São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2004

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TENSÃO PRÉ-COPOM

Apesar do recuo da inflação no mês passado, expectativa é que o BC mantenha o gradualismo nesta semana

Analistas prevêem alta nos juros para 16,5%

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Preocupações com o impacto da alta de preços no atacado e com a elevada utilização da capacidade das indústrias sobre a inflação futura devem levar o Banco Central (BC) a aumentar em 0,25 pontos percentuais os juros básicos na quarta-feira, segundo analistas ouvidos pela Folha.
O Copom (Comitê de Política Monetária) se reúne a partir de amanhã para definir a taxa básica, hoje em 16,25% ao ano.
Em setembro, a inflação apresentou forte arrefecimento, mas, para analistas, muito em razão da queda nos preços de alimentos.
"Nenhum movimento de curto prazo justifica não fazer o aperto monetário", diz Hugo Penteado, do ABN Amro Asset Management. Para Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, que também espera elevação de 0,25 ponto percentual na próxima reunião, o que ajudou a inflação no mês passado está se invertendo e os principais riscos para a taxa de curto prazo intensificaram-se desde a última reunião do BC.
"A atividade continuou em ritmo forte [a produção industrial subiu 1,1% em agosto sobre julho] e, se o câmbio permaneceu estável, o que é favorável, os preços do petróleo subiram 23%."
Os analistas mencionam também que no Relatório de Inflação o BC afirmou que o seu objetivo é inverter as expectativas. As previsões do mercado para a inflação 12 meses à frente caíram, mas as projeções para 2005 subiram, de uma taxa anual em 5,7% para 5,81% -menos, porém, do que muitos economistas estimavam.
Os núcleos de inflação que excluem preços administrados estão em patamares muito acima da meta de inflação de 5,1% em 2005.
"O núcleo da inflação, estacionado na vizinhança de 7% ao ano, apresenta forte resistência à queda", diz Tomás Málaga, economista do Banco Itaú, que também defende elevação de 0,25 ponto.
"O único fator a influenciar para baixo a projeção é a valorização do câmbio. As expectativas de inflação não melhoraram, o petróleo está em níveis recordes e os reajustes dos preços internos da gasolina e do diesel têm de continuar. Não há motivos para pensar que a política monetária possa ser relaxada", diz Málaga.
Para Penteado, sem subir juros, há risco de a inflação de demanda, que ainda não surgiu, ocorra, com a economia em expansão. Quando há elevação no consumo, as empresas e o varejo podem elevar preços para recuperar margem.

Sem razão
A preocupação do BC é com impactos do IPA (Índice de Preços no Atacado), do mercado de trabalho e dos efeitos da expansão da capacidade industrial nos índices de preços ao consumidor.
Analistas apostam em mais aumentos graduais nas taxas nas três reuniões do Copom que restam em 2004. No entanto, eles afirmam não ver razão para aumento mais forte dos juros.
"Vão subir os juros porque já avisaram que subiriam. Além de dados muito positivos da inflação, já ficou claro que a economia não está superaquecida", diz Paulo Tenani, do UBS. "Os preços das commodities que pressionaram a inflação já estão recuando", afirma Tenani.
"Ainda é uma situação em que seria melhor não elevar juros", concorda Gesner Oliveira, professor da FGV- EAESP. "Não há indicação de crescimento excessivo do produto efetivo. Se o problema é de oferta, precisa aumentar a capacidade produtiva. Subir juros inibe os investimentos. Precisa ter cautela com inflação, mas, na ausência de evidências, é contraproducente subir juros."


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