São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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TENSÃO PRÉ-COPOM

BC pode prolongar aperto monetário até o começo de 2005, se preços de frete e produtos aumentarem

Petróleo mais caro deve pressionar juros

LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A persistência da alta do petróleo poderá levar o Banco Central a prolongar o chamado aperto monetário, segundo economistas ouvidos pela Folha. Ou seja, a elevação dos juros não se encerraria até dezembro deste ano -continuaria no começo do ano que vem.
Desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), quando o BC aumentou os juros de 16% ao ano para 16,25% e sinalizou que elevaria mais a taxa nos meses seguintes, o preço do petróleo subiu 23%, de acordo com dados do Bradesco. No cenário traçado na ata da última reunião do Copom, o preço do barril usado pelo BC era de US$ 35. Anteontem, depois de ter atingido US$ 55, o barril fechou em US$ 54,93 no mercado norte-americano. "As chances de que o BC continue a elevar os juros no começo do ano que vem são altas", afirma Renata Heinemann, economista do Banco Pátria.
Na avaliação da equipe de economistas do banco, o BC manteria o aperto monetário não por conta especificamente do impacto direto do aumento dos preços dos combustíveis, mas sim por causa dos efeitos na economia, como encarecimento do frete e dos derivados de petróleo.
"Os fatores que colaboraram com a [baixa] inflação de setembro já estão se invertendo, e os principais riscos para a inflação não se esvaziaram. Ao contrário, intensificaram-se desde a última reunião do Copom", afirmam economistas do Bradesco, em boletim distribuído na sexta-feira.
Além do petróleo, os economistas do banco entendem que o ritmo da atividade econômica continua forte. Em períodos de crescimento, comerciantes e industriais têm maior facilidade para aumentar seus preços.
Para o economista Fábio Akira, do JP Morgan, o cenário mais provável é que o BC aumente os juros somente até o final deste ano. Seriam mais três aumentos de 0,25 ponto percentual, com a taxa básica encerrando dezembro em 17% ao ano.
Em sua avaliação, os núcleos de inflação (medidas que retiram dos índices de preços os itens de maior variação -tanto de alta quanto de baixa- ou os preços administrados, como tarifas de energia elétrica e telefone) têm apontado para uma gradual desaceleração da inflação.
Akira reconhece, no entanto, que o cenário benigno por ele traçado só se confirma se o preço do petróleo parar de subir. Ainda assim, seria preciso também que o nível da atividade econômica não permanecesse tão elevado quanto no segundo trimestre deste ano -crescimento de 6% em termos anualizados.
"Já há sinais de diminuição do ritmo de crescimento, a produção industrial já não está no mesmo nível do segundo trimestre. Mas, se o crescimento econômico mantiver um ritmo forte e o petróleo não parar de subir, acho que o BC vai ter de manter o aperto monetário por mais tempo. Talvez até intensificá-lo", diz.
O economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall, também acredita que o mais provável é que o BC interrompa o aumento dos juros ainda neste ano. Para ele, a taxa não chega nem a 17%, pararia em 16,75%. Além de acreditar que o nível da atividade econômica já está num ritmo menos intenso, lembra que várias commodities (produtos básicos) que responderam por grande parte da elevação da inflação até agosto, como certos produtos agrícolas e metais, começam a recuar de preço no mercado internacional.
Mas Kawall também admite que, se os preços do petróleo permanecerem muito elevados, o BC estará atento aos efeitos secundários na economia. Mais uma vez, não pelo impacto direto do aumento dos combustíveis, mas pelos desdobramentos ao longo da cadeia econômica.
Já o economista Paulo Tenani, do UBS Warburg, não acredita na necessidade de aumento de juros no ano que vem. Avalia que o último aumento dos juros neste ano será neste mês. Ou seja, a taxa básica fecharia 2004 em 16,50%. Além de citar a redução do ritmo da atividade econômica, Tenani ressalta que o temor de uma pressão inflacionária mais danosa para economia, vindo do lado da demanda, não se sustenta.


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