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TENSÃO PRÉ-COPOM
Apesar do recuo da inflação no mês passado, expectativa é que o BC mantenha o gradualismo nesta semana
Analistas prevêem alta nos juros para 16,5%
MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
Preocupações com o impacto
da alta de preços no atacado e
com a elevada utilização da capacidade das indústrias sobre a inflação futura devem levar o Banco
Central (BC) a aumentar em 0,25
pontos percentuais os juros básicos na quarta-feira, segundo analistas ouvidos pela Folha.
O Copom (Comitê de Política
Monetária) se reúne a partir de
amanhã para definir a taxa básica,
hoje em 16,25% ao ano.
Em setembro, a inflação apresentou forte arrefecimento, mas,
para analistas, muito em razão da
queda nos preços de alimentos.
"Nenhum movimento de curto
prazo justifica não fazer o aperto
monetário", diz Hugo Penteado,
do ABN Amro Asset Management. Para Octavio de Barros,
economista-chefe do Bradesco,
que também espera elevação de
0,25 ponto percentual na próxima
reunião, o que ajudou a inflação
no mês passado está se invertendo e os principais riscos para a taxa de curto prazo intensificaram-se desde a última reunião do BC.
"A atividade continuou em ritmo forte [a produção industrial
subiu 1,1% em agosto sobre julho]
e, se o câmbio permaneceu estável, o que é favorável, os preços do
petróleo subiram 23%."
Os analistas mencionam também que no Relatório de Inflação
o BC afirmou que o seu objetivo é
inverter as expectativas. As previsões do mercado para a inflação
12 meses à frente caíram, mas as
projeções para 2005 subiram, de
uma taxa anual em 5,7% para
5,81% -menos, porém, do que
muitos economistas estimavam.
Os núcleos de inflação que excluem preços administrados estão em patamares muito acima da
meta de inflação de 5,1% em 2005.
"O núcleo da inflação, estacionado na vizinhança de 7% ao ano,
apresenta forte resistência à queda", diz Tomás Málaga, economista do Banco Itaú, que também
defende elevação de 0,25 ponto.
"O único fator a influenciar para
baixo a projeção é a valorização
do câmbio. As expectativas de inflação não melhoraram, o petróleo está em níveis recordes e os
reajustes dos preços internos da
gasolina e do diesel têm de continuar. Não há motivos para pensar
que a política monetária possa ser
relaxada", diz Málaga.
Para Penteado, sem subir juros,
há risco de a inflação de demanda,
que ainda não surgiu, ocorra, com
a economia em expansão. Quando há elevação no consumo, as
empresas e o varejo podem elevar
preços para recuperar margem.
Sem razão
A preocupação do BC é com impactos do IPA (Índice de Preços
no Atacado), do mercado de trabalho e dos efeitos da expansão da
capacidade industrial nos índices
de preços ao consumidor.
Analistas apostam em mais aumentos graduais nas taxas nas
três reuniões do Copom que restam em 2004. No entanto, eles
afirmam não ver razão para aumento mais forte dos juros.
"Vão subir os juros porque já
avisaram que subiriam. Além de
dados muito positivos da inflação, já ficou claro que a economia
não está superaquecida", diz Paulo Tenani, do UBS. "Os preços das
commodities que pressionaram a
inflação já estão recuando", afirma Tenani.
"Ainda é uma situação em que
seria melhor não elevar juros",
concorda Gesner Oliveira, professor da FGV- EAESP. "Não há indicação de crescimento excessivo
do produto efetivo. Se o problema
é de oferta, precisa aumentar a capacidade produtiva. Subir juros
inibe os investimentos. Precisa ter
cautela com inflação, mas, na ausência de evidências, é contraproducente subir juros."
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