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Leia o pronunciamento do presidente Fernando Henrique Cardoso
Leia a seguir o discurso do presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, na cerimônia de
inauguração da fábrica Volkswagen/Audi em São
José dos Pinhais (PR):
Senhor governador do Estado do Paraná, meu companheiro Jaime Lerner, senhores ministros de Estado, senhor presidente da Volkswagen do Brasil,
Herbert Demel, senhor presidente do Conselho de
Administração do Grupo Volkswagen, Klaus Liesen, senhores parlamentares, senhores embaixadores, prefeitos, empresários, senhoras e senhores.
Já me sinto quase um munícipe de São José dos
Pinhais. O prefeito há de me desculpar essa intenção
do presidente da República nos seus domínios, considerando-se como se fosse filho de São José dos Pinhais e, portanto, de Curitiba, que está logo ao lado.
Mas é a segunda vez, como disse o governador Jaime
Lerner, que tenho o prazer de pisar o solo paranaense e de pisá-lo para, num gesto simbólico -que não
é meu, é de todos nós- inaugurarmos uma nova fábrica.
Quero agradecer, em primeiro lugar, às referências que foram feitas pelos que me antecederam, fazendo uso da palavra, a mim pessoalmente, ao Brasil
e ao Paraná. E quero lhes dizer do simbolismo de
que se reveste o fato de o presidente da República
voltar ao Paraná, para a inauguração de uma fábrica
de automóveis.
A referência que foi feita ao fato de que há algumas décadas outro presidente, por quem tenho
grande admiração, Juscelino Kubitschek, inaugurou
a Volkswagen, num momento de transformação do
Brasil, se reveste hoje, esse simbolismo, de um significado muito especial, porque todos os oradores
aqui se referiram às tensões, às turbulências, às dificuldades pelas quais a economia internacional passa, seus reflexos sobre o Brasil e pelas quais, por consequência, o nosso país também está passando.
Mas é de dar alegria ao presidente da República
ver que, no mesmo momento em que nós nos jogamos todos, com muita energia, para proteger as nossas reservas, para manter a nossa capacidade de desenvolvimento, ver que, materialmente, as fábricas
continuam avançando. E o que mais me deixa feliz
nesta fábrica é que ela introduz conceitos nossos.
Aqui, há a preocupação com o meio ambiente. Aqui,
há a preocupação em abrigar trabalhadores de uma
maneira que seja a mais aprazível possível. E, sobretudo, como foi dito pelo diretor da Volkswagen do
Brasil, aqui há preocupação com a manutenção do
emprego para o trabalhador. Isso é muito importante para o Brasil.
Assim como é importante que nós brasileiros não
percamos o rumo, a confiança, tenhamos energia
para seguir adiante independentemente de turbulências, é importante que cada empresário se sinta
comprometido, não apenas com o que é seu dever
também, de produzir lucros, mas se sinta comprometido com a mudança da sociedade, do estabelecimento de uma forma de relação com o país, com os
trabalhadores, com os empregados em geral, com as
outras empresas, com os governos, que seja uma
forma de relação positiva.
Tenho confiança neste país e repetirei o que li, ontem, numa entrevista dada por uma das pessoas que
mais me ajudaram na formulação do Plano Real,
que foi o economista Edmar Bacha. Ele disse que nós
podemos estar marcando o ressurgimento do Real.
Tomara seja assim. Tomara que as dificuldades que
nós estamos enfrentando, com firmeza, com tranquilidade, com coragem e decisão permitam abrir
aquilo que nós todos queremos: novos espaços para
o desenvolvimento econômico, gerar mais empregos e possibilitar a este país seguir avançando sempre.
Tenho convicção de que o faremos. E a convicção
não deriva pura e simplesmente de um temperamento otimista. Deriva de ver, como vejo no Brasil
todo, fábricas se criando, fontes de energia sendo
geradas, estradas sendo construídas, portos se modernizando, escolas se ampliando, aumentando a
educação das crianças e dando melhor condição de
saúde, atendendo aos reclames justos de reforma
agrária. Portanto há um país que se movimenta e esse movimento, esse ímpeto de desenvolvimento,
agora tem novas oportunidades.
Não gosto de ser criador de ilusões. Seria falso e
não renderia efeito positivo deixar de dizer que o
momento requer de todos nós, brasileiros. Como
aqui também, simbolicamente, está se fazendo nesta
solenidade singela, austera consciência do nosso dever, responsabilidade e noção de que nós teremos
que ser austeros no manejo da vida pública e, sobretudo, no equilíbrio dos Orçamentos.
Esta tarde, ainda terei uma reunião com o presidente da Câmara e com o presidente do Senado. Depois, teremos oportunidade de falar com a imprensa, a respeito do que vamos conversar. Mas tenho a
convicção de que, com essa decisão que se sente neste país, de seguir adiante, que o Brasil não perderá
mais essa oportunidade. Estará sempre preparado
para fazer o ajuste necessário das contas públicas,
para que possamos, aí, sim, determinar por nós próprios o nosso destino.
A mudança que propugnamos, na semana passada, aumenta a nossa responsabilidade de brasileiros.
