iniciou levantamento nacional


CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os trabalhadores conquistaram aumento real de salário em 81,9% dos acordos salariais negociados no primeiro semestre deste ano. Foram analisados 271 acordos e convenções coletivas de categorias profissionais com data-base entre janeiro e junho de 14 Estados. A maior parte dos aumentos concedidos, porém, ainda está na faixa de até um ponto percentual acima da inflação.
No primeiro semestre de 2005, os trabalhadores haviam conseguido ganho real (descontada a inflação) em 67,4% das 457 negociações estudadas.
O resultado divulgado ontem é o melhor obtido nas negociações salariais desde 1996, ano em que o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos) começou a pesquisar os reajustes concedidos no país.
No levantamento, 95,6% dos acordos (259) conseguiram zerar ou superar a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) do IBGE nos 12 meses anteriores a cada data-base. Em 2005, esse percentual foi de 85,1%.
Apenas 4,4% dos acordos (12) feitos de janeiro a junho deste ano não conseguiram repor as perdas da inflação nos salários. No mesmo período de 2005, esse percentual foi de 14,9%. Em 2003, considerado o pior ano para as negociações salariais, três em cada dez acordos não conseguiam sequer recompor as perdas do INPC.
"O desempenho favorável das negociações é reflexo da inflação em queda, do crescimento da economia e da ação dos sindicatos", diz José Silvestre Prado de Oliveira, supervisor do Dieese em São Paulo.
A tendência deve se manter no segundo semestre, segundo diz, porque a expectativa é que o país cresça entre 3,5% e 3,7% e a inflação mantenha trajetória de queda. "Quem negociou em janeiro enfrentou inflação acumulada em torno de 5%. Em junho, esse percentual foi de 2,75%. O cenário nos próximos meses, quando negociam categorias mais organizadas [metalúrgicos, bancários, petroleiros], deve ser ainda mais favorável."
Entre os trabalhadores que conseguiram reajustes reais estão os da construção civil (2%), os do setor alcooleiro (os ganhos foram negociados por região e chegam a 6,4%) e os farmacêuticos (1,78%).
Apesar de o resultado do primeiro semestre ser positivo, os reajustes estão distantes de trazer ganhos "consideráveis" ao bolso do trabalhador. Seis em cada dez acordos prevêem aumentos entre 0,01 e 2 pontos percentuais acima da inflação.
"Não há como conceder aumentos significativos porque o país ainda cresce a taxas medíocres, quando comparadas a outros países emergentes", diz Fabio Silveira, economista da RC Consultores. "Com o câmbio desfavorável às exportações e o aumento das importações, as empresas não vão se arriscar a perder competitividade e conceder reajustes que aumentem o custo do trabalho", diz.
Para Ademir Figueiredo, coordenador de desenvolvimento e estudos do Dieese, os aumentos concedidos "são, sim, significativos". "Quando se considera que 70% dos trabalhadores ganham até dois salários mínimos, conquistar 5% de reajuste é expressivo. Por mês, são R$ 35 a mais no bolso."
No comércio estão os melhores resultados: 91,1% dos reajustes ficaram acima da inflação. Na indústria, foram 83,6% e no setor de serviços, 76,9%.
"A maior oferta de crédito impulsionou o consumo das famílias, e isso se refletiu diretamente no comércio", diz Artur Henrique da Silva Santos, presidente da CUT. "É preciso reconhecer, porém, que os salários ainda são baixos. Apesar de haver aumento real, há a sensação de que não há ganho."
As centrais pretendem reavaliar as negociações com os empresários. "Além de ampliar a participação nos lucros para mais categorias, é preciso intensificar a busca de aumento real para o salário mínimo, usado como referência por sindicatos", diz João Gonçalves, presidente da Força Sindical.


Texto Anterior: Mercado Aberto
Próximo Texto: Luiz Carlos Mendonça de Barros: Que fazer com o excesso de dólares?
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.