São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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TENSÃO PRÉ-COPOM

Presidente acha que nova meta fiscal dispensa juros maiores

Lula dá sinal contra nova alta da Selic

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já sinalizou para o Copom (Comitê de Política Monetária) que é contra aumento de juros na reunião que começa amanhã e termina na quarta-feira. Ele teme prejudicar a retomada do crescimento econômico.
A Folha apurou que o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) intermedeia algum tipo de acordo entre Lula e o Copom. A taxa básica de juros, a Selic, está hoje em 16,25% ao ano. Um interlocutor de Lula afirmou que ""vai ter confusão", ao relatar qual seria a reação do presidente a uma nova alta da taxa, ainda que pequena, como 0,25 ponto percentual.
Apesar de Palocci e do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, terem dito de público que o recente aumento da meta de superávit primário deste ano, de 4,25% para 4,5%, não significa freio imediato aos juros, Lula não pensa assim. Aliás, foi convencido a subir o superávit primário (a economia do setor público para pagar juros da dívida) com base no argumento de que tal medida ajudaria a impedir o aumento da taxa.
Mais: os sinais de queda da inflação levaram Lula a ouvir com atenção opiniões de economistas de que o BC está sendo ortodoxo em excesso e que pode bombardear com uma nova alta da taxa Selic a atual retomada do crescimento da economia. Lula ouviu isso, por exemplo, do economista e deputado federal Delfim Netto (PP-SP), um crítico duro do BC.
A Folha apurou que Meirelles relatou a Palocci que o clima no Banco Central, especialmente de três diretores mais pró-mercado, é por uma elevação de 0,5 ponto percentual. Meirelles avalia que tem margem de manobra para conseguir maioria para um aumento de 0,25. Manter a taxa inalterada, na avaliação do presidente do BC, será difícil.
Com um "abacaxi" desses na mão, Palocci conversou na sexta-feira com Lula para relatar o clima no Copom. A Folha apurou que o próprio ministro da Fazenda avalia que uma alta não se justifica, mas ele prefere aceitar um aumento a questionar a autoridade do Copom. Palocci julga que fazer das reuniões do Copom cavalos-de-batalha atrapalha a política econômica.
Se houver aumento da taxa, o presidente vai chiar nos bastidores. A Folha apurou que ele disse a Palocci que não quer que o BC mine o crescimento econômico.
De público, a reação mais provável de Lula e de Palocci será manter o discurso de que a fixação da Selic é decisão puramente técnica, sem influência política. O Copom, que fixa mensalmente a taxa de juros, tem nove membros. No momento opera com oito porque aguarda que o Senado sabatine o novo diretor de Política Monetária, Rodrigo Azevedo.


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