São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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Escolaridade é principal fator de menor renda paga aos negros

DA SUCURSAL DO RIO

A comparação simples da renda entre negros e brancos não permite, isoladamente, dizer o quanto dessa diferença é explicada pela desigualdade no acesso à educação e o quanto ela é motivada pela discriminação racial no mercado de trabalho. Outros estudos que tentaram chegar mais próximo dessa resposta sugerem que os dois fatores têm impacto, mas é a escolaridade o que mais explica.
Essa é a opinião, por exemplo, do pesquisador Sergei Soares, autor de estudos sobre o tema. Para ele, não há dúvidas de que a maior parte do diferencial é explicada pelo acesso diferenciado à educação. Ele sustenta, no entanto, que há também um efeito de discriminação no caso de negros que ascendem socialmente.
"A sociedade atribui uma série de tarefas que, se espera, seriam de negros, como carregar saco de cimento, pegar na enxada ou fazer serviços domésticos. Ninguém acha estranho ver negros nessas funções, mas, se um deles vira gerente de banco, isso chama a atenção", afirma.
Marcelo Paixão, economista da UFRJ e coordenador do Observatório Afro-Brasileiro, concorda com Soares: "Não existe um único vetor a explicar a desigualdade. Mas é fato que existe um modelo brasileiro de relações raciais que tende a naturalizar para os negros um perfil de trabalho de baixa escolaridade e rendimento. Isso cria uma situação de tal maneira envolvente que a desigualdade vai fazendo parte da paisagem e encarada como algo natural. Se eu entrar na Universidade Federal do Rio de Janeiro e vir uma sala só com negros, vou achar isso estranho. Se for só com brancos, no entanto, todos acham natural".

Desigualdade menor
Soares cita outra pesquisa, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), feita pelos pesquisadores Maurício Cortez Reis e Anna Risi Crespo, que também investigou o assunto. Esse estudo mostrava, no entanto, que a desigualdade no rendimento entre negros e brancos estava diminuindo quando se comparavam duas gerações diferentes.
O estudo também mostrava que, de 1990 a 2002, o melhor acesso à educação das populações pretas e pardas estava diminuindo a diferença dos rendimentos explicada pela discriminação racial ou por razões que não são captadas por levantamentos estatísticos.
Em 2002, essa pesquisa concluía que 71% da diferença salarial entre trabalhadores de 24 a 26 anos estava relacionada a fatores como educação, região, setor de atividade e posição na ocupação. Ou seja, 29% da desigualdade era explicada pela discriminação ou por outros fatores. Em 1990, o peso da discriminação era maior: chegava a 35%.


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