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TENSÃO PRÉ-COPOM
BC pode prolongar aperto monetário até o começo de 2005, se preços de frete e produtos aumentarem
Petróleo mais caro deve pressionar juros
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A persistência da alta do petróleo poderá levar o Banco Central a
prolongar o chamado aperto monetário, segundo economistas ouvidos pela Folha. Ou seja, a elevação dos juros não se encerraria até
dezembro deste ano -continuaria no começo do ano que vem.
Desde a última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), quando o BC aumentou os
juros de 16% ao ano para 16,25% e
sinalizou que elevaria mais a taxa
nos meses seguintes, o preço do
petróleo subiu 23%, de acordo
com dados do Bradesco. No cenário traçado na ata da última reunião do Copom, o preço do barril
usado pelo BC era de US$ 35. Anteontem, depois de ter atingido
US$ 55, o barril fechou em US$
54,93 no mercado norte-americano. "As chances de que o BC continue a elevar os juros no começo
do ano que vem são altas", afirma
Renata Heinemann, economista
do Banco Pátria.
Na avaliação da equipe de economistas do banco, o BC manteria o aperto monetário não por
conta especificamente do impacto direto do aumento dos preços
dos combustíveis, mas sim por
causa dos efeitos na economia,
como encarecimento do frete e
dos derivados de petróleo.
"Os fatores que colaboraram
com a [baixa] inflação de setembro já estão se invertendo, e os
principais riscos para a inflação
não se esvaziaram. Ao contrário,
intensificaram-se desde a última
reunião do Copom", afirmam
economistas do Bradesco, em boletim distribuído na sexta-feira.
Além do petróleo, os economistas do banco entendem que o ritmo da atividade econômica continua forte. Em períodos de crescimento, comerciantes e industriais
têm maior facilidade para aumentar seus preços.
Para o economista Fábio Akira,
do JP Morgan, o cenário mais
provável é que o BC aumente os
juros somente até o final deste
ano. Seriam mais três aumentos
de 0,25 ponto percentual, com a
taxa básica encerrando dezembro
em 17% ao ano.
Em sua avaliação, os núcleos de
inflação (medidas que retiram
dos índices de preços os itens de
maior variação -tanto de alta
quanto de baixa- ou os preços
administrados, como tarifas de
energia elétrica e telefone) têm
apontado para uma gradual desaceleração da inflação.
Akira reconhece, no entanto,
que o cenário benigno por ele traçado só se confirma se o preço do
petróleo parar de subir. Ainda assim, seria preciso também que o
nível da atividade econômica não
permanecesse tão elevado quanto
no segundo trimestre deste ano
-crescimento de 6% em termos
anualizados.
"Já há sinais de diminuição do
ritmo de crescimento, a produção
industrial já não está no mesmo
nível do segundo trimestre. Mas,
se o crescimento econômico
mantiver um ritmo forte e o petróleo não parar de subir, acho
que o BC vai ter de manter o aperto monetário por mais tempo.
Talvez até intensificá-lo", diz.
O economista-chefe do Citibank, Carlos Kawall, também
acredita que o mais provável é
que o BC interrompa o aumento
dos juros ainda neste ano. Para
ele, a taxa não chega nem a 17%,
pararia em 16,75%. Além de acreditar que o nível da atividade econômica já está num ritmo menos
intenso, lembra que várias commodities (produtos básicos) que
responderam por grande parte da
elevação da inflação até agosto,
como certos produtos agrícolas e
metais, começam a recuar de preço no mercado internacional.
Mas Kawall também admite
que, se os preços do petróleo permanecerem muito elevados, o BC
estará atento aos efeitos secundários na economia. Mais uma vez,
não pelo impacto direto do aumento dos combustíveis, mas pelos desdobramentos ao longo da
cadeia econômica.
Já o economista Paulo Tenani,
do UBS Warburg, não acredita na
necessidade de aumento de juros
no ano que vem. Avalia que o último aumento dos juros neste ano
será neste mês. Ou seja, a taxa básica fecharia 2004 em 16,50%.
Além de citar a redução do ritmo
da atividade econômica, Tenani
ressalta que o temor de uma pressão inflacionária mais danosa para economia, vindo do lado da demanda, não se sustenta.
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