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82% dos reajustes salariais batem inflação
Apesar do dado positivo, apontado em estudo do Dieese, maior parte dos trabalhadores teve ganho considerado pouco significativo
Negociações salariais de janeiro a junho deste ano têm melhor resultado desde 96, quando entidade iniciou levantamento nacional
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os trabalhadores conquistaram aumento real de salário em
81,9% dos acordos salariais negociados no primeiro semestre
deste ano. Foram analisados
271 acordos e convenções coletivas de categorias profissionais com data-base entre janeiro e junho de 14 Estados. A
maior parte dos aumentos concedidos, porém, ainda está na
faixa de até um ponto percentual acima da inflação.
No primeiro semestre de
2005, os trabalhadores haviam
conseguido ganho real (descontada a inflação) em 67,4%
das 457 negociações estudadas.
O resultado divulgado ontem
é o melhor obtido nas negociações salariais desde 1996, ano
em que o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Sócio-Econômicos)
começou a pesquisar os reajustes concedidos no país.
No levantamento, 95,6% dos
acordos (259) conseguiram zerar ou superar a inflação medida pelo INPC (Índice Nacional
de Preços ao Consumidor) do
IBGE nos 12 meses anteriores a
cada data-base. Em 2005, esse
percentual foi de 85,1%.
Apenas 4,4% dos acordos
(12) feitos de janeiro a junho
deste ano não conseguiram repor as perdas da inflação nos
salários. No mesmo período de
2005, esse percentual foi de
14,9%. Em 2003, considerado o
pior ano para as negociações
salariais, três em cada dez acordos não conseguiam sequer recompor as perdas do INPC.
"O desempenho favorável
das negociações é reflexo da inflação em queda, do crescimento da economia e da ação dos
sindicatos", diz José Silvestre
Prado de Oliveira, supervisor
do Dieese em São Paulo.
A tendência deve se manter
no segundo semestre, segundo
diz, porque a expectativa é que
o país cresça entre 3,5% e 3,7%
e a inflação mantenha trajetória de queda. "Quem negociou
em janeiro enfrentou inflação
acumulada em torno de 5%.
Em junho, esse percentual foi
de 2,75%. O cenário nos próximos meses, quando negociam
categorias mais organizadas
[metalúrgicos, bancários, petroleiros], deve ser ainda mais
favorável."
Entre os trabalhadores que
conseguiram reajustes reais estão os da construção civil (2%),
os do setor alcooleiro (os ganhos foram negociados por região e chegam a 6,4%) e os farmacêuticos (1,78%).
Apesar de o resultado do primeiro semestre ser positivo, os
reajustes estão distantes de trazer ganhos "consideráveis" ao
bolso do trabalhador. Seis em
cada dez acordos prevêem aumentos entre 0,01 e 2 pontos
percentuais acima da inflação.
"Não há como conceder aumentos significativos porque o
país ainda cresce a taxas medíocres, quando comparadas a
outros países emergentes", diz
Fabio Silveira, economista da
RC Consultores. "Com o câmbio desfavorável às exportações
e o aumento das importações,
as empresas não vão se arriscar
a perder competitividade e
conceder reajustes que aumentem o custo do trabalho", diz.
Para Ademir Figueiredo,
coordenador de desenvolvimento e estudos do Dieese, os
aumentos concedidos "são,
sim, significativos". "Quando se
considera que 70% dos trabalhadores ganham até dois salários mínimos, conquistar 5% de
reajuste é expressivo. Por mês,
são R$ 35 a mais no bolso."
No comércio estão os melhores resultados: 91,1% dos reajustes ficaram acima da inflação. Na indústria, foram 83,6%
e no setor de serviços, 76,9%.
"A maior oferta de crédito
impulsionou o consumo das famílias, e isso se refletiu diretamente no comércio", diz Artur
Henrique da Silva Santos, presidente da CUT. "É preciso reconhecer, porém, que os salários ainda são baixos. Apesar de
haver aumento real, há a sensação de que não há ganho."
As centrais pretendem reavaliar as negociações com os
empresários. "Além de ampliar
a participação nos lucros para
mais categorias, é preciso intensificar a busca de aumento
real para o salário mínimo, usado como referência por sindicatos", diz João Gonçalves, presidente da Força Sindical.
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