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São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003

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RECEITA ORTODOXA

Relatório do Fundo reduz projeção de crescimento do país e sugere que meta de superávit seja mantida

FMI ainda vê vulnerabilidade no Brasil

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI

O FMI (Fundo Monetário Internacional) ainda vê o Brasil vulnerável e considera "essencial para sustentar a confiança" internacional que o país mantenha "neste ano e no médio prazo" um superávit primário de ao menos 4,25% do PIB (Produto Interno Bruto).
Mas, ao mesmo tempo em que pede a manutenção da atual política de arrocho, o Fundo constata que o crescimento "continua fraco", com a queda do PIB no segundo trimestre e com uma demanda doméstica ainda sem sinais de recuperação.
A perspectiva de crescimento do país neste ano caiu pela metade. Em abril, o FMI estimava que o Brasil cresceria 2,8% em 2003, mas agora reduziu a projeção para 1,5% -o Ministério do Planejamento, porém, já divulgou estudo em que prevê crescimento entre 0,8% e 1,7% neste ano.
A redução na projeção foi uma das mais drásticas feitas pelo Fundo ante suas estimativas divulgadas há seis meses.
O Fundo cita três motivos para a vulnerabilidade: grande necessidade de financiamento externo, queda nos investimentos estrangeiros diretos e os ainda elevados "spreads" (sobretaxas) que o país paga para captar recursos.
Para o ano que vem, o FMI também já está menos otimista com o país. A estimativa de expansão do PIB para 2004 foi reduzida de 3,5% para 3%.
As novas estimativas constam no relatório semestral "World Economic Outlook" (Perspectivas para a Economia Mundial) e confirmam informações vazadas no final do mês passado. A divulgação do documento precede a reunião conjunta do FMI e do Banco Mundial, que ocorrerá em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a partir deste final de semana.

Pesos diferentes
Para a Argentina, que fechou acordo há poucos dias com a contrapartida de um superávit primário de 3% do PIB, o Fundo projeta um crescimento de 5,5% neste ano (depois de uma abrupta queda de 10,9% em 2002) e uma expansão de 4% em 2004.
As projeções de crescimento do Brasil representam menos de um terço da média prevista para os emergentes neste ano e pouco mais da metade do esperado em 2004 para esse grupo de países.
O crescimento no Brasil tem sido contido, em boa medida, graças à meta de superávit acertada no programa com o Fundo, assinado no ano passado e que se encerra em novembro. O programa liberou US$ 30,5 bilhões ao país. O governo Lula ainda não decidiu se buscará um novo acordo.
O superávit primário representa a economia que o governo faz entre suas receitas e suas despesas, excluindo-se o pagamento de juros da dívida. Essa economia serve justamente para honrar os vencimentos da dívida.
O Fundo dá seu apoio às recentes reduções nas taxas de juros. Diz que o relaxamento na política monetária faz sentido diante da desaceleração econômica no país e da perspectiva de queda na inflação futura.

Exemplo
Além da parte específica sobre América Latina em que aparece, o Brasil também é citado duas vezes nas primeiras páginas do relatório do FMI que tratam da conjuntura mundial. Ali, o Brasil é citado como exemplo de país que readquiriu a confiança de investidores nos últimos meses.
O FMI considera que, entre os latino-americanos, apenas o Chile e o México estão hoje "à prova de crises", por terem avançado nas reformas e reduzido o grau de endividamento público.
"A recuperação [na América Latina] continua frágil, mesmo levando-se em conta a retomada gradual no resto do mundo. O maior risco é que a atual corrida para os títulos de emergentes não se sustente, reduzindo as expectativas de crescimento e a estabilidade macroeconômica", diz o relatório do FMI.


Colaborou a Redação


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