São Paulo, sexta-feira, 18 de setembro de 2009

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OCDE prevê desemprego e "geração perdida"

Entidade estima que o impacto da crise sobre o mercado de trabalho pode custar 25 mi de vagas, afetando mais os jovens

Nos 30 países-membros da entidade, o desemprego juvenil médio atingiu 17% em julho, ante 8,5% entre a população em geral


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

A crise atual pode custar, até o fim do próximo ano, mais 10 milhões de empregos nos países ricos e deixar como impacto duradouro uma "geração perdida" para o mercado de trabalho, alertou a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).
O grupo, que reúne 30 países ricos e que recentemente anunciou a estabilização de suas economias, fez uma análise lúgubre sobre o emprego.
Além de chamar a atenção para os altos índices entre os jovens, estimou que o impacto da crise econômica sobre o mercado de trabalho pode chegar a 25 milhões de postos cortados -o que significa prever que mais 10 milhões percam o emprego até o fim do ano que vem, já que a entidade calcula que 15 milhões de vagas tenham sido suprimidas desde o fim de 2007.
Além disso, a entidade chamou a atenção para o crescimento voraz do índice entre os jovens. Na média entre os membros da entidade, o desemprego juvenil bateu em 17% em julho, ante 8,5% entre a população em geral -este último, o índice mais alto desde a Segunda Guerra Mundial. Em países como a Espanha, 1 em cada 3 pessoas entre 14 e 16 anos não tem emprego.
"O maior risco é criar uma "geração perdida", sem contato com o mercado real de trabalho", disse à Folha, por telefone, Stefano Scarpetta, chefe da divisão de emprego da OCDE.

Sem estímulo
Ele alerta para a formação de um círculo vicioso, no qual os jovens não conseguem emprego ao tentarem entrar para o mercado e acabam saltando de um bico para outro. Depois, são rejeitados exatamente pela falta de experiência.
"Eles ficam desestimulados. O desemprego nessa fase da vida pode ter efeito duradouro sobre o indivíduo, que perde as esperanças", disse Scarpetta.
O resultado é a condenação ao subemprego, como ocorreu durante a desaceleração econômica japonesa nos anos 90. O relatório da OCDE fala em uma geração "sem contato com o mercado de trabalho".
Embora o índice de desemprego entre os mais jovens seja tradicionalmente mais alto do que entre a média da população, Scarpetta afirma que a crise o fez avançar muito mais rapidamente do que para os demais por dois motivos: 1) os jovens normalmente trabalham com contratos temporários, e, dessa forma, são os primeiros a serem cortados em tempos de escassez; 2) as turbulências tornam os empregadores mais seletivos, e a inexperiência vira um ônus maior.
A entidade exorta os governos a investir em programas para coibir o avanço do problema, oferecendo subsídios a empregadores que aceitem contratar aprendizes e estagiários. Como exemplo, Scarpetta cita programas que já existem na França, no Reino Unido e na Austrália.

Fantasma
O discurso da OCDE bate de frente com o otimismo que tem tomado boa parte dos discursos nessa fase de incipiente recuperação econômica. Para o grupo, embora a retomada "esteja à vista, ela deve ser modesta ainda por algum tempo".
Com as taxas batendo recorde em suas séries históricas neste primeiro aniversário da crise, o desemprego tem sido frequentemente citado por governos europeus e organismos multilaterais como o principal fantasma da recuperação.
"O emprego é a base da crise atual. É crucial que os governos foquem em ajudar, nos próximos meses, os que procuram trabalho", afirmou Angel Gurría, secretário-geral da OCDE, ao apresentar o relatório. Ele exortou os governos a adotar políticas coordenadas e a não ignorar o problema no mundo em desenvolvimento.
Se confirmada a projeção da OCDE, o desemprego chegará a 10% no final do ano que vem, o que significa um contingente de 57 milhões sem trabalho só nos países do grupo. Até agora, os países mais atingidos são a Espanha, a Irlanda e os EUA.


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