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São Paulo, quinta-feira, 18 de setembro de 2003

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Para o Fundo, economia global deve crescer, mas levada por déficits

DO ENVIADO ESPECIAL A DUBAI

A economia global mostra sinais "consistentes" de recuperação e deve crescer 3,2% neste ano e 4,1% em 2004, prevê o FMI (Fundo Monetário Internacional) em seu relatório "Perspectivas para a Economia Mundial".
A melhora, no entanto, ocorre apoiada em déficits "preocupantes" nas principais economias do mundo e capazes de interromper a retomada, afetando especialmente mercados emergentes como o Brasil e a América Latina.
Os EUA, diz o Fundo, continuam sendo o "principal motor" da atual recuperação, mas o Japão, a segunda economia do planeta, começa a dar os primeiros sinais de retomada após quase uma década de estagnação.
As previsões para a economia norte-americana são de crescimento de 2,6% neste ano e 3,9% no ano que vem. Em relação ao relatório do Fundo de abril, as expectativas foram revisadas para cima em 0,4 ponto percentual neste ano e 0,3 ponto em 2004.
Os resultados são bem superiores aos 0,5% e 1,9% previstos em 2003 e 2004, respectivamente, para a zona do euro. As três grandes economias da região (Alemanha, França e Itália) ficarão abaixo de 1% neste ano e terão uma recuperação ainda tímida em 2004, de 1,5% a 2% no período.
Segundo o FMI, a América Latina e outros emergentes voltam a experimentar um "período de estabilização" e um "significativo retorno da confiança" de investidores estrangeiros.
Os investimentos privados para os principais países emergentes devem somar US$ 110 bilhões neste ano, o maior montante desde meados dos anos 90.
Mas a boa fase pode ser passageira. Os emergentes, recomenda o FMI, deveriam aproveitar o momento para promover ajustes. O Brasil pode ser um dos grandes beneficiados do novo fluxo de capitais. Mas o país ainda projeta um crescimento esquálido, de 1,5% neste ano e de apenas 3% em 2004, abaixo da maioria de outros emergentes e até mesmo da média africana, de 3,7% neste ano.
O relatório com as análises, divulgado em Dubai, nos Emirados Árabes, marcou o início da segunda reunião geral anual do Fundo Monetário Internacional.
Nos próximos dias, representantes do Brasil e do FMI devem discutir em Dubai a possibilidade do fechamento de um novo acordo para substituir o atual, que garantiu US$ 30 bilhões ao país e que expira no final do ano.
Detalhes sobre o entendimento selado há poucos dias entre a Argentina e o FMI também devem emergir nos próximos dias.
Embora o tom do novo estudo do FMI seja otimista, bem mais do que o do relatório de abril, as previsões são pontuadas por "riscos e apreensões".
O principal alerta do Fundo é que a atual retomada de investimentos em vários setores "pode não se sustentar" e que as economias desenvolvidas carregam hoje déficits fiscais e em conta corrente "pesados" -que são a base da atual recuperação- e eles podem levar a um "aumento significativo" nos juros de longo prazo, principalmente nos EUA, hoje em 1% ao ano.
Um movimento nesse sentido drenaria boa parte dos dólares que hoje financiam as economias endividadas emergentes e que vêm sustentando cotações de moedas como o real.


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