Se, antes, estávamos todos nós, brasileiros, de olhos
fixos para ver até que ponto as reservas se esvaíam
ou não, se o capital especulativo ajudaria ou não, daqui para a frente nós temos que estar de olhos fixos,
para fazer o que disse o governador Jaime Lerner:
"Impedir que se aproveitem do momento para aumentar preços, desnecessariamente". Nós não vamos deixar que haja carestia neste país. Tenho experiência nisso. Fui ministro da Fazenda quando a inflação crescia aos milhares por ano. Quando todos
diziam que era impossível controlá-la, nós a controlamos. Agora, é muito mais fácil. Que não se iludam
os incautos que queiram se precipitar e tirar vantagens à custa do povo. O poder de compra do salário
do trabalhador será a "menina dos olhos" da política
econômica do nosso governo. Estaremos atentos
para manter o Brasil, na possibilidade de continuar
-não apenas crescendo-, mas fazendo com que
esse crescimento seja sentido como um benefício
para o povo. É nesse sentido que Edmar Bacha falou,
que nós temos melhores condições para um renascimento do Real. Só que agora, completando o que eu
disse, nós precisamos perceber que tudo vai depender de decisões, que são nossas. E que, se antes se
olhava para o câmbio, há de se olhar agora para a verificação dos ajustes necessários. E me alegra ver o
governador Jaime Lerner se colocando aqui, ao nosso lado, para que os ajustes possam ser feitos, como
devem ser feitos, para que o Brasil se liberte das taxas de juros, e não serão menores se nós não conseguirmos, efetivamente, ajustar as nossas contas.
Não há mais desculpa. Não adianta olhar para fora.
Agora, é aqui dentro. Agora, é o Congresso Nacional. Agora, é o governo federal. Agora, são os governos estaduais. Agora, é a nossa competência e, neste
momento, mantemos uma linha de austeridade,
mas com esperança. Com firmeza, mas com compreensão de que abrimos espaço para o futuro.
Esta fábrica, senhores representantes da Volkswagen, vem num momento encorajador. E essa alusão, que aqui foi feita, ao Mercosul é muito apropriada. Nós, aqui no Paraná, e aqui, no Brasil, nos
sentimos orgulhosos do Mercosul. E o Paraná, cada
vez mais, é um ponto de gravidade neste Mercosul.
Não se pensa apenas num mercado, que já é imenso
no Brasil, pensamos no mercado do Mercosul. E não
basta o Mercosul. Pensamos no mercado da América do Sul. Tem razão os senhores em investir aqui.
Ganharemos todos, ganharão os senhores também.
Ganharemos nós, na medida em que aprendamos
melhores tecnologias, como aqui se aventuram já,
no caminho do desenvolvimento da mais absoluta
vanguarda, no nível mundial. Mas isso tudo requer
uma ação que seja uma ação coordenada, que ultrapasse os limites da fronteira nacional, e o Mercosul é
muito importante.
E também espero que a Alemanha, como aqui foi
dito, ao exercer a presidência da União Européia,
nos próximos meses, nos ajude. Teremos uma reunião no Rio de Janeiro, em junho. É uma reunião
muito importante entre os presidentes da União Européia e os presidentes da América Latina. Nós precisamos forjar mais alianças. Alianças construtivas,
alianças que dêem tranquilidade da continuidade
desses programas de investimentos, de intercâmbio,
de uma expansão crescente. Os senhores que estão
aqui produzindo no Brasil sabem que mais do que
nunca o Brasil precisa exportar e para isso nós precisamos, efetivamente, de um entendimento crescente com a União Européia. Precisamos derrubar as
barreiras protecionistas que ainda existem e precisamos avançar mais e mais. Eu tenho certeza de que
o senhor Scheöder será sensível a nossa argumentação, porque a Alemanha não é dos países que erigem
barreiras a nossa exportação. Nem sequer a nossa
exportação agrícola. Há portanto, caminhos auspiciosos de futuro.
Quero agradecer uma vez mais a presença de todos. Dizer, mais uma vez, do meu muito obrigado.
Não esquecer nunca que, para produzir uma fábrica
com rapidez e, desse porte, foi preciso também que
outras empresas se juntassem à Volkswagen e à Audi. Que houvesse empreiteiras que trabalhassem
com trabalhadores competentes e que, agora, os fornecedores de peças também se juntem, aqui, para
que nós possamos continuar avançando.
E, se uma alegria eu tenho é de, sendo de São Paulo, verificar que, hoje, a indústria brasileira se espalha pelo Brasil realmente. É um movimento, realmente, imenso em várias partes do Brasil, da implantação de novas fábricas. Aqui, R$ 750 milhões,
por enquanto, eu espero. Mais reais virão, ou dólares. Três mil empregos diretos, 10 mil empregos indiretos.
Façamos um esforço, aqueles que estão localizados nas regiões que não estão nessa vanguarda das
fábricas novas, de entender que o capital mais precioso é o humano. E, antes de dispensar o empregado da região atingida pela crise e pela transformação
da indústria brasileira, pense nele, pense no Brasil,
faça negociações, aceite discussão e permita que haja uma confiança crescente, não apenas daqueles
que estão nas fábricas novas, mas daqueles que continuam nas fábricas antigas, sem as quais as novas
não teriam chegado e que precisam de nosso apoio e
da nossa solidariedade.
É com esse espírito de brasileiro que eu digo:
"Danke schön! Auf Wiedersehen!".
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