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OCDE prevê desemprego e "geração perdida"
Entidade estima que o impacto da crise sobre o mercado de trabalho pode custar 25 mi de vagas, afetando mais os jovens
Nos 30 países-membros da entidade, o desemprego juvenil médio atingiu 17% em julho, ante 8,5% entre
a população em geral
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
A crise atual pode custar, até
o fim do próximo ano, mais 10
milhões de empregos nos países ricos e deixar como impacto
duradouro uma "geração perdida" para o mercado de trabalho,
alertou a OCDE (Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico).
O grupo, que reúne 30 países
ricos e que recentemente
anunciou a estabilização de
suas economias, fez uma análise lúgubre sobre o emprego.
Além de chamar a atenção
para os altos índices entre os jovens, estimou que o impacto da
crise econômica sobre o mercado de trabalho pode chegar a 25
milhões de postos cortados -o
que significa prever que mais
10 milhões percam o emprego
até o fim do ano que vem, já que
a entidade calcula que 15 milhões de vagas tenham sido suprimidas desde o fim de 2007.
Além disso, a entidade chamou a atenção para o crescimento voraz do índice entre os
jovens. Na média entre os
membros da entidade, o desemprego juvenil bateu em 17%
em julho, ante 8,5% entre a população em geral -este último,
o índice mais alto desde a Segunda Guerra Mundial. Em
países como a Espanha, 1 em
cada 3 pessoas entre 14 e 16
anos não tem emprego.
"O maior risco é criar uma
"geração perdida", sem contato
com o mercado real de trabalho", disse à Folha, por telefone, Stefano Scarpetta, chefe da
divisão de emprego da OCDE.
Sem estímulo
Ele alerta para a formação de
um círculo vicioso, no qual os
jovens não conseguem emprego ao tentarem entrar para o
mercado e acabam saltando de
um bico para outro. Depois, são
rejeitados exatamente pela falta de experiência.
"Eles ficam desestimulados.
O desemprego nessa fase da vida pode ter efeito duradouro
sobre o indivíduo, que perde as
esperanças", disse Scarpetta.
O resultado é a condenação
ao subemprego, como ocorreu
durante a desaceleração econômica japonesa nos anos 90. O
relatório da OCDE fala em uma
geração "sem contato com o
mercado de trabalho".
Embora o índice de desemprego entre os mais jovens seja
tradicionalmente mais alto do
que entre a média da população, Scarpetta afirma que a crise o fez avançar muito mais rapidamente do que para os demais por dois motivos: 1) os jovens normalmente trabalham
com contratos temporários, e,
dessa forma, são os primeiros a
serem cortados em tempos de
escassez; 2) as turbulências tornam os empregadores mais seletivos, e a inexperiência vira
um ônus maior.
A entidade exorta os governos a investir em programas
para coibir o avanço do problema, oferecendo subsídios a empregadores que aceitem contratar aprendizes e estagiários.
Como exemplo, Scarpetta cita
programas que já existem na
França, no Reino Unido e na
Austrália.
Fantasma
O discurso da OCDE bate de
frente com o otimismo que tem
tomado boa parte dos discursos
nessa fase de incipiente recuperação econômica. Para o grupo, embora a retomada "esteja
à vista, ela deve ser modesta
ainda por algum tempo".
Com as taxas batendo recorde em suas séries históricas
neste primeiro aniversário da
crise, o desemprego tem sido
frequentemente citado por governos europeus e organismos
multilaterais como o principal
fantasma da recuperação.
"O emprego é a base da crise
atual. É crucial que os governos
foquem em ajudar, nos próximos meses, os que procuram
trabalho", afirmou Angel Gurría, secretário-geral da OCDE,
ao apresentar o relatório. Ele
exortou os governos a adotar
políticas coordenadas e a não
ignorar o problema no mundo
em desenvolvimento.
Se confirmada a projeção da
OCDE, o desemprego chegará a
10% no final do ano que vem, o
que significa um contingente
de 57 milhões sem trabalho só
nos países do grupo. Até agora,
os países mais atingidos são a
Espanha, a Irlanda e os EUA.
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