São Paulo, sábado, 18 de novembro de 2006

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"Você sente o preconceito quando ascende"

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Até os 14 anos, Edison Carlos Souza Dias passava as férias escolares ajudando o pai, que era pedreiro e trabalhava em Itaquera (zona leste da capital paulista), bairro onde a família vivia. Depois, foi aprendiz numa marcenaria até entrar no colegial, quando trabalhou em uma construtora como office-boy.
Embora semi-analfabeto, o pai insistiu em que os seis filhos estudassem. Foi o que fez a diferença. Aos 57 anos, Souza Dias é diretor para médias empresas em São Paulo do HSBC, mora no Jardim Anália Franco (bairro nobre da zona leste) e tem dois filhos na faculdade.
A ascensão começou quando ele entrou em administração na Esan (Escola Superior de Administração de Negócios), da Fundação de Ciências Aplicadas, e ingressou no Unibanco como auxiliar de RH. Com algumas transferências e promoções, chegou à gerência de banco. "Foi uma grande base. Descobri aonde queria atuar, fui treinado e cheguei a um posto."
Segundo ele, é quando a vida começa a melhorar que se verifica a discriminação. "A periferia nivela. Você começa a sentir o preconceito quando começa ascender. O negro tem de mostrar mais resultados, se empenhar mais", avalia. Para ele, nos processos de recrutamento e seleção se esconde o racismo velado. "Provavelmente, deixei de ascender a alguns cargos sem que soubesse que estava concorrendo a eles. Misturar é muito complicado: é fácil ser amigo de negro, mas casar com um é outra coisa."
Certa vez, conta, foi agredido frontalmente por um diretor de uma das instituições financeiras em que era superintendente. "A reunião começou a ficar acalorada, discutidos e ele me chamou de "negro de m...". Todos ficaram mudos, a situação foi de extremo constrangimento. Ele teve uma punição, mas conseguiu manter o emprego. Fizeram-no pedir desculpas. A presidência do banco me chamou e ressaltou que aquela atitude do diretor não condizia com os valores do banco", conta. (JG)


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