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Escolaridade é principal fator de menor renda paga aos negros
DA SUCURSAL DO RIO
A comparação simples da
renda entre negros e brancos
não permite, isoladamente, dizer o quanto dessa diferença é
explicada pela desigualdade no
acesso à educação e o quanto
ela é motivada pela discriminação racial no mercado de trabalho. Outros estudos que tentaram chegar mais próximo dessa
resposta sugerem que os dois
fatores têm impacto, mas é a escolaridade o que mais explica.
Essa é a opinião, por exemplo, do pesquisador Sergei Soares, autor de estudos sobre o tema. Para ele, não há dúvidas de
que a maior parte do diferencial é explicada pelo acesso diferenciado à educação. Ele sustenta, no entanto, que há também um efeito de discriminação no caso de negros que ascendem socialmente.
"A sociedade atribui uma série de tarefas que, se espera, seriam de negros, como carregar
saco de cimento, pegar na enxada ou fazer serviços domésticos. Ninguém acha estranho
ver negros nessas funções, mas,
se um deles vira gerente de
banco, isso chama a atenção",
afirma.
Marcelo Paixão, economista
da UFRJ e coordenador do Observatório Afro-Brasileiro,
concorda com Soares: "Não
existe um único vetor a explicar
a desigualdade. Mas é fato que
existe um modelo brasileiro de
relações raciais que tende a naturalizar para os negros um
perfil de trabalho de baixa escolaridade e rendimento. Isso
cria uma situação de tal maneira envolvente que a desigualdade vai fazendo parte da paisagem e encarada como algo natural. Se eu entrar na Universidade Federal do Rio de Janeiro
e vir uma sala só com negros,
vou achar isso estranho. Se for
só com brancos, no entanto, todos acham natural".
Desigualdade menor
Soares cita outra pesquisa, do
Ipea (Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada), feita pelos pesquisadores Maurício
Cortez Reis e Anna Risi Crespo,
que também investigou o assunto. Esse estudo mostrava,
no entanto, que a desigualdade
no rendimento entre negros e
brancos estava diminuindo
quando se comparavam duas
gerações diferentes.
O estudo também mostrava
que, de 1990 a 2002, o melhor
acesso à educação das populações pretas e pardas estava diminuindo a diferença dos rendimentos explicada pela discriminação racial ou por razões
que não são captadas por levantamentos estatísticos.
Em 2002, essa pesquisa concluía que 71% da diferença salarial entre trabalhadores de 24 a
26 anos estava relacionada a fatores como educação, região,
setor de atividade e posição na
ocupação. Ou seja, 29% da desigualdade era explicada pela discriminação ou por outros fatores. Em 1990, o peso da discriminação era maior: chegava a
35%.
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