DO ENVIADO ESPECIAL A MADRI

Com o estilo direto e pouco apegado ao protocolo que o caracteriza, o presidente Lula avisou ontem: "Vou encontrar com meu amigo Bush [George Walker, o presidente dos EUA], agora no dia 24 e vou dizer: Bush, resolva o problema da crise porque nós não deixaremos ela atravessar o Atlântico".
O recado foi dado em entrevista coletiva que Lula concedeu no Palácio de Moncloa, sede do governo espanhol, ao lado de José Luís Rodríguez Zapatero, premiê da Espanha.
O governante brasileiro repetiu, com ainda mais convicção, a sua absoluta certeza de que a crise -que ele localiza estritamente nos EUA- não atravessará o Atlântico:
"Ninguém me assusta na Terra. E, portanto, não tenho nenhum medo e tenho muita certeza de que essa crise não irá afetar o Brasil, exatamente porque nos preparamos, por termos sido vítimas da crise russa, da asiática. Não queremos ser vítimas agora".
A crise asiática de 1997 gerou uma tormenta global que no ano seguinte foi atiçada ainda mais pelo colapso da Rússia, o que levou ao derretimento do real, no início do segundo mandato de FHC.
Agora, Lula insiste em que quem tem de resolver o problema "é quem o criou". "O Brasil não comprou títulos imobiliários dos EUA."
Zapatero também demonstrou a mesma confiança, ao falar da "fortaleza econômica" tanto da Espanha como do Brasil. Mas admitiu que pode haver "um ajuste nos mercados", para o qual "a Espanha está preparada".
Os dois governantes, de todo modo, fugiram da questão central levantada pela Folha: se os governos, quaisquer que sejam, podiam dar alguma resposta à turbulência ou eram impotentes ante a força dos mercados.
O mais perto que um deles (Zapatero) chegou de responder foi ao mencionar o que considera "resposta adequada" do Banco Central Europeu (referência aos bilhões de euros oferecidos aos bancos para enfrentar o temor de um emprestar ao outro).
O encontro Lula/Bush, no dia 24 em Nova York, se dará no âmbito de uma reunião das Nações Unidas para discutir medidas para enfrentar a mudança climática. (CR)


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