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RECEITA ORTODOXA
Relatório do Fundo reduz projeção de crescimento do país e sugere que meta de superávit seja mantida
FMI ainda vê vulnerabilidade no Brasil
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI
O FMI (Fundo Monetário Internacional) ainda vê o Brasil vulnerável e considera "essencial para
sustentar a confiança" internacional que o país mantenha "neste
ano e no médio prazo" um superávit primário de ao menos 4,25%
do PIB (Produto Interno Bruto).
Mas, ao mesmo tempo em que
pede a manutenção da atual política de arrocho, o Fundo constata
que o crescimento "continua fraco", com a queda do PIB no segundo trimestre e com uma demanda doméstica ainda sem sinais de recuperação.
A perspectiva de crescimento
do país neste ano caiu pela metade. Em abril, o FMI estimava que
o Brasil cresceria 2,8% em 2003,
mas agora reduziu a projeção para 1,5% -o Ministério do Planejamento, porém, já divulgou estudo em que prevê crescimento entre 0,8% e 1,7% neste ano.
A redução na projeção foi uma
das mais drásticas feitas pelo Fundo ante suas estimativas divulgadas há seis meses.
O Fundo cita três motivos para a
vulnerabilidade: grande necessidade de financiamento externo,
queda nos investimentos estrangeiros diretos e os ainda elevados
"spreads" (sobretaxas) que o país
paga para captar recursos.
Para o ano que vem, o FMI também já está menos otimista com o
país. A estimativa de expansão do
PIB para 2004 foi reduzida de
3,5% para 3%.
As novas estimativas constam
no relatório semestral "World
Economic Outlook" (Perspectivas para a Economia Mundial) e
confirmam informações vazadas
no final do mês passado. A divulgação do documento precede a
reunião conjunta do FMI e do
Banco Mundial, que ocorrerá em
Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a partir deste final de semana.
Pesos diferentes
Para a Argentina, que fechou
acordo há poucos dias com a contrapartida de um superávit primário de 3% do PIB, o Fundo
projeta um crescimento de 5,5%
neste ano (depois de uma abrupta
queda de 10,9% em 2002) e uma
expansão de 4% em 2004.
As projeções de crescimento do
Brasil representam menos de um
terço da média prevista para os
emergentes neste ano e pouco
mais da metade do esperado em
2004 para esse grupo de países.
O crescimento no Brasil tem sido contido, em boa medida, graças à meta de superávit acertada
no programa com o Fundo, assinado no ano passado e que se encerra em novembro. O programa
liberou US$ 30,5 bilhões ao país.
O governo Lula ainda não decidiu
se buscará um novo acordo.
O superávit primário representa a economia que o governo faz
entre suas receitas e suas despesas, excluindo-se o pagamento de
juros da dívida. Essa economia
serve justamente para honrar os
vencimentos da dívida.
O Fundo dá seu apoio às recentes reduções nas taxas de juros.
Diz que o relaxamento na política
monetária faz sentido diante da
desaceleração econômica no país
e da perspectiva de queda na inflação futura.
Exemplo
Além da parte específica sobre
América Latina em que aparece, o
Brasil também é citado duas vezes
nas primeiras páginas do relatório do FMI que tratam da conjuntura mundial. Ali, o Brasil é citado
como exemplo de país que readquiriu a confiança de investidores
nos últimos meses.
O FMI considera que, entre os
latino-americanos, apenas o Chile
e o México estão hoje "à prova de
crises", por terem avançado nas
reformas e reduzido o grau de endividamento público.
"A recuperação [na América
Latina] continua frágil, mesmo levando-se em conta a retomada
gradual no resto do mundo. O
maior risco é que a atual corrida
para os títulos de emergentes não
se sustente, reduzindo as expectativas de crescimento e a estabilidade macroeconômica", diz o relatório do FMI.
Colaborou a Redação
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