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"Você sente o preconceito quando ascende"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Até os 14 anos, Edison Carlos Souza Dias passava as férias escolares ajudando o pai,
que era pedreiro e trabalhava
em Itaquera (zona leste da
capital paulista), bairro onde
a família vivia. Depois, foi
aprendiz numa marcenaria
até entrar no colegial, quando trabalhou em uma construtora como office-boy.
Embora semi-analfabeto,
o pai insistiu em que os seis
filhos estudassem. Foi o que
fez a diferença. Aos 57 anos,
Souza Dias é diretor para
médias empresas em São
Paulo do HSBC, mora no
Jardim Anália Franco (bairro nobre da zona leste) e tem
dois filhos na faculdade.
A ascensão começou quando ele entrou em administração na Esan (Escola Superior
de Administração de Negócios), da Fundação de Ciências Aplicadas, e ingressou
no Unibanco como auxiliar
de RH. Com algumas transferências e promoções, chegou à gerência de banco. "Foi
uma grande base. Descobri
aonde queria atuar, fui treinado e cheguei a um posto."
Segundo ele, é quando a vida começa a melhorar que se
verifica a discriminação. "A
periferia nivela. Você começa a sentir o preconceito
quando começa ascender. O
negro tem de mostrar mais
resultados, se empenhar
mais", avalia. Para ele, nos
processos de recrutamento e
seleção se esconde o racismo
velado. "Provavelmente, deixei de ascender a alguns cargos sem que soubesse que estava concorrendo a eles. Misturar é muito complicado: é
fácil ser amigo de negro, mas
casar com um é outra coisa."
Certa vez, conta, foi agredido frontalmente por um
diretor de uma das instituições financeiras em que era
superintendente. "A reunião
começou a ficar acalorada,
discutidos e ele me chamou
de "negro de m...". Todos ficaram mudos, a situação foi de
extremo constrangimento.
Ele teve uma punição, mas
conseguiu manter o emprego. Fizeram-no pedir desculpas. A presidência do banco
me chamou e ressaltou que
aquela atitude do diretor não
condizia com os valores do
banco", conta.
(JG)
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