São Paulo, terça-feira, 18 de setembro de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Dia D: decisão, decepção ou dúvida?


Esperadíssima decisão do Fed não deve ajudar a dissipar dúvidas sobre crise, tumulto financeiro e economia "real"


A DECISÃO que o Fed toma hoje a respeito da taxa básica de juros americana vem sendo tratada como o dia "D" do tumulto financeiro que por ora perturba com mais intensidade as finanças de países ricos. Grandes instituições financeiras e investidores, presidentes de megaempresas americanas em dificuldades e políticos americanos fazem campanha pelo corte de juros, por enquanto em 5,25%.
Se o imperturbável e impassível Ben Bernanke e colegas do "Copom" americano não mexerem um dedo, a estimativa é que haverá confusão, ao menos temporária, nos mercados financeiros. Mas, se o Fed cortar, 0,25 ou 0,5 ponto percentual, a crise vai murchar? O corte de juros terá efeitos colaterais, como um aumento da inflação americana? A desvalorização do dólar aumentaria, provocando queixas ou, pior, redução em exportações européias e asiáticas?
A dúvida maior, porém, entre gente mais séria e ponderada, é sobre o impacto de um corte de juros na crise financeira e a respeito do futuro das ações do Fed. O banco central americano faria apenas um corte, um placebo ou uma mãozinha psicológica para os mercados? Ou, como é mais condizente com o louvado conservadorismo do BC mais importante do mundo, Bernanke e cia. cortariam os juros porque estão convencidos de que a atividade produtiva dos EUA embica para uma desaceleração ou até uma recessão?
Se fosse esse o caso, a reunião de hoje marcaria o início de uma série de reduções na taxa básica dos EUA. Mas há uma algaravia de opiniões, lobby do mercado e dúvidas sobre a atividade produtiva nos EUA e acerca da dimensão e possíveis reverberações do tumulto financeiro. Ninguém se entende sobre nada, se é que sabe de algo.

Diário da crise
O Banco da Inglaterra, no início da crise, era mais duro na queda que o Fed e o BC europeu. Faz umas duas semanas, viu fumaça no sistema financeiro e agora tenta evitar a quebra de um banco, o Northern Rock, e deve garantir 100% dos depósitos. Mas o banco está com correntistas na porta desesperados para sacar seu dinheiro. Sim, trata-se de uma corrida bancária.
Segundo enquete da Bloomberg com analistas de mercado, os lucros da banca de Wall Street serão os piores em mais de quatro anos, se excetuados os ganhos do Goldman Sachs. A Standard & Poor's estima que os ganhos dos bancos de investimento e corretoras podem cair 47% no primeiro semestre, mais que na crise de 1998.
Analistas erram, decerto. Mas o Bank of America, o segundo maior dos EUA, diz que o tumulto financeiro vai ter "impacto significativo" nos balanços do terceiro trimestre.
O índice médio de volatilidade do preço das ações da Chicago Board Options Exchange, o Vix, foi 27% maior no segundo trimestre, em relação ao ano passado. Ontem, tinha voltado a níveis da semana do pânico de agosto. Os juros dos títulos do Tesouro dos EUA voltaram a cair, sinal de gente fugindo de risco. As empresas americanas estão parando de recomprar suas ações, diz a Thomson Financial. Sim, havia sinais de desafogo na semana passada. Mas o clima no mercado muda mais que o tempo em São Paulo.

vinit@uol.com.br


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