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São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003

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DOSE HOMEOPÁTICA

Para setor produtivo, banco reduziu ritmo de queda da Selic; Iedi queria corte de quatro pontos percentuais

BC retarda ciclo de crescimento, diz Fiesp

ADRIANA MATTOS
MAELI PRADO

DA REPORTAGEM LOCAL

Maior entidade do setor industrial no país, a Fiesp voltou a adotar ontem o discurso em tom crítico em relação à decisão do governo de reduzir a taxa de juros em dois pontos percentuais. Para a direção da entidade, a medida "retarda o ciclo de crescimento que está para começar".
Na esteira das críticas da entidade, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) e o Iedi (Instituto de Estudos sobre Desenvolvimento Industrial) disseram que a redução poderia ter sido maior. Todos os líderes do setor ouvidos pela Folha cobraram uma redução imediata nas taxas cobradas pelo bancos. E defenderam a adoção de uma forte pressão do governo nesse sentido.
A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) afirmou que esperava corte de, pelo menos, 2,5 pontos percentuais. "Nas condições atuais, com taxa de desemprego próxima a 13% e com a economia patinando, reduzir os juros em apenas dois pontos percentuais é decisão que pouco pode interferir sobre a confiança e sobre as decisões de consumo e investimento", diz o comunicado assinado pelo presidente da federação, Horacio Lafer Piva.
Para Piva, a medida tomada ontem "retarda o ciclo de crescimento que está para começar". A entidade acredita que o atual momento econômico que o país atravessa seja favorável a reduções nas taxas porque não há sinais de descontrole inflacionário.
Na sua avaliação, o setor industrial e o comércio têm feito o possível para desovar estoques, mas, apesar disso, não têm tido muito sucesso em estimular vendas, principalmente o varejo. Portanto uma queda acelerada nas taxas poderia mudar esse cenário.
Em agosto, quando a taxa caiu 2,5 pontos percentuais, a Fiesp adotou discurso menos crítico.

"Podia ser maior"
Na avaliação de Julio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi, a redução nos juros básicos "podia ser maior". A entidade, diz, esperava um corte de quatro pontos percentuais na Selic.
"Tinha espaço. As condições externas e internas são boas. Seria uma forma de animar o consumidor, que ainda não reagiu com as medidas do mês passado, com impacto zero na inflação", diz.
Segundo Almeida, o consumo deve reagir nos últimos três meses do ano, mas será "uma reação só em bens de consumo duráveis".
O diretor elogiou os pacotes de incentivo ao consumo que o governo anunciou nos últimos dias. Mas ressalvou que "são medidas importantes, mas auxiliares. O problema é resolvido apenas com redução de juros".
O presidente da CNI, Armando Monteiro Neto, classificou de conservador o corte do Copom. "Acho que a decisão poderia ter ido além, pois havia espaço para uma redução maior. Há sinais claros de que a inflação está sob controle e converge para as metas do governo." Ele disse esperar a queda dos juros nos próximos meses.
Representantes das indústrias têxtil e de plásticos, além de lideranças do varejo, no entanto, apoiaram -de forma menos crítica- a decisão, pois "não adianta ficar reclamando", disseram.
Segundo Paulo Skaf, presidente da Abit, que representa o setor têxtil, "é óbvio que as taxas poderiam cair ainda mais", mas o ritmo atual mostra que é possível chegar ao fim do ano com a Selic perto de 15%. Para ele, o governo está cauteloso para evitar riscos.
"É necessária sim, uma queda nas taxas cobradas pelo banco e que o governo fique atento a isso."


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